A entrada do Mercado Livre no ramo farmacêutico pode ser um divisor de águas no setor e na vida dos consumidores brasileiros. Desde que o anúncio foi feito ao CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), algumas informações desencontradas confundiram o mercado e outros players digitais.

“Começamos a perceber um movimento do qual não compartilhamos dos valores, então optamos por realizar uma conversa transparente e aberta”, aponta Fernando Yunes, VP de Commerce da companhia.
De acordo com ele, o setor farmacêutico é um dos únicos no Brasil ainda pouco democratizado no ambiente digital. No Brasil, por uma questão de regulamentação, há uma dificuldade maior em compras online no segmento. “Há um espaço para explorar esse segmento com segurança”, afirma.
Nos Estados Unidos, China e maioria dos países europeus, é permitida a venda de medicamentos com e sem receita de forma regulamentada. O Mercado Livre já atua nesse tipo de venda no México, Colômbia, Argentina e Chile.
“Nosso objetivo não é competir com as farmácias, mas sim ter as farmácias vendendo dentro do Mercado Livre, mantendo o DNA de ser um marketplace e vendas 3P”, complementa. Hoje, redes de supermercados e varejistas de diversos segmentos, como moda, vendem dentro de marketplaces com lojas oficiais.
“Por não ser uma possibilidade, compramos uma farmácia para vender no modelo 1P, mas, paralelamente a isso, estamos conversando com os órgãos e políticos responsáveis para modernizar as políticas de venda online”, conclui.
Isso porque a regulamentação hoje possibilita a venda por fax, mas não por marketplaces, sendo que o primeiro encontra-se em desuso e o segundo pode possibilitar uma democratização do segmento.
Desmentindo enganos
“A aquisição da farmácia Cuidamos foi autorizada pelo CADE”, aponta Adriana Cardinali, Diretora Jurídica no Mercado Livre Brasil. “Somos entrantes neste mercado, temos o interesse, mas não vendemos medicamentos”.
Além disso, ela explica que o Mercado Livre também não presta serviços de telemedicina, como foi apontado pela Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma). O Mercado Livre alega que as acusações não são verdadeiras, uma vez que seu interesse não é se tornar uma farmácia, e sim um aliado delas.
A executiva defende que o marco regulatório precisa de uma atualização para acompanhar a sociedade e solicita que a Anvisa reflita sobre as possibilidades de oferecer regulamentação para que os players possam atuar no ambiente digital de forma segura e ética.
Menos competição, mais democracia
Tulio Landim, Diretor Sênior de Marketplace no Brasil, completa que a entrada do Mercado Livre neste ecossistema é uma oportunidade de alcance para as farmácias e de conveniência para os consumidores. “O que queremos possibilitar é que mais pessoas tenham acesso aos medicamentos em diversos pontos no Brasil”, afirma.
“Para as farmácias de pequeno e médio porte, o Mercado Livre oferece aumento de alcance em consumidores para além do bairro e capacidade de entrega”. As redes grandes também se beneficiariam, tal qual as redes supermercadistas presentes no marketplace.
“Por fim, a entrada neste segmento oferece um aumento de competitividade, garantindo os melhores preços e condições tanto para vendedores quanto para os consumidores finais”, conclui.
Segundo ele, a venda destes produtos online é segura, viável e necessária para eliminar barreiras econômicas e geográficas brasileiras.
Tudo isso, no entanto, depende da atualização das regulamentações. Antes disso, o Mercado Livre não venderá medicamentos online.