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Pagamentos negados por erro de sistema custam caro ao e-commerce

Por: Rebecca Fischer

Chief Strategy Officer (CSO) de co-fundadora da Divibank

Chief Strategy Officer (CSO) de co-fundadora da Divibank, ela é formada pela Universidade de Georgetown e tem mais de 12 anos de experiência na indústria de marketing e publicidade. Iniciou sua carreira em 2008 como estagiária na Pinacoteca do Estado de São Paulo e, ao longo dos anos, ocupou Diretora de Sucesso do Cliente na Skai (antiga Kenshoo), onde atendeu clientes como Mercado Livre, Nubank e iFood. Em 2020, uniu-se a Jaime Taboada para fundar a Divibank, combinando sua expertise em marketing digital com a experiência financeira de Jaime.

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Por trás do crescimento expressivo do e-commerce brasileiro se esconde uma perda silenciosa, mas colossal: entre R$ 120 e R$ 150 bilhões em pagamentos com cartão de crédito são negados todos os anos nas transações chamadas de “cartão não presente” – aquelas realizadas à distância, como nas compras online.

Homem frustrado segura um cartão de crédito diante de um notebook, com expressão de confusão ou indignação.
Imagem: Envato.

Essa perda não decorre de queda na demanda ou de problemas logísticos, mas de um gargalo invisível e estrutural: a incapacidade dos sistemas atuais de validarem corretamente a identidade do consumidor online.

De acordo com dados da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços), o mercado de pagamentos digitais movimentou cerca de R$ 1 trilhão em 2024. No entanto, segundo levantamento da Divibank, entre 9% e 27% dessas transações são barradas por sistemas de segurança – muitas vezes sem qualquer relação com fraudes reais.

Sistemas antifraude tradicionais causam efeitos colaterais

A conta não fecha: o setor investe bilhões em tecnologia para acelerar e democratizar o consumo digital, mas perde centenas de bilhões por não conseguir identificar com precisão quem é um cliente legítimo.

Essa falha de validação é mais grave do que parece. Sistemas antifraude tradicionais baseiam-se em regras de risco e padrões comportamentais. Ou seja, se o comportamento do cliente foge minimamente do padrão – seja porque viaja, usa um novo dispositivo ou tenta uma compra fora do horário habitual -, há grandes chances de a transação ser bloqueada. O problema é que esses mesmos filtros, criados para barrar criminosos, acabam atingindo em cheio os bons pagadores. O prejuízo, então, é duplo: o varejista deixa de vender e o consumidor se frustra, muitas vezes abandonando o carrinho e o site por completo.

A ironia é que o setor de e-commerce, conhecido por suas soluções tecnológicas de ponta, enfrenta um desafio básico de confiança digital. A diferença entre uma experiência fluida e uma venda perdida pode estar em detalhes como a ausência de uma autenticação biométrica eficiente, uma inteligência artificial mal calibrada ou um sistema de validação excessivamente rígido. Pior: essa falha estrutural tende a penalizar ainda mais grupos menos favorecidos digitalmente, como idosos, pessoas com acesso limitado à internet ou usuários de dispositivos móveis de gerações anteriores.

É urgente tratar identidade digital como ativo estratégico

Para mudar esse cenário, é preciso tratar a infraestrutura digital do e-commerce com a mesma seriedade que se dá à operação física de uma loja. Confiar em um único provedor de pagamento no checkout é como depender de uma única porta de entrada: se ela emperra, ninguém entra e as vendas param.

Falhas técnicas, instabilidades ou simples atrasos nesse único ponto podem gerar perdas significativas de receita, minando o esforço de aquisição e a experiência do cliente. O mesmo princípio vale para a verificação de identidade: quando baseada em tecnologias ultrapassadas ou inflexíveis, ela bloqueia transações legítimas e compromete a escala do negócio. A boa notícia é que já existem alternativas robustas – biometria facial, autenticação multifatorial e análise comportamental com inteligência artificial. O que falta, muitas vezes, é estratégia: diversificar, fortalecer e tratar a identidade digital como um ativo tão vital quanto os próprios pagamentos.

A digitalização do consumo não pode se sustentar sobre alicerces frágeis. Se o Brasil quer consolidar o e-commerce como motor de crescimento, inclusão e inovação, precisa resolver, com urgência, o paradoxo que hoje emperra suas engrenagens: não basta vender bem – é preciso reconhecer, de forma segura e justa, quem quer e pode comprar.