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Quem não é visto não vende: varejos penalizam a indisponibilidade no digital

Por: Davi Song

Jo Hwi Song (Davi Song - em Português) é Co-fundador da Lett e atualmente Diretor da Business Unit Lett, marca do ecossistema Neogrid, empresa especialista em Trade Marketing Digital e E-commerce. Natural da Coréia do Sul, reside no Brasil há mais de 30 anos onde se formou em Engenharia de Produção Civil pela UFSC, posteriormente fazendo especialização em empreendedorismo pela UCLA, na Califórnia. Especialista em Saas B2B, inteligência de dados para compras online, com foco na construção de pontos digitais perfeitos para os consumidores.

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Você já parou para pensar em quanto custa não ter um produto disponível para venda? No e-commerce, a indisponibilidade vai muito além da simples perda da venda pontual. Ela desencadeia um efeito dominó que compromete visibilidade, relevância e até a percepção da marca. A lógica é simples: se o consumidor não encontra seu produto, ele vai embora. E o algoritmo dos varejos, além de perceber, também pune.

Pessoa segurando um cartão de crédito em frente a um notebook que exibe a imagem de uma cafeteira e a palavra "ESGOTADO".
Imagem gerada por IA.

Com o avanço da inteligência dos mecanismos de busca nos e-commerces, estar fora de estoque deixou de ser apenas um problema comercial e passou a ser também um problema de performance digital. A indisponibilidade afeta diretamente o posicionamento dos produtos nas buscas, reduz sua visibilidade e, consequentemente, sua capacidade futura de gerar receita. Isso ocorre em um cenário de concorrência cada vez mais acirrada, no qual o crescimento do share of search se torna uma das principais portas de entrada na jornada de compra.

Num ambiente em que, segundo a Amazon, 70% das compras começam na barra de busca e 86% das vendas se concentram entre os dez primeiros resultados, aparecer bem posicionado virou questão de sobrevivência. Isso porque o consumidor tende a entender que a seleção dos primeiros produtos apresentados, por diversos fatores, já resolve sua busca pelas melhores ofertas. Quando um produto entra em ruptura, esse lugar privilegiado começa a escorregar pelas mãos. E não se engane: reconquistar o topo é um desafio.

O impacto da indisponibilidade cresce com o tempo e a recuperação exige esforço

Basta um único dia de indisponibilidade para que quase metade dos produtos que estavam no top 5 das buscas despenquem para além da 30ª posição. Esse é um dos dados mais contundentes revelados no estudo mais recente da Lett, que analisou os impactos da ruptura nas prateleiras digitais. Isso não só impede a venda imediata, como faz o produto praticamente desaparecer da vitrine digital. Mesmo após o item voltar a ficar disponível, o retorno ao topo leva, em média, dois dias.

O tempo em ruptura afeta diretamente a quantidade de posições perdidas, mas não altera o tempo necessário para a normalização. Ou seja, a indisponibilidade tem um efeito duplo: trava a venda no curto prazo e compromete a visibilidade no longo prazo. Um prejuízo que se acumula.

A pesquisa também evidencia que produtos de alto giro costumam ser os mais afetados, pois, quanto maior o volume e a frequência de buscas, maior o impacto negativo quando o item some. O segmento alimentar é um exemplo em que esse efeito se torna bem visível, visto que – dentro do período analisado – em 16% dos dias existiam lojas online oferecendo produtos patrocinados indisponíveis para compra.

A ruptura também sabota suas campanhas de mídia

Os efeitos da indisponibilidade vão além da busca orgânica, atingindo também as campanhas pagas. Imagine pagar por cliques em um banner que direciona o consumidor a uma página com o produto esgotado. É desperdício de verba e frustração garantida.

Dados do estudo mostraram que, ao longo de um ano, foram registrados quase 26 dias com produtos patrocinados indisponíveis, mesmo com investimento em mídia. Pior: em muitos casos, os produtos continuaram aparecendo bem ranqueados, contribuindo para uma experiência negativa. O consumidor encontra, clica, mas não consegue comprar. Isso enfraquece a confiança, tanto na loja quanto na marca.

E o impacto é ainda mais grave quando o produto indisponível aparece nas primeiras posições patrocinadas. Para quem investe pesado em retail media, não monitorar a disponibilidade em tempo real é um erro caro, pois se perde dinheiro duas vezes: quando se investe capital no patrocínio e depois quando a venda não é efetuada.

Planejamento, estratégia e parceria

Diante desse cenário, a gestão de disponibilidade precisa deixar de ser apenas uma responsabilidade operacional para se tornar prioridade estratégica. A indústria deve ir além da entrega no centro de distribuição: é fundamental garantir que o estoque seja monitorado, atualizado e disponível na ponta, seja em marketplaces, pure players ou em qualquer canal digital.

O alinhamento entre marketing, trade, supply chain e canais digitais deixou de ser diferencial. É mandatório. Planejar campanhas sem garantir disponibilidade é arriscar investir alto para não vender nada.

A indisponibilidade não é um mero detalhe técnico, mas um risco estratégico. Compromete o faturamento, prejudica o desempenho orgânico e pago, e corrói a confiança do consumidor. Quando o cliente se frustra repetidamente por não encontrar um produto, ele simplesmente troca de marca.

A principal mensagem do estudo é clara: sem disponibilidade, não há visibilidade. Em um ambiente digital regido por alta competitividade e decisões em milissegundos, a indisponibilidade não gera apenas perdas financeiras, mas também reduz o alcance orgânico e compromete a eficiência da mídia.

Qual a solução?

Pela minha experiência trabalhando junto com grandes indústrias, o que realmente muda o jogo é um monitoramento constante e alinhamento estratégico próximo ao varejo. Assim, em datas sazonais – em que há maior busca pelo produto – ou diante de qualquer cenário previsível, é possível antecipar gargalos e proteger o que mais importa: a confiança e a tranquilidade do consumidor para realizar sua compra online.

No fim, não se trata apenas de vender mais. Trata-se de não desaparecer. Afinal, o consumidor só compra o que consegue encontrar.