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Congresso Indústria Digital 2025: a estratégia da indústria na era digital, da IA à Reforma Tributária

Por: Júlia Rondinelli

Editora-chefe da redação do E-Commerce Brasil

Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero e especialização em arte, literatura e filosofia pela PUC-RS. Atua no mercado digital desde 2018 com produção técnica de conteúdo e fomento à educação profissional do setor. Além do portal, é editora-chefe da revista E-Commerce Brasil.

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A indústria brasileira reafirmou seu compromisso com a transformação digital durante o Congresso Indústria Digital 2025, realizado pelo E-Commerce Brasil. O evento serviu como um panorama das mudanças que estão redefinindo o setor, destacando a centralidade do e-commerce, a força da Inteligência Artificial e o impacto das novas regulamentações.

Plenária principal do Congresso Indústria Digital 2025/Imagem: Carol Guasti Fotografia

O Congresso reuniu mais de 4 mil inscritos, sendo 77% dos participantes executivos que ocupam cargos de liderança em empresas relacionadas ao comércio eletrônico ou à indústria brasileira, como C-Levels, Diretores, Gerentes e Coordenadores. 

Destes, o segmento que mais se destacou entre os presentes foi o de Moda e Beleza. Prova disso são as indústrias que ingressam diretamente em marketplaces, além do site próprio e o uso de revendedores autorizados. Dados da Circana apontam que a América Latina registrou crescimento em 18% nas vendas de produtos de Beleza no 1º trimestre de 2025. A pesquisa mostra ainda o que está mais exigente, informado e propenso a testar antes de comprar.

Vale destacar também a forte presença de outros setores, como Saúde e Farma, Serviços, Tecnologia e Casa e Decoração, Construção, Luxo, Pet e Automotivo, que se beneficiam diretamente, de uma forma ou de outra, dos conteúdos abordados no evento.

Em segundo lugar, vale destacar o segmento de Alimentos e Bebidas, que vem puxando o crescimento das vendas online desde o ano passado. Dados da Nielsen apontam que a categoria de Alimentos obteve um crescimento de 18,4% no faturamento bruto de 2024, impulsionada pela crescente demanda por produtos de giro rápido (FMCG).

Outros segmentos com menor participação, porém com bastante relevância para o varejo, mostram como o evento é diversificado e atende às demandas de uma gama elevada do segmento industrial: Agropecuária,, Brinquedos, Móveis, Têxtil, Cosméticos, Higiene, Eletrônicos e Eletrodomésticos.

Segundo Fernando Nagamine, Diretor Executivo do E-Commerce Brasil, “o Congresso Indústria Digital superou as expectativas, consolidando o papel da transformação digital na Indústria como um pilar de crescimento sustentável e competitivo para a economia brasileira”. E acrescenta que: “O evento abordou a diversos temas, como automação, IA e análise de dados, atuando como um catalisador para a competitividade e contribuindo para um ecossistema mais resiliente. O investimento em conhecimento e networking promovido aqui é um ativo intangível que acelera a maturidade do nosso mercado e fortalece ou formar parcerias estratégicas”

“Em síntese, o evento reforça a tese de que investir na digitalização, pelas Indústrias no Brasil, transforma o potencial de mercado em resultados financeiros concretos e duradouros”, conclui. 

De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), em 2024, a indústria (setor geral) foi responsável por 24,7% do PIB brasileiro, o que equivale a R$ 2,88 trilhões. Nos últimos anos, a Indústria passou a ganhar relevância também por seu papel no e-commerce e na digitalização de diversos meios de produção. 

O novo B2B: conveniência, confiança e o fim do “Tirador de Pedidos”

O foco principal do Congresso foi a revolução no relacionamento B2B. A nova jornada de compra é marcada pela busca de conveniência, autonomia e uma experiência digital semelhante à do varejo.

Thaise Hagge, fundadora e managing director do Compra Agora, ressaltou que o setor movimenta cerca de R$ 2,3 trilhões anualmente no Brasil, e o novo comprador B2B exige estratégias mais integradas e orientadas por dados. Para ela, “a jornada híbrida, que combina o online e o offline, tornou-se indispensável para fidelização”, e o vendedor precisa assumir o papel de consultor digital.

Essa visão foi complementada por executivos da MBRF, que detalharam o sucesso do e-commerce B2B na indústria de alimentos. Juliana Ribeiro, Head Omnichannel da MBRF, enfatizou que o engajamento do time comercial é essencial, e o canal digital “não substitui, mas complementa: ele agrega no mix e na frequência de compra”, resultando em maior valor para os clientes híbridos. Eles reforçaram que a experiência omnichannel é a melhor forma de explorar a força da solução digital com a conexão humana.

Inteligência Artificial: otimizando processos e personalizando a experiência

A Inteligência Artificial foi apresentada como o motor para aprimorar as jornadas interna e externa das indústrias.

Marcelo Miola, CDO e CISO do Grupo Boticário, exemplificou como a IA é aplicada de ponta a ponta na companhia, desde a cadeia de suprimentos até a experiência do cliente, onde a tecnologia "aprimora processos como descrição acessível de imagens, personalização no app, site e loja, promoções customizadas e moderação automática de reviews". 

Ele concluiu que “a jornada digital sai do contexto de catálogo e entra no universo da consultoria”. Esse é o futuro da experiência de compra no setor de beleza”. Miola salientou que o maior potencial da IA está em “melhorar a experiência e a eficiência operacional, reduzindo a dispersão”.

Na MBRF, a IA também é fundamental para a hiperpersonalização no B2B, sendo responsável por implementar dinâmicas como “o pedido sugerido, a busca inteligente e as promoções personalizadas”, segundo os executivos da empresa.

D2C, marketplaces e a aposta na exportação

A expansão de canais e a busca por novos mercados também dominaram os debates.

No D2C (Direct-to-Consumer), executivos da Amazon, Magalu e Shopee ofereceram um guia prático para as indústrias. Leila Carcagnoli, líder de Categoria na Shopee, destacou que o retail media é o principal instrumento de relacionamento, mas que o vínculo se fortalece com "cuidado, suporte e acompanhamento profissional". 

Kael Lourenço, diretor de Marketplace no Magalu, citou o sortimento bem-planejado e a presença de marca como pilares, pois o consumidor atual tem uma jornada não linear. Leandro Salles, líder de Bens de Consumo na Amazon, focou na eficiência logística, destacando o FBA (Fulfillment by Amazon) como um diferencial estratégico que soluciona gargalos operacionais na migração para o D2C.

Já no âmbito da internacionalização, a ApexBrasil anunciou, por meio de Rita Albuquerque, Coordenadora de Competitividade, o lançamento da “Bolsa Exportação”. A iniciativa é um incentivo para lojistas e plataformas que desejam atuar no mercado internacional, oferecendo reembolso de até R$ 20 mil para custear serviços, visando expandir o número de exportadoras brasileiras.

Reforma Tributária: simplificação e benefícios para a indústria

O ambiente regulatório também esteve em pauta. Rogério David, especialista e advogado da David & Athayde Advogados, analisou o impacto da Reforma Tributária e afirmou que a vê “com bons olhos para a indústria, sorte que outros setores não tiveram”.

Ele explicou que a reforma prevê a extinção de impostos como PIS e COFINS e a implementação do IVA dual (CBS/IBS), o que gerará uma redução no resíduo tributário ao longo da cadeia. Segundo David, com a simplificação e o fim da guerra fiscal entre estados, "possivelmente, veremos a indústria atendendo diretamente ao consumidor final com mais agilidade". 

O advogado concluiu que a mudança “não se trata apenas de uma mudança de nome, mas de uma mudança prática na arrecadação”.