Como já não é surpresa, o mundo mudou nos últimos anos. As pessoas passaram muito mais tempo dentro de casa em decorrência da pandemia, o que alterou as relações com o espaço doméstico e as atividades do dia a dia. Plantas, pets, filhos, mais espaço para tomar sol, um cômodo para fazer o home office, um espacinho para fazer exercícios… E agora que voltamos a circular, como fica o equilíbrio entre o lar e todo o resto?
Foi pensando nisso que, em 2022 o E-Commerce Brasil deu início às conferências temáticas, focadas em nichos de atuação do e-commerce, orientadas ao entendimento das particularidades do e-commerce no período pós-pandemia. Em sua segunda edição, a Conferência Casa&Decoração abriu a agenda de eventos da empresa e abriu as portas para as reflexões e oportunidades de crescimento neste nicho.
Para falar sobre isso, Luís Cambraia, head de vendas da Neotrust, foi convidado para explicar as principais diferenças do mercado brasileiro entre 2022 e 2023, bem como os pontos de atenção e novas prioridades para o varejo brasileiro.
Contexto 2022
O ano passado foi um período de diversas adversidades para o varejo e para os consumidores, desde Guerra na Ucrânia até as incertezas políticas no Brasil, que consequentemente, impactaram as vendas.
Além disso, do ponto de vista dos consumidores, existe mais opção de compra com a retomada das lojas físicas, o que ocasionou quedas significativas no e-commerce.
A perda, explica o executivo ao analisar os dados de venda de 2022, é tanto da quantidade de consumidores circulando no ambiente digital quanto o índice de vendas em si. É preciso adicionar também que, em decorrência dos preços crescentes e da inflação, muitas pessoas estão optando por trocar produtos e lojas em busca de alternativas mais baratas.
O que mudou?
Entre as principais mudanças dos alicerces do e-commerce estão dois fatores que pareciam imutáveis: a soberania da categoria de telefonia e a expressividade das regiões Sul e Sudeste nos resultados gerais.
Telefonia, por exemplo, teve uma das quedas mais assustadoras, uma vez que o comportamento de troca de aparelhos estava superior durante a pandemia, e registrou queda em 2022. Para o palestrante, “os aparelhos vão durar mais tempo” na mão dos brasileiros e existe uma nova ideia de prioridade com relação ao que deve ser comprado e quando.
“As regiões com maior penetração (Sul e Sudeste) do e-commerce foram as que sofreram mais, puxando o resultado para baixo”, acrescentou Cambraia.
Pix
O crescimento do Pix nas vendas do e-commerce também é um fator a ser considerado, uma vez que substitui, em partes, o uso do boleto bancário. “O pix ainda é usado para produtos de ticket médio mais baixo”, diz Cambraia, pois produtos de maior valor precisam ser financiados ou parcelados no cartão de crédito.
Além disso, o uso do Pix está muito atrelado a algum tipo de condição oportuna para o consumidor, como descontos ou frete grátis, o que indica que, caso o consumidor tenha o dinheiro à vista, vai preferir gastá-lo do que pagar mais caro.
Enfim, Casa e Decoração
Ao observarmos a categoria de casa e decoração, tema da Conferência, é perceptível que o crescimento das vendas nos anos anteriores a 2022 foi mais robusto. No entanto, em 2022 houve um aumento do ticket médio, o que contribui no faturamento total da categoria. Ou seja, cresceu em faturamento, mas caiu em número de pedidos.
Com a volta para os escritórios e já tendo comprado diversos itens desde 2020, móveis para o home office, por exemplo, tiveram menos vendas em 2022. Outros segmentos da categoria, como espelhos, deixaram de ser prioridade para os consumidores e apresentaram quedas acentuadas.
Uma tal de Black Friday
Por causa dos jogos do Brasil durante a Copa do Mundo, cujo acontecimento coincidiu com a Black Friday, as vendas não foram tão expressivas em 2022. “Pela primeira vez, telefonia perdeu espaço para eletrodomésticos, muito em virtude da venda dos televisores para acompanhar as partidas”, diz o executivo.
Mesmo já esperando um comportamento diferente, a Black Friday assustou muitos lojistas e não teve o desempenho esperado: “estávamos acompanhando o faturamento de hora em hora para alguns clientes da Neotrust e não acreditamos no resultado, que foi inferior ao de 2021 para muitos lojistas”, ele explicou.
A mídia investida também precisou ser divida neste momento, de forma a impactar a performance.
Outra surpresa foi que os pequenos e médios empreendimentos digitais acabaram se saindo melhor do que os grandes e-commerces nesse cenário.
Por fim, as incertezas financeiras tiveram grande participação nas vendas mais tímidas da data, o que é explicado pelas incertezas políticas (proximidade das eleições presidenciáveis no Brasil), pela inflação e pela certeza do 13º.
Por esse motivo, muitos potenciais consumidores optaram por realizar mais compras na época do Natal do que na Black Friday, pois este é um período em que o 13º já está no bolso das pessoas.
Tendências e apostas
“2023 vai ser um ano difícil para o varejo de forma geral, acho que essa já é uma tendência esperada, porém sempre existem oportunidades no mercado, principalmente dentro dos nichos”, argumenta Cambraia.
Mesmo assim, algumas apostas podem ser observadas, como a continuidade do crescimento do setor de alimentos e bebidas no ambiente digital e a consolidação de setores até então considerados coadjuvantes, mas hoje expressivos, como farmácia e pets.
Para Cambraia, alguns fatores podem contribuir para o sucesso do e-commerce, mesmo com as atribulações esperadas para 2022. Ele destaca a importância da micro segmentação como uma oportunidade ser mais assertivo na entrega do que o consumidor de fato precisa, escolhendo com cuidado o sortimento de cauda longa e melhor compreensão da jornada de compra.
Este fator está atrelado a experiência e expectativa do consumidor em encontrar tudo o que precisa com a condição mais interessante para o seu ponto da jornada.
Por fim, ele reforça que o varejo terá um papel fundamental no financiamento do consumidor como fator decisivo da compra, considerando o cenário de crise e seletividade.
Dessa forma, o lojista terá que garantir que o consumidor compre mesmo que ele não tenha a condição estipulada pelo perfil da loja: parcelamento, promoções, cashback etc.
“É preciso ser criativo e menos seletivo, pois sem condições mais atraentes o consumidor não vai comprar”, explica. Além de tudo isso, se o consumidor tem uma boa experiência, a tendência é que ele compre mais de um item e que volte para comprar novamente.
“Hoje, mesmo com poucos produtos, se o lojista souber fazer uma boa segmentação, é possível ter lucro”, conclui o executivo, uma vez que a programação das lojas é mais fácil e existem diversas maneiras de produzir conteúdo e impulsionar o negócio em um ambiente digital aberto e consumidores mais adeptos a comprar online.
Confira os slides disponibilizados pelo palestrante: