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Crianças influenciam decisões de compra além do esperado, até carro e delivery entram na conta

Por: Alice Lopes

Jornalista Júnior no E-Commerce Brasil

Jornalista júnior no E-commerce Brasil, graduada pela Universidade Nove de Julho e apaixonada por comunicação.

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A participação das crianças nas decisões de consumo da casa ganhou contornos inéditos no Brasil. Elas não apenas escolhem o sabor do biscoito ou o próximo brinquedo, mas também têm voz ativa em temas que antes pareciam exclusivos dos adultos, como a escolha do carro da família, o restaurante do fim de semana e até a contratação de um plano de saúde.

criança comprando com o pai
(Imagem: Envato)

É o que mostra uma pesquisa da Hibou realizada em maio de 2025 com mais de 1.400 brasileiros. Segundo o levantamento, 86% das pessoas que convivem com crianças de até 14 anos afirmam que essas decisões são influenciadas pelos pequenos. Apenas 14% dizem o contrário.

A atuação das crianças no consumo vai desde as escolhas cotidianas, como o que entra no carrinho do supermercado (73%) ou o pedido no delivery (39%), até decisões mais complexas, como viagens (41%), compra de celulares (32%) e até automóveis (32%). Em menor escala, elas também influenciam a escolha de bancos, planos de saúde e até produtos financeiros.

A infância é digital e influente

A digitalização precoce tem papel central nesse comportamento. Mais de dois terços das crianças analisadas já possuem um smartphone próprio. E com ele, vêm os vídeos no YouTube (77%), os jogos com amigos, as interações com influenciadores e as decisões de compra feitas com apenas um clique.

Segundo os dados, 16% das crianças já realizam compras sozinhas pelo celular, movimentando cerca de R$ 140 por mês. Os produtos vão de itens digitais a pedidos de comida. O acesso irrestrito à internet também se confirma em 16% dos casos, o que reforça a autonomia digital e o desafio de acompanhar esse ritmo.

Do youtuber ao mascote: como se forma o desejo

A influência infantil se sustenta em um tripé bem estabelecido: personagens conhecidos, comerciais atrativos e a palavra dos influenciadores. As redes sociais e plataformas de vídeo são o principal palco da publicidade infantil, especialmente o YouTube, onde vídeos coloridos, músicas e youtubers mirins moldam preferências com eficiência.

Para 55% dos adultos ouvidos, personagens de programas e desenhos são os principais responsáveis por despertar o desejo de consumo. Propagandas vistas nas telas aparecem em 51% das respostas, e a influência direta de criadores de conteúdo, em 44%.

Consomem, opinam e levantam debates

Mas a influência infantil vai além do carrinho de compras. Questões sociais como bullying, reciclagem, diversidade e inclusão já fazem parte das conversas entre pais e filhos, com destaque para temas como proteção animal (51%) e racismo (43%).

Ainda assim, há um abismo entre a autonomia digital das crianças e sua preparação para lidar com os mecanismos do consumo. Apenas 35% dos entrevistados acreditam que as crianças estão prontas para entender temas como cartão de crédito, juros e endividamento. Quando o assunto é publicidade, o número cai para 24%.

A conclusão é que a geração que influencia ainda precisa de ferramentas para compreender esse poder. E os adultos, que deveriam ser os guias nesse processo, também reconhecem suas limitações: 34% admitem que são vulneráveis a propagandas enganosas.

O desafio está posto: educar consumidores do futuro que já são protagonistas no presente.