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Metanol, confiança e ESG: como sair da maior crise dos últimos tempos

Por: Vivian Peres

co-fundadora da Anamid

Vivian Peres é Mestre em Comunicação e Práticas de Consumo pela ESPM e graduada em Comunicação Social pela Unesp, com MBA em Marketing pela ESPM e fundadora e CEO da Interteia Comunicação. Com mais de 20 anos de experiência na área de comunicação, Vivian já realizou trabalhos para empresas como McDonald 's, Abit, Anbima, Hypermarcas e LG, somando mais de 500 horas de experiência em gestão de projetos utilizando técnicas de Design Thinking, cursadas na Universidade de Stanford. Vivian é co-fundadora da Anamid - Associação Nacional do Mercado e Indústria Digital e faz parte do Grupo de Pesquisa de Comunicação, Consumo e Arte da ESPM.

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Empreender no Brasil definitivamente não é para amadores. Quando tudo parece sob controle e a preocupação do momento são as campanhas de fim de ano – Black Friday, Natal, Réveillon -, uma avalanche se forma no horizonte: a crise do metanol.

Copo de caipirinha com gelo e limão sobre mesa de madeira, com texto “CRISE DO METANOL” no canto superior esquerdo.
Imagem gerada por IA.

Para quem trabalha com bebidas alcoólicas, timing não poderia ser pior. Mas é justamente em momentos como esse que se separam os profissionais dos amadores, as marcas que apenas vendem daquelas que constroem confiança e que realmente levam ética e credibilidade a sério.

O panorama é grave. Com dezenas de casos registrados e um número crescente de vítimas em diferentes estados, o pânico é mais do que justificável. Só em São Paulo, a Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares (Fhoresp) estima uma queda de 30% no faturamento do setor, com vendas de destilados despencando até 70% em alguns estabelecimentos.

Mas há um ponto crucial nessa história que precisa ser dito com todas as letras: nenhum dos casos está relacionado a bebidas provenientes de vendedores confiáveis. O problema está nas compras feitas de fornecedores sem procedência, com preços abaixo do mercado e sem registro, exatamente o tipo de atalho que transforma oportunidade em tragédia. Será que essas pessoas não tinham uma avó para dizer que “quando a esmola é demais o santo desconfia”?

Aqui que entra o verdadeiro aprendizado da crise.

A hora do ESG

Se você trabalha nesse setor, está na hora de analisar toda a sua cadeia de distribuição. Muito se falou sobre ESG nos últimos anos. O tema foi tão abordado que teve gente torcendo o nariz. É verdade que a sigla se popularizou e, em certos momentos, virou quase um jargão vazio. Mas as empresas que entenderam seu valor real estão atravessando crises como essa com muito mais solidez. Quem tem controles claros dos aspectos ambientais, sociais e, principalmente, de governança sai na frente.

Deixando as meias-palavras de lado: as empresas precisam ter conhecimento total de todas as etapas da sua cadeia de distribuição. Práticas de governança bem estruturadas, processos de compliance ativos e fornecedores certificados não são somente “bonito no papel”: são o que garante a sobrevivência do negócio.

Isso significa documentar, monitorar e auditar todos os elos da cadeia. E significa também ter coragem de dizer “não” a ofertas milagrosas e negócios duvidosos, mesmo quando pareça tentador.

Transparência sempre

Já lidei com muitas crises ao longo da minha trajetória, seja do lado da agência, seja do lado do cliente, e aprendi uma lição que vale ouro: a transparência é sempre o melhor caminho.

Não dá para esconder o problema. O consumidor quer saber o que aconteceu, o que está sendo feito e o que vai mudar daqui para frente. O silêncio comunica, e geralmente comunica o pior.

Por isso, se sua empresa foi impactada, ainda que indiretamente, assuma a narrativa. Explique, mostre dados, traga fatos. É assim que se reconstrói confiança: com diálogo aberto e coerência entre discurso e prática.

Mostre os seus bastidores

Reconquistar a confiança do consumidor não será fácil, mesmo para quem não teve nenhum envolvimento com a crise e sempre comprou produtos confiáveis. É nessa hora que é preciso apresentar tudo o que você faz.

Mostre onde e como suas bebidas são produzidas, quem são seus fornecedores, quais certificações possui, quais testes realiza e como controla a qualidade. As redes sociais, o site institucional e até os rótulos podem ser canais de educação e transparência.

Marcas que se posicionam com clareza e responsabilidade sairão mais fortes dessa tempestade. O consumidor quer segurança, verdade e coerência. Todo mundo quer continuar tomando aquela caipivodka gostosa no churrasco de domingo, mas, para isso, hoje, é preciso ter certeza da procedência. Mostre que você é esse fornecedor ético e correto.

A confiança como diferencial competitivo

Crises expõem fragilidades, e são momentos para eliminar do mercado quem não trabalha corretamente. As empresas que tratam a confiança como um ativo estratégico, e não como um slogan, têm muito mais chance de se manter em pé quando o chão treme.

A crise do metanol não é apenas uma tragédia sanitária. É um alerta de mercado. Um lembrete de que a irresponsabilidade pode custar o bem mais caro: a vida das pessoas.

No fim das contas, o que separa marcas passageiras de marcas sólidas é a capacidade de agir com segurança mesmo quando ninguém está olhando. E esse, mais do que nunca, é o momento de provar isso.