Imagine o seguinte: você está em casa, numa terça-feira comum, trabalhando no computador. De repente, lembra que está sem cartucho para a impressora, justamente no dia em que precisa enviar documentos importantes. Você abre o e-commerce no qual costuma comprar, faz o pedido e, poucos minutos depois, recebe uma notificação dizendo que o drone já saiu do microhub mais próximo.

Você olha pela janela e, quase no mesmo tempo em que pensou “será que já chegou?”, lá está ele pousando silenciosamente no ponto de coleta do seu prédio. Sem trânsito, sem atraso, sem aquela sensação de “tomara que chegue hoje”.
É rápido. É prático. É previsível. É quase como clicar em “comprar” e, logo depois, ter o produto na mão.
Esse tipo de experiência pode soar futurista, mas, na prática, é exatamente o tipo de eficiência que o e-commerce brasileiro está começando a enxergar como possível com o uso de drones. E, para quem vive o dia a dia da operação, fica claro que não estamos falando de ficção, estamos falando do próximo salto do last mile no país.
Um país gigante precisa de soluções mais ágeis
Quem opera e-commerce no Brasil sabe que a logística aqui não é “fácil de resolver”. Um trajeto curto no mapa pode virar uma novela real por causa do trânsito, do risco em determinadas rotas ou de acessos que simplesmente não funcionam para entrega tradicional. E, enquanto isso, o consumidor espera algo cada vez mais rápido. Ele compara tudo com apps de entrega imediata e cobra o mesmo nível de velocidade do varejo.
Quando olhamos para drones, vemos uma vantagem clara: eles não dependem do trânsito e não ficam presos nas mesmas limitações da rua. Conseguem sair de um hub e chegar a ponto crítico da cidade em minutos. Isso muda totalmente a lógica das rotas.
Rotas híbridas fazem mais sentido para o Brasil
Não imagino drones substituindo motos ou vans de uma hora para outra, nem acho que isso vá acontecer tão cedo. O cenário mais realista para o varejo brasileiro é combinar tudo: uma moto leva o pacote até um microhub, o drone cruza o trecho mais complicado e, se necessário, alguém finaliza a entrega na última etapa.
Esse modelo resolve vários problemas de uma vez só.
Em áreas de muito trânsito, o drone “salta” a parte mais lenta.
Em regiões onde a segurança é um desafio, ele evita riscos.
Em cidades médias, ajuda a encurtar distâncias que hoje custam caro para entregar.
E aqui está o ponto mais importante: isso melhora o SLA de forma direta. A entrega ganha mais previsibilidade, algo que todo lojista sabe que impacta a percepção do cliente.
Quando a entrega melhora, o NPS sobe junto
O last mile carrega um peso enorme na experiência do consumidor. Ele pode ter amado o produto e comprado sem nenhum atrito, mas, se a entrega atrasa, tudo perde força. Já vi operações incríveis sofrerem por causa de problemas que acontecem literalmente nos últimos metros do caminho.
Com drones, o que muda é justamente a parte mais instável da logística:
– menos tempo em rota
– menos variáveis externas
– menos chances de atraso
– mais consistência no horário
Isso reflete direto no NPS e na fidelização. Quando o cliente sente que a entrega chega rápido e sem perrengue, ele volta. E volta confiando mais.
Desafios ainda existem e são grandes
O Brasil tem pontos a resolver antes de ver drones voando em escala. A regulamentação ainda precisa evoluir, precisamos de infraestrutura adequada (como droneports), protocolos de segurança fortes e integração com sistemas que já estão no dia a dia do varejo. Não é algo que vai acontecer da noite para o dia.
Mas o movimento já começou. Vemos testes aparecendo, empresas estudando rotas e o setor entendendo que parte da pressão do last mile pode ser aliviada com uma operação aérea bem estruturada.
O que espero dos próximos anos
Imagino um avanço em estágios:
Primeiro, casos bem específicos e curtos.
Depois, uma expansão para operações híbridas mais robustas.
E, por fim, drones se tornando comuns nos grandes centros, ajudando a consolidar um novo padrão de velocidade.
No fundo, drones não resolvem tudo, mas resolvem justamente o trecho mais caro, imprevisível e problemático da entrega. E isso já é enorme para quem vive o dia a dia do e-commerce.
A verdade é que o consumidor brasileiro já mudou. Ele espera mais. Ele quer rapidez, transparência e uma entrega que acompanhe o ritmo da vida dele. Drones ajudam a construir esse caminho. Não como fantasia futurista, mas como parte prática do que será o novo last mile no país.