A Coopératives U, quarta maior rede varejista da França, afirmou na terça-feira (16), que deixará de comprar produtos provenientes dos países do Mercosul. A decisão reacende o debate sobre o acordo comercial em tramitação na União Europeia e intensifica a pressão de agricultores franceses, que temem impacto direto sobre o setor.

O presidente-executivo da Coopératives U, Dominique Schelcher, disse à rádio RMC que a rede não pretende adquirir itens sul-americanos enquanto houver alternativas produzidas na França. Para ele, a relação comercial com o Mercosul criaria um ambiente de competição desigual.
“Não compraremos produtos da América do Sul enquanto houver produtos franceses equivalentes”, afirmou. “O Mercosul é como a Shein da concorrência desleal”, declarou, ao comparar o bloco à gigante asiática de e-commerce.
Segundo Schelcher, os agricultores europeus enfrentam normas e restrições rigorosas, enquanto produtos de fora do bloco chegam ao mercado europeu com menos exigências, o que configuraria “uma forma de concorrência desleal”.
Agricultores franceses ampliam pressão
As críticas se concentram no temor de que o acordo facilite a entrada de carne, arroz, mel e soja sul-americanos na Europa, enquanto o bloco exportaria automóveis e maquinário para o Mercosul. A avaliação entre setores agrícolas é de que a abertura comercial pode prejudicar produtores locais já pressionados por custos mais elevados.
“Quando se obriga os agricultores a produzir seguindo um certo número de normas e restrições, que são pesadas, mas podem chegar produtos com menos exigências, isso é uma forma de concorrência desleal. É preciso se proteger”, reforçou Schelcher.
França tenta adiar votação na União Europeia
A França vem articulando o adiamento da votação do acordo, prevista para esta semana no Conselho da UE. O objetivo é empurrar a análise para 2026, antes de eventual assinatura marcada para ocorrer durante a cúpula do Mercosul em Foz do Iguaçu.
Na segunda-feira, o presidente francês Emmanuel Macron reiterou a líderes europeus, em Berlim, sua posição contrária ao avanço do acordo. Segundo pessoas próximas, Macron avalia que as condições atuais não garantem proteção suficiente aos agricultores franceses, motivo pelo qual ele permanece contrário à assinatura “por enquanto”.
A manifestação da Coopératives U soma mais um capítulo à disputa, que agora envolve varejo, governo e setores produtivos, e reforça a tensão nas negociações entre União Europeia e Mercosul.