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Os sintomas de um modelo falido no e-commerce - e por que a IA muda a lógica do jogo

Por: Lucas Bacic

CEO na Loja Integrada

CEO da Loja Integrada e ex-Diretor de Marketing Global da VTEX, mentora equipes de alta perfomance nas áreas de gestão de produto, design e comunicação. Por aqui, compartilha sua experiência em impulsionar o crescimento de lojistas por meio de estratégias integradas de produto e marketing.

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“Acordo cedo, embalo produto, respondo cliente, crio anúncio, posto no correio… e quando vejo, já é noite.”

O desabafo, feito por uma empreendedora que vende cosméticos pelas redes sociais e marketplaces, poderia ser confundido com um caso isolado, mas está longe disso. Ele sintetiza a rotina de milhares de pequenos lojistas que, mesmo com loja no ar e produto em estoque, desistem antes da primeira venda.

Imagem com fundo em tons de papel rasgado, mostrando uma mão à esquerda, um cérebro à direita e o texto central: “Agentes de IA - Empreendedor Orquestrador”.
Imagem: Reprodução.

Segundo estimativas da Comma Consulting, até 90% das lojas online fecham nos primeiros 120 dias de operação. Não por falta de esforço. Mas por um excesso dele. Empreendedores operam no limite, acumulando funções e improvisando soluções. O que muitos ainda não percebem é que esse modelo, centrado em fazer tudo, aprender tudo e sustentar o negócio na força, já quebrou. E não se trata de um problema individual: é o sistema que não está mais funcionando.

Os quatro sintomas de um modelo que não se sustenta

A falência do modelo artesanal no e-commerce pode ser identificada por sintomas claros, e cada um deles revela como o esforço humano deixou de ser suficiente para sustentar a operação digital.

1. Você ainda faz tudo

Segundo pesquisa da Loja Integrada, mais de 70% dos pequenos lojistas realizam todas as tarefas manualmente: cadastro, precificação, atualização de estoque, criação de campanhas. Não há reaproveitamento de dados, nem automações básicas. O negócio depende de execução constante, sem escala.

2. Você precisa aprender tudo para não depender de ninguém

SEO, copywriting, logística, financeiro, fluxo de caixa, redes sociais. Para cada nova etapa, um novo vídeo, um novo curso, uma nova planilha. A pesquisa da Comma Consulting mostra que 37% dos lojistas que encerraram suas operações admitem que não tinham conhecimento suficiente sobre marketing digital.

3. Você virou a cola entre sistemas que não conversam

Segundo o Webshoppers 48 (Ebit/Nielsen + ABComm), 73% dos vendedores em marketplaces enfrentam dificuldades com integração entre sistemas. Muitos voltam a operar com planilhas e uploads manuais. O sonho da multicanalidade vira sobrecarga.

4. Você não sabe o que está funcionando

Campanhas são ativadas, mas não há clareza sobre impacto. De acordo com o mesmo Webshoppers, 63% dos lojistas dependem exclusivamente de canais pagos (Google e Facebook) para gerar tráfego, mas não sabem seu CAC ou LTV. Sem visibilidade, não há direção.

    Esses sintomas não são falhas individuais. São alertas de que o modelo, como está hoje, não tem mais fôlego para sustentar uma operação saudável e escalável.

    Quando a operação depende só de você, o teto chega rápido

    No modelo artesanal, todo avanço depende de aprendizado novo, e todo erro vira custo direto, seja no bolso ou no tempo que nunca sobra. A cada nova funcionalidade, uma curva de aprendizado. A cada novo canal, uma planilha. O empreendedor opera em um ciclo cansativo de execução constante e, mesmo assim, sem garantia de resultado.

    Essa lógica falha por dois motivos centrais:

    – Não escala com o tempo. A cada nova tarefa, o esforço aumenta.
    – Depende de intervenção humana constante. Qualquer falha paralisa o sistema.

    Esse modelo de produtividade, baseado em esforço contínuo, está em colapso.

    A virada: quando a IA deixa de ser ferramenta e vira estrutura

    A chegada da inteligência artificial generativa e, mais recentemente, dos agentes de IA, muda não apenas a tecnologia disponível, mas o modo como operamos.

    Diferentemente de um chatbot ou uma automação rígida, um agente de IA é capaz de interpretar objetivos em linguagem natural e executar ações reais dentro de sistemas. Ele entende a intenção (por exemplo: “criar um anúncio para esse produto com base em margem e estoque”) e age com base nos dados disponíveis.

    É o que muda o jogo:

    – A IA não te ensina a fazer, ela faz por você.
    – A IA não automatiza uma tarefa isolada, ela orquestra um processo completo.

    Essa transformação é mais do que tecnológica: é comportamental. Ela muda a forma como o empreendedor pensa produtividade.

    E se você começasse hoje, com IA na base?

    Essa é a pergunta que norteia a nova lógica: se você fosse abrir seu e-commerce hoje, com IA desde o início, o que faria diferente?

    Modelo antigo Novo modelo com IA
    Estuda ferramentas antes de operar Escreve em linguagem natural o que deseja
    Cria tudo manualmente, um processo por vez Ativa agentes que executam ações conectadas
    Limita decisões ao tempo disponível Foca em decisões de alto impacto e delega o resto
    Organiza dados antes de agir Dá acesso ao que tem; a IA aprende com imperfeições
    Toma decisões com base em intuição Recebe sugestões baseadas em dados e contexto

    Essa mudança permite que o empreendedor deixe de ser o operador que faz tudo e se torne o orquestrador de uma operação inteligente. Ele foca no que gera valor e delega o restante para a tecnologia.

    O empreendedor do futuro não é quem executa mais tarefas, é quem toma as melhores decisões

    A lógica antiga premiava quem acumulava mais tarefas. A nova lógica premia quem foca no que importa. Em vez de se tornar especialista em tudo, o empreendedor de sucesso aprende a montar sua operação como uma rede de decisões inteligentes, mediadas por tecnologia.

    Não se trata de trabalhar menos. Trata-se de trabalhar com mais intenção. A inteligência artificial não é só uma nova ferramenta, é um novo modo de operar. E quem souber usá-la como base, não como acessório, vai liderar a próxima geração do e-commerce.