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Conferência Santa Catarina 2024: especialistas dão aula dos fatores de sucesso para o e-commerce

Por: Júlia Rondinelli

Editora-chefe da redação do E-Commerce Brasil

Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero e especialização em arte, literatura e filosofia pela PUC-RS. Atua no mercado de e-commerce desde 2018 com produção técnica de conteúdo e fomento à educação profissional do setor. Além do portal, é editora-chefe da revista E-Commerce Brasil.

Frete, cross-border, CS, social commerce e retail media… Esses foram alguns dos assuntos de destaque da Conferência Santa Catarina 2024. No segundo dia de palestras, os mantenedores do projeto expuseram soluções e estratégias práticas para facilitar as operações dos lojistas, com insights exclusivos para o estado e região Sul do país.

Confira abaixo os conteúdos apresentados pelos Correios (patrocínio), Globalfy, SELIA Fullcommerce Powered by Luft, Platinum Log, Pneubest (cliente Americanas), Nuvemshop e Enext (mantenedores).

Um dos conceitos abordados com maior veemência pelos executivos presentes foi o papel da logística na construção de um bom relacionamento com o cliente e sucesso do e-commerce. Carlos Eduardo Altieri Pollezi, Subgerente de Desenvolvimento de Mercado dos Correios, foi quem deu uma aula sobre este tema.

executivo participou do evento para falar sobre as particularidades da entrega no Brasil
arlos Eduardo Altieri Pollezi, Subgerente de Desenvolvimento de Mercado dos Correios – onferência Santa Catarina 2024

As pesquisas, inclusive, reforçam que a logística é um fator precioso na decisão de compra. De acordo com a 121 Labs, 43% dos consumidores preferem pagar até 10% a mais no frete em busca de boas experiências. Além disso, segundo a Opinion Box, 9% dos consumidores preferem comprar online e retirar na loja física no Dia das Mães, próxima data relevante para o varejo.

“Uma parte significativa dos brasileiros deixa para comprar os produtos para datas comemorativas na semana em que elas acontecem, o que exige estratégias de frete mais premium, mais sofisticadas, rápidas, ou diversificadas”, pontua Pollezi.

Posicionamento estratégico de estoque

Realizar uma análise do perfil de carga pode ajudar o lojista a economizar e até mesmo cobrar fretes mais baratos ao posicionar os estoques de acordo com o perfil consumidor de cada estado, ou até mesmo de cada região, tendo em mente que deslocamentos maiores geram entregas mais demoradas e caras.

O famigerado frete grátis

“É inegável o poder de conversão do frete grátis, mas a comunicação da campanha com o uso de gatilhos mentais é essencial para que ele seja rentável para o e-commerce”, ele argumenta.

Na semana da realização do Dia do Frete Grátis, algumas estratégias como um carrinho com determinado número de itens, ou ticket mínimo, podem ajudar a pagar o custo que uma entrega grátis gera para a operação.

Levando em consideração um dado da IAB Brasil, que mostra que 71% dos consumidores são atraídos por anúncios de frete grátis, estruturar modelos com esse benefício é de extrema importância em diversos segmentos online.

A reversa

Alguns segmentos, como Moda e Acessórios (categoria de destaque em Santa Catarina), tem uma taxa de troca e devolução muito altos. Porém, com o aumento da maturidade da loja, ou até mesmo a segurança do consumidor no e-commerce, a reversa deveria ser vista até como uma oportunidade.

Neste cenário, a embalagem também é muito importante nesta jornada do cliente, uma vez que ela é a “materialização do contato da loja com o consumidor” e precisa garantir a integridade do produto até a sua entrega e também a facilidade de devolução deste produto caso a reversa seja acionada.

E quando o processo envolve internacionalização do e-commerce?

Foi sobre isso que Pedro Henrique Benicio Santana, Head de Marketing da Globalfy, palestrou, porém sob o ponto de vista do marketing.

Pedro Henrique Benicio Santana, Head de Marketing da Globalfy
Pedro Henrique Benicio Santana, Head de Marketing da Globalfy

Em primeiro lugar, por que internacionalizar seu negócio? Para o executivo, um dos principais motivos é lucrar duas vezes (ou mais) com datas sazonais e com a sazonalidade reversa (uma vez que o verão do hemisfério sul é o inverno do hemisfério norte). Outro fator relevante é faturar em outra moeda (sobretudo o dólar).

Com base no faturamento médio dos clientes Scale Globalfy que vendem nos Estados Unidos, há um aumento exponencial nas vendas ano a ano, o que pode significar uma dificuldade maior em um primeiro momento (até a marca se tornar conhecida), mas uma oportunidade depois da adaptação.

Vou vender nos EUA, e agora?

Essa parte de adaptação, inclusive, é a que o lojista precisa de mais ajuda: novas preocupações tributárias, uma logística completamente diferente, precificação condizente com a moeda e custo de importação, além da comunicação e atendimento, que devem ser personalizados.

Uma das maiores particularidades da venda nos Estados Unidos é considerar os marketplaces, que tem uma força expressiva com os consumidores norte-americanos, que já começam suas pesquisas dentro da plataforma. Considerar a venda direta e bons acordos com distribuidores (resellers, lojas de departamento e supermercados) também são pontos essenciais para o sucesso.

“O público é diferente, não é igual ao seu público-alvo, então é necessário repensar a comunicação”, conclui Santana.

A segunda venda é a da logística

E por falar em marketing, Angelo Vicente, CEO e Fundador da SELIA Fullcommerce Powered by Luft, uniu as duas temáticas anteriores em uma única palestra. De acordo com o especialista, “a primeira venda do e-commerce é do marketing, mas a segunda é da logística”, frase antecipada por Marcelo Vieira em sua palestra no dia anterior.

Angelo Vicente, CEO e Fundador da SELIA Fullcommerce Powered by Luft
Angelo Vicente, CEO e Fundador da SELIA Fullcommerce Powered by Luft

Em primeiro lugar, é preciso entender o ciclo do pedido: percepção, interesse, visita ao site (canal), página do produto (busca por especificações), carrinho, compra, análise de pagamento, envio, entrega e avaliação do cliente.

“O problema deste fluxo é que não entendemos a complexidade que está por trás deste ciclo”, argumenta Vicente.

Entre a percepção e o interesse, por exemplo, existe a parte de ads, com esforços em produção de vídeo, cuidado com as redes sociais e cuidado com os displays usados pelo consumidor, e assim por diante.

“O grande desafio é unificar a parte de marketing com a de operação, o que é complexo e depende de uma cultura omnichannel”.

Vicente argumenta que as políticas de troca e devolução viraram ferramentas de vendas e formas de conquistar a confiança do consumidor. É necessário, no entanto, ter uma capilaridade nos grandes centros que possibilite a agilidade deste processo.

Desafios do omnichannel

Como visto nas palestras do dia anterior, adotar a cultura omnichannel não é uma tarefa fácil, “mas é crucial adotar uma estratégia eficiente que integre on e off para ganhar escalabilidade e reduzir custos”, pontua.

Compreender onde está o consumidor e os produtos é um dos passos para localizar os estoques de forma estratégica e usar a inteligência artificial a favor do e-commerce.

De acordo com o executivo, a IA terá um impacto significativo na previsão de demanda e relação com o consumidor (seja ele final, ou por algum outro canal).

Por fim, ele elencou três pontos de atenção: gestão de provedores (muitas vezes vários ao mesmo tempo), tecnologia orientada a dados para o processo decisório, e, por fim, realizar a ponte entre o supply chain e o marketing.

Entrega é experiência

Para Arnildo Eger Filho, Diretor de Operações da Platinum Log, a logística, inclusive, é muito mais do que a entrega. Isso porque, para compreender a operação, é necessário olhar para os momentos que a antecedem: os bastidores. O cuidado, o olhar do cliente no pacote, a integração entre as etapas é parte fundamental da construção de uma malha logística.

Arnildo Eger Filho, Diretor de Operações da Platinum Log
Arnildo Eger Filho, Diretor de Operações da Platinum Log

Complementando o que foi dito por Angelo, Filho acredita que o lead time é o indicador mais importante do processo para a operação.

Mas afinal, o que é lead time?

Lead time nada mais é do que o tempo entre a compra do consumidor e a entrega do produto de fato. A premissa defendida pelo executivo é que para ter um lead time menor, é preciso otimizar processos e reduzir etapas desnecessárias.

É muito importante que tanto os sellers quanto os consumidores compreendam que a operação logística existe como uma co-gestão, uma parceria entre três agentes: o consumidor, o seller e a operação logística. Além disso, a logística precisa funcionar como o principal agente da credibilidade.

Ondas de corte

“Como suportar as datas comemorativas se não consigo priorizar?”, questiona Filho. A resposta para isso é saber organizar as saídas de acordo com a capacidade de dispersão do CD. Pedidos que chegam ao longo da tarde, por exemplo, podem ser deixados para à noite. Mas os pedidos que chegaram à noite e de manhã devem sair até às 14h para chegar o quanto antes para o consumidor. E isso só é possível visualizando todo o processo em tempo real.

A co-gestão da logística, por exemplo, se algo ficou para trás, os consumidores conseguem avisar a empresa, pois tudo é integrado.

O que é inteligência artificial?

Ela surgiu na década de 50, porém passou por alguns invernos até se tornar popular, pois a tecnologia para disponibilizá-la ainda não existia. Em termos simples, a IA é uma forma de ensinar computadores a “pensarem” como os seres humanos de forma prática e direta.

Foi sobre isso que Tiago Correa da Silva, Diretor de E-commerce da Pneubest, falou. Mesmo sem perceber, usamos muitas camadas de IA, como aplicativos de celular, redes sociais e algoritmos dos buscadores.

Tiago Correa da Silva, Diretor de E-commerce da Pneubest
Tiago Correa da Silva, Diretor de E-commerce da Pneubest

Ou seja, não é algo de hoje, mesmo que o termo tenha se popularizado de 2022 para cá. O que falamos agora é da Inteligência Artificial Generativa (GenIA), que é responsável por criar novos dados, assim como conteúdos originais com base nos padrões aprendidos nas informações disponíveis. O que antes era só auxílio inteligente programado, hoje cria com autenticidade.

O que isso tem a ver com o e-commerce?

Novos consumidores a veem como fonte de pesquisa, líderes a consideram primordial para desenvolver e escalar negócios e artistas se preocupam com os direitos autorais e com a legislação sobre até onde a IA é original.

“A IA não é de graça e não vai ser barata”, pontua Silva, uma vez que abarca outras funcionalidades além do Gemini e do ChatGPT. “A parte de desenvolvimento sempre foi muito lenta nas empresas, mas a IA ajuda os programadores a criar soluções com maior facilidade”. Mas ressalta: a IA é um co-piloto, ela auxilia o profissional.

“Precisamos aprender a usar a IA hoje para usufruir dela no futuro”, finaliza Silva.

Humanização e relação com o consumidor pelo social commerce

Tamires Barlette, Consultora Especialista em E-commerce da Nuvemshop, palestrou sobre o papel das redes sociais e novos formatos de venda no digital. Como fundadora da TAMIB STORE, uma marca de moda, Barlette conseguiu aplicar na prática o que estudava como especialista em e-commerce.

Tamires Barlette, Consultora Especialista em E-commerce da Nuvemshop
Tamires Barlette, Consultora Especialista em E-commerce da Nuvemshop

Desde a pandemia, o e-commerce ganhou espaço entre os consumidores brasileiros e quase dobrou de 2019 para 2021. “Achamos que quando a pandemia começou os consumidores focariam apenas nos produtos essenciais, mas fomos surpreendidos com o avanço das compras online e tínhamos uma Black Friday por dia”.

Outra mudança significativa foi a valorização das relações pessoais e familiares, bem como o bem-estar e conforto. As redes sociais foram (e ainda são) muito relevantes nessas situações, inclusive com o boom dos influenciadores digitais. O e-commerce não ficou de fora: de acordo com a Opinion Box, 58% das pessoas já compraram via WhatsApp e 47% via Instagram.

Para o lojista, essa integração deve ser feita via API para que as atualizações sejam feitas automaticamente e a rede esteja conectada à loja.

Fazer parte

Mesmo com as aplicações e, como visto, o avanço da IA no e-commerce, conversar com o consumidor ainda é muito importante e responsável por fechar compras. É aí que entra o conversational commerce e o WhatsApp é a principal ferramenta escolhida por consumidores e empreendedores.

Além de conversar, outra funcionalidade que auxilia nessa relação com o consumidor é a live commerce, que bombaram durante a pandemia (crescimento de 78% de acordo com a Online Dasher). Dois dos principais trunfos do live commerce é incentivar a compra por impulso e garantir a humanização da marca.

Os vídeos viraram o formato preferido de muitos internautas (reels, TikTok, YouTube), mas vários e-commerces estão aproveitando essa ferramenta para “transmitir informações de forma clara e envolvente, permitindo que o consumidor tenha a sensação de estar sendo atendido, como aconteceria no varejo físico e presencial”, pontua Barlette.

De olho no retail media

Por fim, Gabriel Lima, CEO da Enext, expôs cases e ideias de como o retail media é uma estratégia indispensável para o e-commerce.

Gabriel Lima, CEO da Enext
Gabriel Lima, CEO da Enext

3 grandes ondas da publicidade: a busca (de 2002 a 2016), o social media (2008 a 2019) e agora o retail media (2016 a 2021).

Somente nos Estados Unidos, os gastos com publicidade atingiram US$ 45,15 bilhões em 2023, aumento de aproximadamente 20% com relação a 2022.

Segundo a eMarketer, até 2027, o retail media deve movimentar até 106,12 mil milhões de dólares.

O cenário e o investimento no retail media cresceu e a tendência é crescer ainda mais, uma vez que os cookies estão com seus dias contados e o acesso e uso dos dados estão cada vez mais restritos justo quando são mais necessários.

Os anunciantes já investem neste canal, por diversos motivos, o principal deles é a eficiência. O anúncio apresentado no momento certo tem um potencial diferenciado de conversão. Os usuários mais receptivos tendem a ser 7 vezes mais convertidos pela publicidade.

Impacto no consumidor

No Mercado Livre, de acordo com um levantamento da Kantar, a visibilidade publicitária online gera uma lembrança de 27% online e 65% como um todo.

Os anúncios do Mercado Livre tem um potencial de conversão de 41% nas marcas que usam os anúncios e conquistam 26% dos brand lovers.

Três grandes pilares do retail media: comercial, mídia e marketing

Diferente de uma campanha tradicional, a campanha de retail media precisa estar alinhada com as metas comerciais da marca.

“O alinhamento entre a comunicação e operacional é fundamental, uma vez que o produto precisa estar disponível na ponta para aquele consumidor que foi impactado”, avisa.

Dica: levar em consideração as particularidades de cada marketplace, que usa estratégias diferentes e prioriza a visualização de públicos distintos.