No terceiro dia do Fórum E-Commerce Brasil, um grupo de mulheres inspiradoras se reuniu para compartilhar suas experiências na liderança e gestão de pessoas nos Centros de Distribuição (CDs).
A plenária Gestão e Operações recebeu em seu palco Mariana Ferreira, gerente regional de logística do Magazine Luiza, Regina Rufino, gerente sênior de operações do Mercado Livre, e Lidiane Cristina dos Santos, subgerente regional de operações logísticas dos Correios em São Paulo.
Durante um painel com as líderes, foi reforçada a importância das figuras que trabalham ativamente nos CDs como motores essenciais do sucesso e satisfação do cliente após realizar a compra.
Gestão técnica e liderança humana
Mariana, Regina e Lidiane debateram o papel do gestor no engajamento de um time e na melhoria do serviço ofertado, além da diferença de uma gestão técnica e um verdadeiro líder. Enquanto o gestor técnico se baseia inteiramente em resultados, métricas e indicadores, um líder de verdade cria conexão, inspira e engaja as equipes ao mesmo tempo que busca por desempenho técnico.
“Um gestor técnico está focado no resultado. Já o líder que engaja está voltado para as pessoas, pois sabe que o resultado se alcança por meio delas”, explicou Mariana. Rufino acrescentou que é fundamental desenvolver o equilíbrio entre técnica e gestão de pessoas, com uma cultura organizacional consistente e bem estruturada que sustente esse equilíbrio.
Lidiane Cristina destacou que a gestão autocrática, focada apenas em números, gera obediência, mas não engajamento — essencial para a confiança e a produtividade. A confiança pode ser conquistada pela proximidade com o funcionário e seu cotidiano no CD. Estar presente e entender as possíveis dores dos colaboradores é indispensável para líderes que buscam construir uma confiança sólida.
A perpetuação da cultura organizacional
A consistência da cultura organizacional em diferentes turnos é um dos grandes desafios em Centros de Distribuição, onde lideranças e equipes mudam constantemente. No Mercado Livre, a cultura é sempre bastante reforçada pelos líderes, que são treinados para replicar o estilo de liderança desejado. “Gosto de conversar com os líderes e ensiná-los qual a maneira que gosto de gerir, para que possam replicar”, conta Regina, reforçando o impacto das ações diárias na manutenção da cultura da empresa.
No Magazine Luiza, há o Conselho de Colaboradores, eleito entre os funcionários e funcionando em prol da manutenção dos valores da empresa mesmo nos períodos mais intensos – geralmente datas especiais como a Black Friday, Dia das Mães ou Natal, quando é necessário aumentar o número de contratações temporárias e replicar a cultura da empresa para os recém-chegados se torna um desafio. Nos Correios, a troca periódica de gerentes entre turnos ajuda a criar empatia e evitar microculturas isoladas.
Inclusão e integração de temporários e múltiplas gerações
O setor logístico costuma contratar temporários em épocas de alta demanda. Para integrá-los, o Magazine Luiza realiza o onboarding prático e o programa “Parças”, em que funcionários experientes treinam os novos, criando um ambiente de acolhimento e pertencimento.
Também há a preocupação com o equilíbrio geracional, respeitando as diferenças entre colaboradores antigos e mais jovens, e valorizando o histórico dos mais experientes. Compreender a subjetividade das gerações é um fator indispensável no papel do líder de engajar seu time, e isso é alcançado por meio da proximidade com o funcionário.
No Mercado Livre, a preparação para picos de demanda envolve capacitação intensiva de líderes e multiplicadores, que são responsáveis por formar novos funcionários e promover o equilíbrio entre gerações para garantir desempenho e continuidade. Nos Correios, a integração é feita com tours nos CDs, apresentação da cultura e suporte emocional para os temporários, minimizando conflitos e facilitando a adaptação.
Autonomia responsável e eficiência com humanidade
No Magalu, a operação tem autonomia local para decisões, mas sempre alinhada a indicadores e padrões, o que acelera a resposta e mantém a qualidade. Nas palavras de Mariana Ferreira, “autonomia com responsabilidade” é um dos valores centrais.
A humanização do ambiente também faz diferença: Lidiane, dos Correios, ressaltou que um Centro de Distribuição deve ser um lugar agradável, com infraestrutura adequada, e que o gestor precisa usar os mesmos espaços que os colaboradores para realmente compreender suas condições e necessidades. A gestão humanizada conecta o propósito da empresa com o de cada pessoa, aumentando o engajamento e a retenção.
Comunicação e liderança que inspira
Todas as líderes concordaram que a comunicação é a competência mais importante para o desenvolvimento profissional e o sucesso da operação. Uma comunicação clara, direta e contínua entre turnos, gestores e equipes é essencial para evitar erros, alinhar processos e garantir engajamento.
Além disso, as líderes defendem uma liderança coach, que estimula a reflexão dos colaboradores sobre seu papel e legado, promovendo a autogestão e a resolução proativa de problemas. Um exemplo concreto ocorreu há poucos meses, quando um plano de ação auto-gerido por colaboradores aumentou a produtividade sem novas contratações ou investimentos, comprovando a eficácia da liderança humanizada.
Mulheres na operação: persistência e força contra crenças preconceituosas
As líderes reforçaram a importância de ter coragem e determinação para romper crenças limitantes e confiar na força e talento internos, especialmente para as mulheres que atuam em ambientes historicamente masculinizados como os CDs.
“Não importa como você está agora, mas sim terminar bem”, disse Mariana ao refletir sobre o cansaço que bate à porta muitas vezes. “A mente, mente. Mas o coração nunca mente. É preciso que acreditemos em nossos corações”, completou Regina, ressaltando a importância da resiliência, fé e propósito, que nunca devem ser deixados de lado.