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O ponto cego dos dados que só os sinais conseguem iluminar

Por: Adriano da Silva Santos

Sócio da Tamer Comunicação, Adriano da Silva Santos é jornalista formado pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE) e pós-graduando em MBA de Marketing pela USP/ESALQ. Com experiência em assessoria de imprensa, gestão de crises e administração de redes sociais, atua nos mercados de capitais, economia e investimentos. É certificado em Marketing de Conteúdo pela Rock Content, Marketing Digital nas Redes Sociais pelo Sebrae e Marketing Digital pela RD University.

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A fronteira do marketing digital já não gira ao redor do formato da vez e começa a depender de algo mais simples e mais exigente: entender o que as pessoas realmente fazem dentro das plataformas. Durante muito tempo, cookies dispersos, clusters genéricos e perfis imaginados pareciam suficientes, até deixarem de explicar os comportamentos que importam. Hoje, as marcas perceberam que dados rasos já não sustentam decisões profundas. O que ganha força são os sinais mais próximos da ação, livres de intermediários e capazes de revelar o rastro concreto deixado no ato de navegar, hesitar e decidir. É nessa leitura que o marketing volta a enxergar o que estava escondido.

Pessoa analisando gráficos de desempenho em celular enquanto notebook ao fundo exibe estatísticas e mapa mundial.
Imagem: Freepik.

Esse novo terreno favorece modelos guiados por sinais reais, que revelam nuances nas quais as segmentações amplas se perdem. A diferença entre rotular alguém como interessado em finanças e observar que essa pessoa abandona formulários ao encontrar taxas, mas retorna diante de simulações de prazos, mostra o salto dessa abordagem. A lógica deixa de prever gostos e passa a ser observar microgestos. Quanto mais o sistema registra essas pequenas oscilações, mais nítida fica a paisagem e mais coerentes se tornam as escolhas estratégicas. A cada rodada, a comunicação se aproxima do que o público busca naquele instante, sem depender de adivinhações.

Quando os microgestos dizem mais que grandes clusters

Por trás dessa leitura, existe uma métrica pouco conhecida fora dos times técnicos, responsável por medir o quanto cada novo sinal melhora o desempenho do modelo. É como testar se uma peça recém-instalada realmente melhora o funcionamento do motor. Quando esse ganho passa da casa dos 12% em janelas curtas, padrões relevantes começam a emergir com clareza. No e-commerce, isso já permite detectar o momento exato em que alguém está prestes a desistir de uma compra. A resposta deixa de ser distribuída para todos e passa a ser construída para a necessidade específica, reduzindo justamente o atrito que aquela pessoa tenta evitar.

À medida que esses sinais se acumulam, surge uma camada de interpretação que não existia nos modelos tradicionais. Em vez de reagir a grandes blocos de audiência, as equipes passam a enxergar pequenas variações que indicam interesse, dúvida, confusão ou intenção. A rolagem lenta em um trecho, a pausa em uma frase específica, o retorno a um ponto já visto e até a velocidade ao trocar de página formam um mapa vivo do comportamento. Esse mapa muda o ritmo das decisões porque revela onde existe fricção real e onde existe oportunidade invisível, aproximando a estratégia do que as pessoas fazem, e não apenas do que as métricas dizem.

Transformação interna: do reativo ao estratégico

Essa nova forma de observar transforma o dia a dia das equipes. A urgência permanente abre espaço para ciclos mais pensados, em que hipóteses são testadas com precisão e ajustes acontecem no tempo certo. A narrativa deixa de depender do humor dos algoritmos e passa a seguir uma linha mais sólida. Com a base técnica mais clara, a criatividade ganha profundidade e intenção. O tempo antes consumido por incêndios operacionais vira espaço para ideias que permanecem relevantes por semanas porque nascem de comportamentos reais, não de palpites. O impacto aparece tanto na qualidade das entregas quanto na consistência da estratégia.

O efeito financeiro acompanha esse movimento. Quando decisões são guiadas por sinais reais, o custo por aquisição diminui, o orçamento passa a render mais e a dependência de impulsionamento constante perde espaço. Equipes deixam de gastar energia corrigindo erros repetidos e começam a investir com direção. Setores como o de educação e o já falado varejo já colhem esse efeito ao antecipar a queda de interesse antes que ela aconteça. Em vez de correr atrás da conversão perdida, trabalham para evitar que ela se perca, o que muda toda a lógica de operação. O retorno deixa de ser uma aposta e passa a ser consequência de uma leitura mais precisa.

Ou seja, ao passo que o uso inteligente de dados próprios se espalha, fica evidente que não se trata apenas de uma técnica, mas de uma nova forma de construir entendimento. Sistemas que aprendem com o público substituem métodos baseados em perfis fixos e intuições frágeis. As decisões passam a acompanhar a dinâmica real das pessoas, que mudam rápido, buscam outras coisas e deixam pistas que só se revelam para quem sabe observá-las. Quem aprende a ler esses movimentos descobre que o futuro do marketing não está em prever, mas em perceber o que já está ali, silencioso e cheio de intenção, aguardando para ser interpretado.