A Inteligência Artificial (IA) Generativa vem alterando de forma acelerada a dinâmica de descoberta de produtos, tráfego digital e comportamento de compra no Brasil. A constatação é de um estudo realizado por Cadastra e Similarweb, que considerou dados de janeiro de 2023 a agosto de 2025, cobrindo 600 sites e mais de 12 mil palavras-chave monitoradas.

O levantamento indica que o uso de IA Generativa não substitui o Google, mas amplia os métodos de busca. Enquanto o Google teve leve retração de 0,88% no período, o ChatGPT cresceu 71,9% e atingiu 1,97 bilhão de visitas — apenas entre janeiro e agosto de 2025. No Brasil, a plataforma concentra 67% do tráfego de ferramentas de IA, com média de 252,9 milhões de visitas mensais.
Um dos efeitos diretos dessa mudança é a queda de cliques tradicionais em buscadores. Apenas quatro meses após começarem a usar o ChatGPT, usuários passaram a clicar 26% menos em links do Google, segundo dados apresentados no estudo.
Tráfego qualificado e impacto no e-commerce
Entre janeiro de 2023 e agosto de 2025, os 10 maiores e-commerces brasileiros receberam mais de 6,1 milhões de visitas a partir de links do ChatGPT. O Mercado Livre lidera o ranking, com 1,8 milhão de acessos vindos da IA, seguido por OLX (914 mil) e Amazon (840,9 mil).
Essa migração de etapas da jornada de compra para dentro das plataformas de IA reforça a adoção do GEO (Generative Engine Optimization), disciplina que reorganiza a lógica de otimização de conteúdo — antes centrada em palavras-chave e CTR — para priorizar menções, contexto e capacidade de uma página ser compreendida e referenciada pelos modelos generativos.
Setores mais impactados
O estudo também mapeia o comportamento dos consumidores em quatro categorias:
Beleza: volume moderado, com forte presença de buscas ligadas a sustentabilidade e disponibilidade de produtos — refletindo jornadas híbridas entre on e offline.
Farmácia: setor altamente consolidado; três players concentram 70% do tráfego de IA. As consultas são dominadas por comparação de preços e informações sobre medicamentos.
Moda: destaque para a Enjoei, líder em referrals, reforçando o peso da revenda entre consumidores mais jovens. As buscas incluem tendências, programas de fidelidade e disponibilidade de itens.
Viagens: mobilidade urbana supera hospedagem e passagens aéreas, mostrando que a IA também responde a demandas cotidianas. As consultas vão de recomendações de destinos a dúvidas operacionais.
Nova lógica de busca
As plataformas de IA induzem consultas mais longas (em média, 23 palavras, contra 4 no SEO tradicional) e sessões mais profundas, superiores a sete minutos. O estudo destaca que a busca se tornou “conversacional”, com respostas contextuais, personalizadas e construídas a partir de múltiplas fontes.
Essa dinâmica também fortalece o papel da IA como mecanismo de recomendação ativa. Os modelos passam a avaliar marcas, interpretar intenção de compra e ajustar sugestões conforme o feedback do usuário.
Brasil no centro da transformação
O país já é o terceiro maior mercado em volume de tráfego para ferramentas de IA Generativa, atrás apenas dos Estados Unidos e Índia. Segundo o estudo, isso cria um ambiente favorável para que empresas brasileiras liderem a adoção de práticas de GEO.
Dicas para o varejo
A pesquisa lista pontos de atenção para quem deseja otimizar presença em plataformas de IA, como:
- Organizar conteúdos para leitura por LLMs (FAQs, tabelas, glossários, comparativos);
- Reforçar páginas transacionais com dados estruturados;
- Ampliar reviews e conteúdos gerados por usuários;
- Integrar informações omnichannel, como estoque e localização;
- Responder perguntas complexas de forma clara e objetiva.
Casos como Natura e Walmart ilustram o movimento. Ambas desenvolveram sistemas de busca baseados em linguagem natural, capazes de ampliar resultados e tornar experiências de compra mais eficientes.