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Validar antes de vender: o passo que separa ideias de negócios sustentáveis

Por: Lucas Bacic

CEO na Loja Integrada

CEO da Loja Integrada e ex-Diretor de Marketing Global da VTEX, mentora equipes de alta perfomance nas áreas de gestão de produto, design e comunicação. Por aqui, compartilha sua experiência em impulsionar o crescimento de lojistas por meio de estratégias integradas de produto e marketing.

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A discussão sobre mortalidade precoce no e-commerce ganhou urgência nos últimos anos. Dados do estudo 120 Days to Failure – CEO Mag mostram que 90% dos novos negócios online falham antes de completar 120 dias. Entre os principais motivos, três se destacam: 37% dos empreendedores não conseguem fazer o marketing do produto, 35% não encontram demanda real no mercado e 32% simplesmente ficam sem dinheiro antes de atingir tração mínima.

Mulher sorrindo enquanto segura um tablet em um ambiente interno iluminado.
Imagem: Reprodução.

Esses números não surpreendem quem acompanha o setor de perto. A dinâmica do e-commerce se tornou mais técnica, mais competitiva e menos tolerante ao improviso. Ainda assim, a maior parte dos iniciantes comete um erro estrutural: começa pela execução antes de testar a lógica do negócio.

A experiência prática observada por plataformas, consultores e operadores do mercado mostra um padrão consistente: muitos novos lojistas chegam ao digital já com um produto definido, mas sem clareza sobre demanda, preço possível, diferencial competitivo ou economia unitária. É o “começar pelo fim”, que compromete caixa, foco e tempo.

Como profissional que atua diariamente com empreendedores digitais, vejo que a validação não atrasa o início: ela impede que o negócio comece errado. Validar é o que separa iniciativas que sobrevivem e crescem daquelas que desaparecem antes mesmo de completar um ciclo operacional.

A seguir, detalho os cinco passos essenciais para transformar uma ideia em um negócio digital realmente sustentável; não pela teoria, mas pela prática do que funciona no campo.

1. Teste a viabilidade antes de investir: onde negócios deixam de ser intuição

No e-commerce, sobrevivência depende diretamente de duas variáveis: margem e mercado. É aqui que a maior parte das operações se perde. O primeiro passo não é abrir a loja, fazer fotos ou subir anúncios: é avaliar se a ideia “fica de pé”.

    Esse diagnóstico exige três frentes:

    – Demanda: volume de buscas, comportamento de consumo, tendências e tamanho do nicho.

    – Concorrência: estrutura de preços, diferenciais existentes, saturação e espaço para posicionamento.

    – Economia do produto: custo total, margem possível, custo de mercadoria vendida, logística, impostos e sensibilidade ao preço.

    Quem já opera no digital sabe que intuição não fecha conta. Viabilidade é cálculo, e cálculo antes de execução. É isso que evita entrar em mercados que não têm espaço, margens perigosas ou propostas sem relevância.

    2. Construa uma vitrine digital mínima: o MVP que revela percepção e valor

    A validação não exige estrutura robusta. Muito antes de design, estúdio ou programação, é possível montar uma vitrine experimental, simples, rápida e barata. Ela serve para testar percepção, não para escalar.

      Essa vitrine pode incluir:

      – imagens conceituais ou prototipadas;

      – descrições funcionais e comparativas;

      – diferentes versões de preço e benefícios;

      – títulos alternativos e propostas de valor.

      Essa é a forma mais eficiente de entender como pessoas reais – não métricas de vaidade – reagem ao produto, ao posicionamento e ao preço. É o equivalente digital de colocar um produto na prateleira e observar se alguém para para olhar.

      3. Valide interesse real; curtida não é sinal de compra

      Uma das lições mais duras do e-commerce é que visibilidade não significa intenção. Os dados que já apresentei mostram isso: 37% dos empreendedores que não prosperam relatam não conseguir fazer o marketing funcionar, e parte disso vem de confundir engajamento superficial com demanda real.

        Validação acontece em conversas verdadeiras, não em likes.

        Os sinais fortes de interesse incluem:

        – perguntas sobre preço;

        – pedidos de mais informações;

        – recomendações espontâneas a terceiros;

        – declarações claras de intenção (“quero comprar”, “quando lança?”).

        Essa etapa pode e deve ser conduzida em grupos menores, como comunidades, colegas, clientes anteriores ou nichos específicos. O objetivo é entender objeções, ajustar narrativa e identificar quais argumentos realmente movem alguém em direção à compra.

        4. Ajuste com base nos testes: a agilidade que reduz risco

        Os melhores operadores do mercado já internalizaram uma premissa: não existe produto perfeito na primeira tentativa. Existe produto ajustado rapidamente.

          Com os feedbacks iniciais, é hora de refinar:

          – comunicação;

          – proposta de valor;

          – segmentação;

          – atributos do produto;

          – posicionamento de preço.

          Ferramentas de análise e inteligência aceleram esse processo, mas o princípio permanece o mesmo: testar, aprender e ajustar antes de escalar reduz drasticamente desperdício, e reduz o risco de entrar para os 32% que ficam sem dinheiro antes dos primeiros resultados.

          5. Planeje o lançamento com disciplina: validação não substitui operação

          Após validar demanda, percepção e preço, a etapa final é estruturar o lançamento. Não é glamour, é checklist técnico:

            – domínio, marca e infraestrutura;

            – gateway de pagamento e antifraude;

            operação logística;

            – cadastro de produtos com critérios de SEO;

            – definição de canais prioritários;

            – metas operacionais mínimas.

            A diferença entre lançar validado e lançar no escuro é brutal. O produto validado nasce com previsibilidade, narrativa testada e clareza financeira. O não validado nasce apostando, e apostas cobram o preço cedo, como os 90% que falham em 120 dias comprovam.

            Negócios saudáveis começam antes da venda

            Validar não é um obstáculo ao início: é o que garante início com segurança, foco e clareza. Ao final desse processo, o empreendedor não tem apenas um produto para vender, mas sim um negócio testado, enxuto e sustentável.

            Em um mercado no qual estatísticas deixam claro que improviso custa caro, validar antes de vender não é uma etapa opcional. É o que separa ideias promissoras de negócios que sobrevivem, crescem e se consolidam no e-commerce brasileiro.