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Steve Wozniak: "A tecnologia deve servir e agregar, e não substituir o trabalho humano"

Por: Dinalva Fernandes

Jornalista

Jornalista na E-Commerce Brasil. Graduada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada em Política e Relações Internacionais pela FESPSP. Tem experiência em televisão, internet e mídia impressa.

Steve Wozniak, cofundador da Apple, é um ídolo para muitos, não só dos amantes da tecnologia. Após fundar uma das maiores empresas do mundo, o engenheiro de 69 anos escolheu outra forma de contribuir com a sociedade: a educação. Na palestra de encerramento do Fórum E-Commerce Brasil – Global Edition, nesta quinta-feira (30), Wozniak mostrou que ainda tem muito fôlego para compartilhar nesse mundo tão conectado. Confira os principais pontos do bate-papo a seguir:

Steve Wozniak no Fórum E-Commerce Brasil 2020

Como foi para você deixar a engenharia para se tornar professor?

Wozniak – Eu sabia quando era criança que queria ser engenheiro e professor. Eu acredito que a educação pode transformar as pessoas a viverem num mundo melhor. Depois de criar meus filhos, decidi começar a dar aulas para contribuir com as escolas primárias e secundárias.

Como foi sair da HP e da Apple?

Wozniak – Na minha carreira na Apple, fiz inúmeros projetos por diversão, não para serem lucrativos. Não era essa a minha intenção, mas sim mostrar as minhas habilidades, tanto que hoje existem várias coisas parecidas com as que fiz no mercado e as pessoas ficam impressionadas.

Na minha vida, em geral, fiz coisas boas que agregaram valor para ajudar na economia, mas eu não percebia até onde esses projetos iriam chegar. Eu adoro a HP e a Apple, mas, às vezes, um profissional se torna bem-sucedido e fica travado. Eu tinha um poder nas minhas mãos que se chama sorte. Além disso, eu queria dar um passo além do que é normal.

O que diria para um engenheiro com medo de dar pulo no escuro?

Wozniak – Existem vários tipos de personalidade. Alguns têm aptidão nem negócios, insights; outros pensam em coisas novas e resolver problemas. Se tiver na mente que quer fazer algo para mudar o mundo, precisa dos talentos de engenheiro, talento comercial para distribuir produtos ou serviços, e talento em marketing para pensar em como precificar. Por isso, tem que estar envolvidos nas ideias e ser incluir da melhor maneira. Procure na sua rede de contatos quem já fez isso antes.

Muitas pessoas, quando se tornam gerentes, se perdem na nossa posição. O que você acha disso?

Wozniak – É uma pena. Gerência é uma competência enorme, pois tem poder sobre as ideias das pessoas e em como fazer as coisas. E mesmo se tornando gestor, às vezes, tem alguém acima de você e ainda tem que concordar com as pessoas e prazos.

Você acha que dá para tratar uma empresa com 1.000 pessoas como uma comunidade?

Wozniak – Comunidade é quando todos se ajudam de forma gratuita. Eu prefiro dizer que as empresas devem tratar os profissionais como uma família. Em uma família as pessoas se entendem, se resolvem. Como eu posso ajudar um colaborador a se recuperar após um momento ruim? São coisas assim que fazemos em nossas famílias para a resolução das questões.

Acha então que dá trazer aquela cultura hippie para os dias atuais?

Wozniak – Vivemos em novos tempos, onde a internet é muito ampla. Ela é aberta e todos podem se falar, obter informações sobre o mundo. Isso é fantástico, e sequer imaginávamos que seria isso lá atrás. Mas, como controlar as pessoas pelo capital? O que elas podem ser e fazer… É perturbador. No mesmo momento que podemos fazer tudo isso, estamos presos a tudo o que visitamos. Temos menos liberdade, apesar das capacidades de fazer mais coisas e falar com amigos. É outra coisa que não pensávamos que seria no início, essa relação da tecnologia somente pelo dinheiro.

Dá pra saber se algo crescerá como o Wikipedia, que não tem fins lucrativos?

Wozniak – Apesar de ser o melhor guia open source que temos, não vejo o Wikipedia como uma fonte valiosa. Mas, ainda assim, vemos exemplos de wikipedia apresentados por alguns grupos.

Sabemos que você adora se divertir com pegadinhas…

Wozniak – Eu gosto muito, mas desde que a brincadeira não cause nenhum dano a ninguém. Hoje é possível fazer uma pegadinha e espalhar a milhões de pessoas. Por isso mesmo eu faço com que as crianças usem seu lado criativo inclusive para as brincadeiras. Costumo levar esses princípios para as minhas aulas. Reforço que uma mesma brincadeira feita pela segunda vez já não tem mais graça, por isso a importância de usar a criatividade.

Sabemos que é um pouco introspectivo também.

Wozniak – Desde a escola eu sou tímido. Não por menos perdi um pouco disso quando passei a ‘trollar’ com os colegas. Eu cresci, mas sempre fui reservado. Preferia estar sozinho, na minha moto, fechado no capacete e longe das pessoas. Mas tive que rever tudo isso no momento que as pessoas se interessaram pela minha tecnologia. Comecei a falar com as audiências e perder aquele hábito de ‘me esconder’ com o trabalho.

Quais são os seus últimos projetos?

Wozniak – Comecei a criar algo que pudesse ser independente, que as pessoas aprendessem a partir dele o que quisessem e de formas distintas. Quero mostrar que é possível fazer um upgrade na vida e trabalhar na profissão que quiser.

Como aproveitar melhor o mundo digital?

Wozniak – Fiz muita coisa na minha vida utilizando a tecnologia de forma produtiva. Estudei, investi muito em design… O que eu posso sugerir aos jovens de hoje é não desperdiçar o tempo com futilidades, e sim curtir com coisas agregadoras que se divertem fazendo. É preciso pensar: “O que eu poderia fazer e me divertir se não tivesse nesse trabalho? É importante mensurar se tal desenvolvimento trará diversão proporcional.

O que acha dos Wearables?

Wozniak – Sou muito fã deles. São avanços que trazem coisas boas à vida. Eu mesmo utilizo muito o meu relógio quando estou no computador. Ele me traz muita informação importante sobre a minha saúde, por exemplo.

Acha que a tecnologia pode substituir os humanos?

Wozniak – A tecnologia faz coisas que contribuem para as ações dos humanos que sequer imaginávamos lá atrás, mas não é como como um messias. As máquinas podem até pensar melhor que os humanos, jogar simultaneamente um bilhão de jogos de xadrez ou realizar algumas tarefas mais rápido. Mas é preciso entender que o um cérebro precisa de 9 meses para ser construído, que é tempo da gestação de um bebê. Não dá por exemplo para construir um cachorro digital e esperar que ele seja igual a um verdadeiro. Os algoritmos nos ajudam em muitas tarefas, mas não podem substituir outras.

Qual mensagem você gostaria de deixar?

Wozniak – O território digital precisa ser protegido, claro, mas deve estar aberto à comunicação entre todos. Ao criar uma plataforma open source, é importante tirar o excesso de controles sobre ela e permitir que outras pessoas coloquem dados para melhorá-la. Além disso, seja verdadeiro, não tente vender uma mentira. Se alguém cria algo melhor, esteja aberto para ouvir e incorporar essas novas ideias de forma construtiva no seu projeto, ou mesmo convidar essa pessoa para participar e construir com você. A verdade é a essência de tudo o que é bom. Por isso não minta: seja honesto e reconheça quando assim for exigido.

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Por Dinalva Fernandes e Giuliano Gonçalves, da redação do E-Commerce Brasil