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Automação no e-commerce: eficiência a serviço da experiência ou do cliente invisível?

Por: Eduardo Freire

Eduardo Freire é CEO da FWK Innovation Design, uma fazedoria especializada em estratégia e inovação corporativa. Criador do Project Thinking - abordagem adotada por grandes empresas no Brasil, EUA e Europa -, Eduardo ajuda organizações de e-commerce a conectarem estratégia, cultura e execução para acelerar projetos de transformação digital, impulsionar vendas com inovação em IA e fortalecer lideranças orientadas a resultados. Atua como advisor em iniciativas de impacto no varejo digital, além de saúde, governo e indústria. Reconhecido como um dos 50 principais líderes globais em Design Thinking pelo ranking Thinkers360 – 2025, integra estratégia, tecnologia e cultura para impulsionar negócios. É autor, palestrante e mentor, inspirando marcas a criarem experiências digitais ágeis e impactantes.

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Nos últimos anos, o e-commerce tem acelerado sua transformação digital com inteligência artificial, automação e sistemas cada vez mais inteligentes. A promessa é clara: reduzir custos, escalar operações e entregar conveniência. Mas, quando mal implementada, a automação pode minar a confiança do cliente e corroer valor.

Mão humana pressionando um botão que interrompe fluxos digitais de IA.
Imagem gerada por IA.

Recentemente vivi isso na pele. Comprei um item colecionável e, apenas quatro minutos depois da compra, percebi um erro no endereço. Ao tentar corrigir, descobri que a plataforma não permitia nenhum ajuste – nem contato humano, nem fluxo automatizado. Resultado: perdi o item e abandonei a plataforma.

Esse episódio expõe um dilema central: a automação está a serviço da eficiência ou da experiência?

O pêndulo da automação

A pressão por eficiência não é nova. No entanto, estudos do Gartner mostram que até 2027 cerca de 70% das organizações vão priorizar investimentos em inteligência artificial com base em benefícios de negócio, e não apenas em funcionalidades. Esse dado revela uma mudança de mentalidade: eficiência isolada não basta; o que realmente importa é o impacto sobre o negócio e, no e-commerce, o negócio é a experiência do cliente.

Isso significa que os processos de automação precisam ser avaliados não só pelo quanto reduzem custos ou agilizam etapas, mas também por como afetam a percepção e a confiança do consumidor.

Eficiência que custa caro

Muitos gestores justificam travas rígidas nos fluxos automatizados em nome da previsibilidade operacional. Mas o que parece eficiência pode se transformar em custo invisível e muito mais alto no longo prazo.

Exemplos comuns incluem:

– Carrinhos abandonados por frustração em processos engessados.
– Reclamações públicas em redes sociais, que ampliam a exposição negativa.
– Erosão da confiança, que leva o cliente a nunca mais retornar.

Na prática, é o dilema clássico: otimizar para dentro ou para fora? Uma operação eficiente internamente, mas incapaz de lidar com o imprevisto do cliente, perde relevância no mercado.

A automação que gera confiança

O mesmo Gartner aponta que, quando há forte alinhamento entre estratégia de aplicações e objetivos de negócio, os investimentos em tecnologia fluem mais rápido e com menos atrito. Traduzindo: quando TI e negócio olham juntos para o cliente, a automação deixa de ser obstáculo e vira diferencial competitivo.

Boas práticas já visíveis no mercado incluem:

– Janelas de tolerância que permitem alterações ou cancelamentos de pedidos minutos após a compra.
– Atendimento híbrido, no qual a IA resolve 80% das demandas, mas o humano entra em cena quando o cliente precisa.
Personalização proativa, com sistemas que antecipam necessidades, mas deixam espaço para ajustes do consumidor.

Essas soluções não apenas reduzem atrito, como reforçam a sensação de que a marca está do lado do cliente, algo essencial em um mercado cada vez mais competitivo.

O futuro do e-commerce não será definido apenas por quem automatiza mais rápido, mas por quem automatiza com empatia. A pergunta não deve ser “quanto economizamos com automação?”, mas sim “quanto fortalecemos a confiança do cliente a cada interação?”.

Eficiência sem experiência gera apenas estatísticas frias. Experiência com eficiência, por outro lado, constrói marcas que crescem com lealdade, conquistam defensores espontâneos e se diferenciam em um mercado saturado.

A automação é inevitável. Mas a escolha de como aplicá-la, a serviço da conveniência do cliente ou da rigidez dos processos, é o que separará os vencedores dos irrelevantes no e-commerce da próxima década.