O futuro do marketing não está apenas chegando, ele já está aqui, reescrevendo as regras enquanto você lê este artigo!

A Kantar lançou o relatório “Marketing Trends 2026” e trouxe insights que vão muito além das previsões óbvias sobre “tendências digitais” ou “o poder da IA”. O documento revela uma tensão fundamental: enquanto precisamos otimizar nossa comunicação para máquinas, os consumidores estão mais humanos do que nunca, buscando autenticidade e conexões genuínas.
A questão central é: como fazer marketing eficaz em um mundo onde seus clientes podem ser tanto algoritmos quanto pessoas que fogem desses mesmos algoritmos?
1. Seu próximo cliente pode não ser humano
Aqui vai um número que muda o jogo: 24% dos usuários de IA já utilizam assistentes de compras automatizados.
Isso significa que, cada vez mais, você não estará vendendo diretamente para o consumidor final. Você pode estar “vendendo” para o agente de IA dele, um assistente que analisará dados estruturados, comparará alternativas e tomará decisões de compra de forma autônoma.
A pergunta que você precisa responder é: sua marca está preparada para ser encontrada, compreendida e recomendada por uma máquina?
Se seus conteúdos não estão estruturados de forma que uma IA consiga ler, processar e avaliar sua proposta de valor, você simplesmente não aparecerá na lista de recomendações. E não importa quão bom seja seu produto – se o algoritmo não te conhece, você não existe.
2. GEO: a nova fronteira depois do SEO
Durante anos, o SEO (Search Engine Optimization) foi a disciplina essencial para visibilidade online. Agora, surge um novo desafio: o GEO – Generative Engine Optimization, e a revolução que está sendo chamada de Search 3.0.
A diferença é estrutural: o GEO faz com que modelos de linguagem de IA citem sua marca quando respondem a perguntas como “qual a melhor solução para analytics?”.
E o dado é claro: 74% dos usuários de assistentes de IA confiam nas recomendações desses sistemas diária ou semanalmente.
Se o modelo não conhece sua marca, não entende seus diferenciais e não consegue processar seu posicionamento, você será otimizado para fora das recomendações. Simples assim.
A solução passa por criar conteúdo estruturado, contextualizado e rico em informações úteis, guias práticos, casos de uso, comparativos técnicos. Conteúdo que uma IA possa ler e avaliar: “essa marca é relevante para esse contexto”.
Em hipótese alguma o SEO deixa de ser relevante, mas a revolução do Search 3.0 é muito importante de ser analisada. Em alguns clientes, temos percebido uma queda no tráfego orgânico e um aumento no número de acessos via IAs, como GPT, Gemini, Claude e afins. A correlação existe (basta ver o seu Google Analytics), mas ainda não temos uma queda de orgânico que esteja sendo substituída pelos acessos de IA. Na realidade, os acessos ainda são bem baixos, mas a correlação existe, como você pode ver abaixo:


Ou seja, os tráfegos vindos de IA não estão substituindo as quedas do orgânico, mas, em diversos casos, o Gemini do Google, por exemplo, está respondendo à pergunta do consumidor, com seu conteúdo na SERP, mas ele não se torna clique.
Ainda assim, SEO é importante DEMAIS, apenas precisamos olhar também para a revolução que está sendo o GEO.
3. A economia dos pequenos prazeres
Com grandes marcos da vida se tornando menos acessíveis, os consumidores encontraram uma nova forma de criar otimismo e sensação de controle: os pequenos prazeres diários.
É a chamada “Treatonomics”. Em vez de celebrar grandes conquistas (milestones), as pessoas estão comemorando “inchstones”, micromomentos de alegria que trazem satisfação imediata.
Para as marcas, isso representa uma mudança fundamental de posicionamento. A questão não é mais apenas “como vendo meu produto”, mas “como me torno um provedor de alegria no cotidiano das pessoas?”.
Se você conseguir se posicionar como parte desses pequenos momentos de prazer, acessíveis, justificáveis, significativos, você captura uma demanda que está crescendo exponencialmente.
Isso é algo BEM difícil de ser realizado, mas temos diversos cases de sucesso quanto a isso, como marcas de café, transporte de aplicativos, suplementos e afins. É como você se torna parte do dia daquela pessoa, sem gerar fricção e dando a ela esse micromomento de felicidade.
4. O paradoxo do marketing de influência
O marketing de influência vive um momento paradoxal: investimentos crescem, mas a eficácia cai.
Os números são claros: 61% dos profissionais de marketing planejam aumentar o investimento em conteúdo de criadores. Porém, apenas 27% desse conteúdo se conecta fortemente com a marca.
O problema está na abordagem. A maioria das marcas trata influenciadores como mídia programática, compra posts isolados, campanhas de curto prazo, execuções desconectadas da narrativa da marca.
A solução é estrutural: abandonar a lógica transacional e construir parcerias de longo prazo, em que marca e criador cocriam conteúdo que faça sentido para ambos. Não é sobre comprar posts. É sobre construir plataformas criativas conjuntas, planejamento de mídia a longo prazo.
O mandato para 2026 é claro: evoluir de comprador de mídia para arquiteto de parcerias estratégicas, em que o ROI é medido em brand equity, e não apenas em métricas de vaidade.
5. Nichos vencem alcance massivo
A última tendência é talvez a mais contraintuitiva: o futuro não está em alcançar mais pessoas, mas em alcançar as pessoas certas nos lugares certos.
Os consumidores estão abandonando os feeds algorítmicos superlotados das grandes redes sociais. Em seu lugar, buscam refúgio em microcomunidades, espaços de nicho nos quais autenticidade e relevância superam volume e alcance.
Os dados da China (mercado que frequentemente adianta tendências globais) são contundentes: marcas que investem em plataformas de microcomunidades baseadas em compartilhamento de conhecimento alcançaram ROI 25% maior.
A razão é simples: quase 40% dos consumidores confiam nas recomendações de microcomunidades tanto quanto nas de amigos.
Isso exige uma mudança estratégica fundamental. Não se trata de quantas pessoas você alcança, mas da qualidade do engajamento e da defesa orgânica que você constrói dentro desses círculos de confiança.
2026 será o ano das comunidades e, mais uma vez, é preciso entender como fazer parte disso, e não apenas ser mais uma fricção em algum canal.
A síntese: máquinas e humanos, simultaneamente
As tendências para 2026 desenham um cenário dual: você precisa ser encontrado por algoritmos e, ao mesmo tempo, construir conexões genuínas com pessoas reais.
Não é uma escolha. É uma exigência!
As marcas que dominarão o próximo ciclo serão aquelas capazes de estruturar conteúdo para IA enquanto criam experiências humanas autênticas. Que otimizam para GEO enquanto cultivam comunidades de nicho. Que falam a língua dos algoritmos sem perder a capacidade de tocar emoções humanas.
O desafio não é apenas falar com máquinas e humanos. É construir uma marca tão ressonante que os humanos instruirão suas máquinas a encontrá-la, independentemente do que o algoritmo recomende por padrão.
Menos achismo, mais dados. E mais estratégia.