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Eduardo Giannetti analisa o fim da hiperglobalização e as novas oportunidades para o Brasil

Por: Alice Lopes

Jornalista no E-Commerce Brasil

Jornalista no E-commerce Brasil, graduada pela Universidade Nove de Julho e apaixonada por comunicação.

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Durante o Congresso Indústria Digital 2025, promovido pelo E-Commerce Brasil, o economista e cientista social Eduardo Giannetti apresentou uma leitura abrangente sobre as forças que estão redesenhando a economia mundial. Em sua palestra “As tendências globais que estão moldando o mundo”, ele analisou o fim do ciclo de hiperglobalização, o avanço da transição energética, o impacto das mudanças climáticas e as perspectivas econômicas do Brasil em um cenário global cada vez mais incerto.

Palestra Eduardo Gianetti Congresso Indústria Digital 2025 ECBR
(Imagem: Carol Guasti Fotografia)

Giannetti afirmou que o planeta atravessa uma fase de reconfiguração profunda das relações econômicas, após quase quatro décadas de integração acelerada. “Estamos encerrando o ciclo da hiperglobalização. O comércio mundial cresce menos que o PIB global, e a lógica financeira que sustentou esse modelo passa por correção”, afirmou.

Para o economista, esse movimento vem acompanhado de outros dois fenômenos estruturais: o fim da era de inflação e juros baixos e o encerramento do chamado ‘milagre chinês’, que por décadas impulsionou o crescimento global. Nesse novo contexto, ele aponta a busca por segurança e diversificação nas cadeias de produção como uma das tendências mais marcantes do pós-pandemia, em substituição à dependência de poucos polos industriais.

Do fim da hiperglobalização à busca por resiliência produtiva

Giannetti explicou que a hiperglobalização, intensificada a partir dos anos 1980, foi impulsionada pela liberalização financeira e pelo avanço tecnológico. Esse modelo gerou ganhos de escala, mas também aumentou a vulnerabilidade das economias. A pandemia, disse ele, funcionou como um ponto de virada ao revelar a fragilidade das cadeias produtivas interdependentes, como a dependência global de semicondutores.

Segundo o economista, governos e empresas agora buscam estruturas produtivas mais resilientes, mesmo que isso signifique custos mais altos. Ele também relacionou esse movimento a uma correção da financeirização da economia, com maior foco em produção real e sustentabilidade de longo prazo.

A bolha da inteligência artificial e a transição energética

Um dos pontos centrais da fala de Giannetti foi o alerta sobre o que ele chamou de “bolha da inteligência artificial. Para ele, o mercado financeiro vem supervalorizando ações de empresas do setor sem base em fundamentos sólidos. “É uma valorização exponencial sem correspondência na geração de renda real”, afirmou.

Em contrapartida, ele apresentou um cenário otimista para a transição energética, com destaque para a energia solar. A queda acentuada nos custos de produção e a rápida expansão da capacidade instalada mostram que o avanço da energia limpa já faz sentido econômico, não apenas ambiental.

Giannetti classificou esse movimento como um dos vetores mais promissores da economia mundial, capaz de redefinir cadeias produtivas e reposicionar países com forte base de recursos naturais, como o Brasil, em papéis estratégicos.

O economista também abordou os efeitos das mudanças climáticas sobre a economia global, citando a intensificação de eventos extremos, como enchentes e incêndios, que se repetem com maior frequência no Brasil. Ele destacou que esses fenômenos aumentam a imprevisibilidade econômica e exigem maior capacidade de adaptação e resposta dos países.

Vivemos uma era de incerteza ampliada. As crises climáticas não são apenas eventos ambientais, mas choques que testam a estrutura produtiva e política das nações”, observou.

Avanços e desafios do Brasil na nova ordem econômica

Ao analisar o papel do Brasil, Giannetti destacou avanços econômicos e sociais recentes, como o crescimento do PIB acima de 3% nos últimos anos, a menor taxa de desemprego desde 2012 e a saída do país do mapa da fome da FAO. Também citou a elevação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e a redução dos crimes violentos em 31%, ressaltando a resiliência democrática brasileira, elogiada por publicações internacionais.

Apesar disso, ele alertou para os desafios fiscais que ameaçam o equilíbrio econômico. A dívida pública, próxima a 80% do PIB, e os juros elevados, que consomem cerca de 8% do PIB em pagamentos, podem gerar risco de crise de confiança se não houver controle das contas públicas. “O Brasil não está à beira do abismo, mas precisa agir para não se aproximar dele”, pontuou.

Perspectivas otimistas e o papel do Brasil no futuro global

Encerrando sua palestra, Giannetti demonstrou otimismo em relação ao futuro do país, afirmando que o novo contexto global cria oportunidades únicas. O Brasil, segundo ele, está bem posicionado para se tornar potência alimentar, energética e mineral, impulsionado pela demanda de mercados emergentes, especialmente na Ásia.

O economista também ressaltou o potencial do país para superar a armadilha da renda média, ampliando sua exportabilidade em manufaturas, serviços e commodities. “Os ventos globais são favoráveis ao Brasil. Temos recursos, estabilidade institucional e uma capacidade rara de celebrar a vida, algo que o mundo ocidental carece e que é, por si só, uma vantagem competitiva”, concluiu.