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O futuro do voice commerce e das interfaces integradas no e-commerce

Por: Rodrigo Cursi de Carvalho

Co-CEO e CXO na FRN³

Rodrigo Cursi é Co-CEO, CXO (Chief Experience Officer) e co-fundador da FRN³, empresa especializada em desenvolvimento digital. Com formação em Design de Games e Gráfico e Pós-graduação em Design: Conceito e Aplicação, possui 15 anos de experiência nas áreas de User Interface (UI), User Experience (UX), branding, e-commerce e aplicativos. Ao longo de sua trajetória, atuou como Diretor de Arte e Criação, liderando projetos de diversos segmentos e tamanhos, com foco em soluções criativas e de alto impacto. Seu trabalho se destaca pelo gerenciamento de equipes criativas e squads especializados em mídia e desenvolvimento de projetos digitais. Atualmente, é especialista em UX e UI, com um portfólio robusto de mais de 500 projetos realizados.

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Quando falamos em inovação no e-commerce, é impossível ignorar o impacto crescente do voice commerce e, mais recentemente, das interfaces integradas. Esse movimento não é apenas uma evolução tecnológica, mas uma mudança profunda na forma como consumidores interagem com plataformas digitais e na maneira como empresas precisam pensar suas estratégias de usabilidade e conversão.

Alexa e app no fundo
(Imagem: reprodução)

Da voz às experiências multimodais

Nos primeiros anos, o comércio por voz esteve limitado a comandos simples: reproduzir música, checar a previsão do tempo ou adicionar itens a uma lista de compras. Entretanto, esse estágio inicial rapidamente se mostrou restrito para a complexidade do e-commerce moderno.

A nova fase, que costumo chamar de “Voice Commerce 2.0”, vai além da interpretação de comandos. Hoje, falamos de interações que combinam voz, imagem e até gestos. Essa integração tem potencial de transformar a jornada de compra. Imagine um consumidor utilizando um smart speaker conectado a dispositivos IoT para pedir uma recomendação de vinho, enquanto uma tela complementar exibe rótulos e harmonizações sugeridas. O ato de comprar passa a ser fluido, combinando linguagem natural, reconhecimento visual e feedback instantâneo.

Desafios para o e-commerce

Apesar do potencial, os desafios são grandes. O primeiro é a experiência do usuário (UX). Interfaces conversacionais exigem uma curadoria muito mais refinada da jornada de compra. A ambiguidade da linguagem natural pode gerar frustração quando não há precisão no reconhecimento ou quando o sistema não compreende o contexto.

Outro ponto crítico é o tempo de resposta. Em compras assistidas por voz, qualquer atraso na resposta pode quebrar a experiência. Se a recomendação demora mais do que alguns segundos, a percepção de eficiência é perdida. Esse fator coloca pressão sobre infraestruturas de nuvem, modelos de IA e até sobre como o catálogo é indexado para consultas em tempo real.

O catálogo em si também precisa de adaptação. Diferentemente da navegação visual em sites ou aplicativos, em que o consumidor percorre páginas de categorias e filtros, o ambiente de voz exige descrições otimizadas, claras e curtas. Trabalhar atributos sem redundância e criar uma estrutura semântica que facilite a compreensão dos algoritmos de reconhecimento é um novo campo de atuação para gestores de e-commerce.

A influência do IoT e dos buscadores por voz

Assistentes pessoais como Alexa, Google Assistant e a própria Siri se tornaram muito populares. Com isso, o voice commerce passou a estar presente dentro de casa, no carro e até em dispositivos vestíveis. O IoT conectado ao e-commerce abre espaço para jornadas inéditas: pedir mantimentos enquanto cozinha, comprar peças automotivas direto do painel do carro ou acionar serviços enquanto se desloca.

Além disso, os buscadores por voz estão moldando um novo tipo de SEO. Diferente da busca digitada, a busca falada é mais longa, contextual e conversacional. Para o e-commerce, isso significa revisar estratégias de indexação, otimizar respostas diretas e garantir que os produtos possam ser encontrados a partir de perguntas naturais.

O papel estratégico para executivos de e-commerce

Do ponto de vista de quem lidera operações digitais, vejo três prioridades emergindo nesse cenário:

1. Repensar a arquitetura de informação: não basta ter um catálogo digital; é preciso que ele seja “conversável”. Isso exige atributos estruturados, enriquecimento semântico e integração com APIs que suportem linguagem natural.
2. Testar cenários reais de uso: laboratórios internos e pilotos com consumidores tornam-se fundamentais para identificar gargalos. A jornada por voz não pode ser planejada apenas em dashboards, precisa ser vivida em situações cotidianas.
3. Equilibrar inovação e maturidade tecnológica: embora seja tentador adotar rapidamente soluções multimodais, é essencial avaliar a robustez da tecnologia e o impacto na experiência do consumidor. A inovação, nesse caso, deve caminhar de forma sustentável com a operação.

Acredito que estamos diante de uma transformação semelhante ao momento em que o mobile deixou de ser uma “tendência” e se tornou a principal porta de entrada para o e-commerce. O voice commerce e as interfaces integradas caminham para esse mesmo destino.

Na minha experiência, liderando operações digitais em nossa empresa, percebo que a questão já não é mais “se” essa tecnologia impactará o negócio, mas “como” e “quando” será incorporada de forma estratégica. O verdadeiro diferencial não estará apenas em adotar soluções de voz e multimodalidade, mas em desenhar jornadas que realmente façam sentido para o consumidor, traduzindo a complexidade do e-commerce em experiências simples, fluidas e inteligentes.