Em seu segundo relatório global sobre expansão de países emergentes, a Nuvei, fintech canadense de soluções de pagamento, divulgou as principais tendências que devem estar no radar das empresas que desejam investir no Brasil e na África do Sul. Presente em mais de 50 países pelo mundo, a fintech tem coletado informações relevantes sobre diversos mercados e suas particularidades de crescimento.

Divulgado em novembro de 2024, a edição anterior abordou Colômbia e Emirados Árabes Unidos e as próximas vão se debruçar no México e Hong Kong e depois, Chile e Índia.
Desta vez, a companhia conseguiu segmentar mais especificamente os pormenores do segmento no Brasil. De acordo com o que foi apurado, três tendências se destacam no e-commerce brasileiro: a ascensão do Pix, população jovem engajada com o consumo e um interesse constante da população em inovação. Divulgado hoje, 20, Daniel Moretto, vice-presidente sênior da Nuvei América Latina, comentou os dados com a imprensa.
Para ele, o relatório deixa nítido a importância dos pagamentos instantâneos e o foco em mobile first para as potências emergentes. “O Brasil é um ímã, se as empresas testam no Brasil e dá certo, expande-se para o resto da América Latina”, argumenta.
Tendências no Brasil
De acordo com os dados apurados, o e-commerce no Brasil deve alcançar US$ 585,6 bilhões até 2027, impulsionado pelo sucesso do Pix e pela forte adesão da população jovem à tecnologia . Este crescimento representa um aumento de 70% em relação a 2024, mesmo em um cenário em que o comércio eletrônico já apresenta crescimento de dois dígitos nos últimos anos.
O relatório da Nuvei aponta que o e-commerce brasileiro movimentou US$ 346,3 bilhões em 2024. Este crescimento expressivo, é atribuído à alta adesão dos brasileiros a novas tecnologias e a inovações em pagamentos, como o Pix. Para ilustrar o avanço recente do setor, o estudo destaca que em 2018 o e-commerce brasileiro movimentava US$ 85,5 bilhões – uma diferença de 585% com o esperado até 2027.
De olho no cross border e o papel de cada canal
As vendas transfronteiriças online também estão em ascensão, com expectativas de crescimento de US$ 26,6 bilhões em 2024 para US$ 51,2 bilhões em 2027 – 92% a mais. Segundo Moretto, a SHEIN hoje é uma das maiores companhias do portfólio da fintech, mas outras empresas grandes do mercado internacional têm buscado vender no Brasil, mesmo diante de um cenário de taxações.
“Os e-commerces de fora do Brasil, mesmo com as taxações, ainda tem um apetite grande em vender para o consumidor brasileiro, inclusive com novos entrantes. Estamos vendo e-commerces mais especializados entrando no mercado brasilero”, comenta Moretto.
Em contrapartida, a loja física não deve desaparecer completamente, mas virar um showroom, ou seja, uma forma de expor portfólio para o consumidor. “Vemos essa tendência principalmente para lojas que ofertam linha branca”, completa.
Os juros altos, por outro lado, impactam diretamente o varejo nacional. “Para o consumidor, ter uma gama maior de oportunidades para escolher, é algo positivo, pois garante menor preço e maior variedade. Para o varejista nacional, no entanto, a concorrência acaba sendo até ‘desleal’, pois as empresas de fora contam com estruturas diferentes para investir no Brasil”, argumenta Moretto.
Mesmo diante de um cenário desafiador, existem oportunidades. Segundo ele, muitas varejistas de vestuário precisaram se reinventar para reconquistar o público consumidor brasileiro nos últimos anos. “Ao mesmo tempo, é importante para o varejo nacional estar atento não só ao mercado interno, mas também a oportunidade de fazer o mesmo e se lançar em novos países”, ele sugere.
O Pix continua crescendo
De acordo com o Banco Central, o Pix hoje é usado por 90% da população adulta brasileira. Em termos de métodos de pagamento, espera-se que o Pix represente 50% das transações de e-commerce até 2027, segundo os dados do relatório da Nuvei.
Embora os cartões de crédito ainda tenham uma participação significativa, sua relevância está diminuindo gradualmente. “O Pix já passou por cima do cartão e débito, por exemplo, então acredito que tenha um potencial grande em superar o cartão de crédito em relação às compras recorrentes, mas precisamos esperar a adesão das pessoas às oportunidades que o Pix parcelado pode oferecer”, pontua Moretto.
Apesar de terem perdido participação no mercado, os cartões de crédito nacionais ainda representam cerca de 30% dos pagamentos em compras online em 2024 (34% em 2023) e devem chegar a 27% em 2027. Essa resiliência se deve à possibilidade de parcelamento, uma inclinação cultural que limita a expansão do BNPL (buy now, pay later) no Brasil. Enquanto em outros países o BNPL é comum, por aqui ele representa apenas 1% das transações, e esse percentual deve se manter nos próximos anos.
Mobile first
O relatório da Nuvei aponta também que os brasileiros preferem usar dispositivos móveis para compras, transações bancárias e pagamentos, buscando por experiências digitais perfeitas e em movimento. Isso reflete-se no fato de que os smartphones são a ferramenta preferida para compras online, com mais de 72% das operações em 2024. A cada ano, o uso de dispositivos móveis para compras tem superado o uso de desktops e notebooks.
África do Sul
O relatório prevê que o mercado de e-commerce da África do Sul experimentará um crescimento substancial, subindo de US$ 10,1 bilhões em 2024 para US$ 15,8 bilhões em 2027. Para capitalizar sobre essa expansão, o relatório aconselha que as empresas se alinhem com as preferências de pagamento locais.
Diferentemente do Brasil, na África do Sul, em 2024, a maioria das compras digitais (41%) foi paga com cartão de débito. Estima-se que, embora os cartões de débito permaneçam como meio de pagamento popular nos próximos anos, as transferências bancárias devem aumentar sua participação no mercado.