A logística é um dos pilares invisíveis da economia moderna. É ela que garante que produtos cheguem ao destino certo, no tempo certo e, cada vez mais, com o menor impacto ambiental possível. Em um cenário de emergência climática, discutir sustentabilidade na cadeia logística deixou de ser diferencial: é responsabilidade corporativa.

O setor de transporte responde por quase 15% das emissões globais de gases de efeito estufa, segundo dados da Agência Internacional de Energia. No Brasil, o percentual é ainda mais preocupante: quase metade das emissões vem do setor de transportes, principalmente rodoviário, que ainda depende majoritariamente de combustíveis fósseis.
A boa notícia? A tecnologia tem sido uma aliada poderosa na transformação desse cenário.
1. Roteirização inteligente: menos quilômetros, menos carbono
Um dos avanços mais impactantes vem da otimização de rotas por inteligência artificial. Softwares modernos conseguem analisar múltiplas variáveis como: tráfego em tempo real, janelas de entrega, condições climáticas e localização de depósitos para traçar a rota mais eficiente.
Na prática, isso significa menos quilômetros rodados, menos tempo com o motor ligado e menor consumo de combustível. A economia não é apenas ambiental, mas também financeira. Empresas que adotam soluções de roteirização dinâmica têm registrado reduções de até 20% nos custos logísticos e até 30% nas emissões de CO₂ por entrega, segundo levantamento da McKinsey.
E temos visto esse impacto de perto: operadores que utilizam sistemas de gestão integrados conseguem melhorar a performance por entrega e ainda gerar dados estratégicos para tomada de decisão com foco em ESG.
A logística é um dos pilares mais potentes para acelerar práticas ESG de verdade, e não só pela redução de CO₂ com rotas otimizadas. Estamos falando de impacto real: no ambiental, com gestão inteligente de resíduos, uso racional de embalagens e consumo de energia; no social, garantindo segurança, inclusão e condições dignas para quem move as operações; e na governança, com rastreabilidade e transparência, na prática.
Formar carga com inteligência também evita desperdício, reduz a ociosidade de ativos e melhora o uso dos modais. Vale tanto para consolidar e rodar com menos eixos quanto para fracionar quando fizer mais sentido, seja trocando duas carretas por um truck ou o contrário. ESG que sai do discurso e vai para operação.
2. Veículos elétricos: uma transição inevitável
Outra peça-chave é a eletrificação da frota. Embora ainda enfrente desafios de infraestrutura e custo no Brasil, os veículos elétricos já se mostram eficientes em operações urbanas de curta distância, como a última milha – etapa que concentra parte relevante da poluição atmosférica.
Empresas como Mercado Livre, DHL e Ambev têm liderado essa transformação, com frotas elétricas próprias ou parcerias logísticas com operadores sustentáveis. E, com incentivos fiscais e expansão dos pontos de recarga, a tendência é que o modelo ganhe escala.
O impacto é direto: um caminhão leve elétrico pode reduzir até 70% das emissões por quilômetro rodado, sem contar a redução de ruído e melhora na qualidade do ar nas cidades.
3. Logística reversa: sustentabilidade que começa no pós-venda
Sustentabilidade também passa por repensar o fim da jornada. Com o crescimento do e-commerce, crescem também os retornos e as trocas de mercadorias. Uma logística reversa eficiente evita desperdício, reaproveita materiais, facilita a reciclagem e ainda fideliza o cliente ao oferecer uma experiência de devolução ágil e transparente.
Tecnologia, aqui, também faz a diferença: sistemas que automatizam a gestão de devoluções, classificam itens por condição de uso e reencaminham para o destino adequado, seja reestocagem, reparo, doação ou descarte responsável. Automatizar é reduzir impacto. Toda vez que eliminamos papelada, emissão manual, retrabalho e deslocamentos desnecessários, estamos não só ganhando eficiência, estamos descarbonizando. Há operações hoje que liberam cargas em minutos, com tudo digital, integrado e em conformidade.
Algumas marcas já vão além: usam a logística reversa como parte da experiência da marca. Exemplo disso são empresas que oferecem coleta domiciliar de embalagens ou produtos usados, criando uma cultura de circularidade e consumo consciente.
Sustentabilidade não se faz sozinha
É importante dizer: nenhuma tecnologia opera sozinha. Sustentabilidade na logística exige visão sistêmica, integração entre áreas e parcerias consistentes na cadeia. Não adianta eletrificar a frota se a roteirização é ineficiente. Não basta ter embalagens recicláveis se a coleta não acontece. A transformação exige cultura, dados e comprometimento.
Como especialista em logística e inovação, vejo diariamente que a tecnologia é a ponte entre eficiência operacional e responsabilidade ambiental. Mas a travessia só acontece quando há intencionalidade e quando o ESG deixa de ser discurso e vira prática concreta.
No fim das contas, reduzir emissões na logística é, também, uma forma de construir valor para a marca, para o consumidor e para o planeta.