Por Edouard Hieaux, Francês, morando no Brasil há 6 anos, é consultor na área de Internet e e-commerce. edouard@netvento.com
Começamos nesta edição uma série de artigos nos quais vou passar algumas tendências de consumo online na França.
Será que os efeitos da crise conduzem o consumidor a buscar só os melhores preços? É interessante avaliar alguns exemplos que mostram que o e-commerce vai além disso. O consumidor fica preocupado com o bolso, sim, mas procura também um valor agregado, além do preço.
Como aqui no Brasil, os clubes de assinatura são numerosos na França. Após as primeiras ofertas de moda e beleza para mulher, houve ofertas para homens que foram de vinhos a cuecas e, agora, há a febre das “Petbox”. O dono de cachorro ou gato assina e recebe produtos destinados a seus animais de estimação como escova, biscoitos, revista… A woufbox (woufbox.fr) de dezembro enviou echarpe e gorro para vestir os bichanos de Papai Noel!
Mas, além dessas ofertas múltiplas, um dos exemplos mais bem sucedidos na categoria é a caixa da mylittleparis.fr. Três anos atrás, a fundadora Fanny P., juntamente com duas amigas, começou a escrever uma matéria para compartilhar seus “coups de coeur parisiens” (favoritos em Paris). Rapidamente, a newsletter virou um sucesso e por isso as sócias decidiram propor os produtos mensalmente através de uma assinatura de 15,50 euros. Cada mês, a equipe tenta trazer uma novidade e surpresas para clientes. Em uma conferência, Fanny comentou que ela procura transmitir uma emoção e provocar encantamento com a entrega da caixa. Dos produtos de beleza e surpresas até a embalagem, tudo é cuidadosamente elaborado para causar “frisson” ao cliente.
Esse caso de sucesso mostra a forte tendência do consumidor de ficar atento ao aspecto humano. Os clientes da mylittleparis.fr assinam porque têm certeza de que vão gostar da caixa mesmo sem saber o que vão receber. Eles têm confiança absoluta no talento de quem prepara as caixas.
Outros exemplos mostram a formidável tendência do consumo colaborativo proporcionado pelo e-commerce.
Em sua próxima viagem para Paris, você poderia gastar muito menos dinheiro do que imagina. Nada de hotel, de aluguel de carro, de restaurante! Tenho vários amigos que começaram a alugar seus respectivos apartamentos por 3 dias, 1 semana ou até mais. Assim que eles viajam a trabalho ou para feriados, eles disponibilizam o seus apartamentos através de sites de flat-sharing. Por menos de R$ 200 por noite, você consegue ficar num lugar charmoso a dois passos do Louvre, ou da torre Eiffel. Sites como airbnb.com têm tido muito sucesso recentemente na França.
Vemos cada vez mais um crescimento de relação econômica entre pessoas físicas, e isso acontece com segurança graças a uma Internet colaborativa.
Outro exemplo de sucesso é o aluguel de carros entre pessoas físicas. O site voiturelib.com percebeu o número enorme de carros parados em estacionamentos e começou a propor aos proprietários alugarem seus carros quando não precisam usá-los.
O funcionamento é simples: o proprietário coloca no site a disponibilidade e o preço do aluguel. Quem estiver interessado entra em contato e paga com cartão no site. As duas pessoas se encontram, assinam o contrato de segurança impresso através do site e “voila, c’est parti”. No final, os dois fazem suas avaliações recíprocas no site e o proprietário recebe 70% do valor do aluguel. Navegando no site, você pode alugar um carro bom por volta de 30 euros por dia…
Mais um exemplo para praticar seu francês… cookening.com. Vários apaixonados por cozinha gostariam de “convidá-lo” para jantar em casa. Mesmo princípio, quem convida coloca o cardápio, a data e o preço. Quem estiver interessado entra em contato…
Esses exemplos revelam que hoje as vivências mostram-se mais importantes do que as posses. Alguns anos atrás era socialmente importante ter um carro para mostrar quem você era, ter livros e discos em casa. Hoje, as pessoas compartilham mais as experiências do que os objetos. Além disso, os efeitos da crise conduzem as pessoas a gastar menos e, ao mesmo tempo, a criar novas receitas.
O exemplo a seguir é muito interessante por juntar essas tendências de colaboração, de valores agregados além do preço, de menos intermediários e garantia de melhor qualidade. Focado em compra de alimentos saudáveis mais baratos, é o site laruchequiditoui.com (a tradução de “la ruche qui dit oui” seria “a colmeia que fala sim”).
O site permite colocar em relação produtores e clientes finais por meio de um responsável da “colmeia”. O funcionamento é o seguinte. Uma pessoa, física ou jurídica, decide cadastrar-se como organizador de uma colmeia. Contata fabricantes de produtos de sua região, como vinho, pão, queijos, flores, legumes, frutas… e, ao mesmo tempo, recruta membros (amigos, vizinhos…) que poderiam se interessar pelas ofertas. Cada semana, esse organizador propõe uma seleção. O produtor determina os preços, a quantidade mínima para entregar. Os membros têm 6 dias para selecionar e finalizar os pedidos. No final, se o patamar mínimo de pedidos tiver sido atingido, o produtor entrega os produtos no local do organizador. No dia seguinte, os membros vêm buscar os produtos.
O produtor recebe quase 80% do valor da venda. O responsável pela colmeia recebe 7,9%, e o resto vai para o funcionamento do site e taxas. A metade dos produtos pedidos são legumes, laticínios e ovos. Bebidas alcoólicas representam só 3 %… Alguém falou que franceses bebem muito vinho? O número de “colmeias” está crescendo na França, e o site prepara lançamentos em outros países da Europa.
Se você já está pensando em reservar sua passagem aérea para Paris, aproveite os e-services de grandes empresas como Air France e Orange, que trabalham com um conceito bem interessante de agressivas ofertas low cost para compras feitas exclusivamente por Internet. Mas isso é assunto para o próximo Conexão Brasil-França.
***