A hipocrisia dos dados tem nome, sobrenome e CNPJ. E provavelmente está na sua empresa agora.
Tem uma epidemia silenciosa no mercado brasileiro: todo mundo é “data-driven“ no LinkedIn, mas ninguém consegue explicar como calculou o CAC do último trimestre sem abrir cinco planilhas diferentes.

O teatro corporativo dos dados
Você já viu esta cena: reunião de diretoria, alguém apresenta um gráfico bonito, todo mundo balança a cabeça concordando, decisão tomada. Três meses depois, ninguém sabe se deu certo ou errado porque… bem, ninguém mediu direito.
Bem-vindo ao Brasil, onde “decisão baseada em dados” significa “peguei o número que justifica o que eu já queria fazer mesmo”.
Os números que expõem a farsa
22% das empresas brasileiras (segundo pesquisa da Opinion Box) disponibilizam dados para todos, e 31% não adotam qualquer ferramenta de BI.
41% dos profissionais não reconhecem uma cultura orientada a dados nas próprias empresas, segundo o Data Trends 2024 (Opinion Box e Looqbox, com 1.001 respondentes).
E tem mais: 30% dos profissionais gastam mais de uma hora por dia apenas PROCURANDO informações. Isso dá mais de 20 horas desperdiçadas por mês. Por pessoa.
O problema não é falta de ferramenta
Aqui vai uma verdade inconveniente: Brasil não tem escassez de tecnologia. Tem excesso de ego e falta de competência técnica! Empresas brasileiras gastam MILHÕES em CDP, DMP, plataformas de BI e ferramentas de automação. E usam menos de 15% das funcionalidades.
As três tribos da autoilusão
Tribo 1 – Os colecionadores de dashboards
Têm 47 dashboards no Looker Studio. Ninguém olha. Mas são lindos, coloridos, cheios de gráficos. Servem mais para reunião de ego boost do que para tomada de decisão.
Taxa de uso real? Taxa de utilidade? Ninguém sabe!
Tribo 2 – Os charlatões da IA
Colocaram “IA” no título do cargo, na bio do LinkedIn e na apresentação para investidores. O que fazem de IA de verdade? Prompts no ChatGPT pra escrever e-mail marketing.
Chamam isso de “transformação digital orientada por inteligência artificial”. Mas percebe que isso não é um uso transformador, e sim um uso comum, que a maioria das pessoas estão fazendo com IA?
Tribo 3 – Os refratários iluminados
Esses são os piores. Sabem que estão atrasados, reconhecem o gap, mas acham que “experiência de mercado” compensa a falta de dados.
Intuição sem dados é só achismo com diploma – achismo + dados.
O que realmente separa quem usa de quem finge
Fiz um exercício simples: peguei 20 empresas que se dizem avançadas em analytics e fiz cinco perguntas:
1. Quanto tempo leva pra calcular o ROI incremental de uma campanha?
2. Qual o seu modelo de atribuição e por que o escolheu?
3. Como você avalia a qualidade dos dados antes de tomar uma decisão?
4. Qual a última decisão que você NÃO tomou por causa dos dados?
5. Quanto do budget de marketing vai para infraestrutura de dados vs. mídia?
17 das 20 travaram na pergunta 4. Porque, veja bem, ninguém usa dados para EVITAR decisões ruins. Só usam pra justificar as que já querem tomar e toda vez que o dado é inconveniente para a opinião da pessoa, ela questiona…
O teste definitivo da sinceridade
Responda com honestidade:
– Você confia 100% nos números que apresenta pro CEO?
– Você consegue explicar por que uma conversão aconteceu, não só contar quantas foram?
– Você sabe a diferença entre um dado estar certo e ser útil?
– Você já mudou de ideia por causa do que os dados mostraram?
– Você investe em dados proporcionalmente ao quanto diz que eles importam?
Se respondeu “não” para três ou mais, parabéns: tá na hora de você mudar seu pensamento, seu stack e a maneira como você gere seus investimentos.
O Panorama Digital Analytics Brasil
Diferente daqueles relatórios internacionais traduzidos às pressas, essa pesquisa está mapeando a realidade brasileira SEM filtro de marketing.
Participantes recebem:
– Posicionamento real comparado com pares do setor
– Benchmark honesto de maturidade (sem ego)
– Roadmap técnico baseado em onde você ESTÁ, não onde você acha que está
– Acesso aos dados completos do mercado
Mas o principal valor? Acabar com a ilusão!
A verdade nua e crua
O Brasil não está no jardim de infância dos dados (como o Lucian Fialho mencionou) porque falta tecnologia. É porque falta humildade pra admitir o atraso e coragem pra investir em mudança de verdade.
Menos apresentação em PDF sobre “cultura data-driven”. Mais gente competente mexendo em SQL, Python e arquitetura de dados. Menos buzzword. Mais resultado mensurável.
O que você pode fazer agora
Participar do Panorama Digital Analytics 2025. A coleta vai até o fim de novembro. Resultados em dezembro.
Ou continuar fingindo que tá tudo bem enquanto perde mercado para quem parou de se enganar.
P.S.: Se você está ofendido com este texto, provavelmente é porque acertei. E você sabe disso.
P.P.S.: Os dados vão revelar qual setor está mais atrasado. Aposta em qual? Spoiler: não é o que você imagina.