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Do data-driven ao people-driven: por que os dados precisam de contexto humano

Por: Murilo Borrelli

CEO da ROI Mine, é graduado em Marketing pela Universidade Anhembi Morumbi, com MBA em Marketing e Comunicação Digital pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). Ao longo de seus 10 anos de carreira, acumulou grande experiência e concluiu especializações nas áreas de vendas, marketing digital, Google AdWords, Facebook e Instagram Ads, SEO e geração de leads, inbound marketing e otimização de sites.

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Vivemos a era da abundância de dados. Cada clique, cada rolagem de tela e cada segundo de atenção é metrificado, empacotado e analisado em tempo real. O marketing se tornou, legitimamente, mais preciso, mensurável e orientado à performance. Mas essa evolução técnica trouxe consigo um risco silencioso, especialmente às marcas que querem criar conexões reais: o culto ao dataísmo, uma crença quase religiosa de que os dados, por si só, são capazes de revelar todas as verdades.

Mulher observa atentamente gráficos em notebook, em ambiente com parede de tijolos e luz natural.
Imagem gerada por IA.

Popularizado por Yuval Noah Harari, o termo dataísmo descreve a ideologia que valoriza os dados como o maior bem da humanidade e prega que tudo, inclusive decisões humanas complexas, pode ser reduzido a algoritmos. Na teoria, soa eficiente. Na prática, é perigoso. Porque os dados, descontextualizados de cultura, empatia e repertório humano, são apenas números frios que não traduzem, de fato, os desdobramentos de uma realidade mais profunda. São informações que mostram o que está acontecendo, mas raramente explicam o porquê.

Contextualização humana faz a diferença

Como especialista em marketing orientado por dados, entendo que o verdadeiro poder do marketing está na convergência entre dados e pessoas, algo que costumo chamar de people-driven e que é capaz de transformar números em decisões estratégicas com impacto real. Afinal, dados não contam histórias por conta própria, eles são insumos. Quem conta a história somos nós, profissionais capazes de ouvir, entender o comportamento, reconhecer nuances culturais e tomar decisões que considerem o fator humano.

Imagine um dashboard que aponta queda na taxa de abertura de e-mails em uma campanha. O dado está ali, incontestável. Mas só a interpretação humana pode entender que isso ocorreu porque a comunicação ignorou o contexto emocional do público durante uma semana sensível. Ou porque o tom da mensagem, embora validado por diferentes testes, soou desrespeitoso para determinada comunidade. É aí que entra o repertório cultural, empático e humano.

People-driven: o encontro entre ciência e sensibilidade

Ser people-driven não é renunciar à ciência dos dados. É usá-la como uma lente, com maturidade, e não como um oráculo capaz de trazer todas as respostas. É reconhecer que dados revelam padrões, mas não significados. É lembrar que toda métrica esconde uma história e que os consumidores são mais do que leads ou cliques: são pessoas, com dores, desejos e decisões que transcendem qualquer modelo preditivo.

A armadilha do dataísmo cego está em acreditar que a objetividade dos números basta, mas precisamos lembrar que marketing é uma ciência humana. É claro que os dados são nossos aliados, no entanto, é o olhar crítico, ético e sensível que transforma informação em ação, e resultados em relevância.

Acredito que a próxima fronteira do marketing não seja apenas mais inteligência artificial, mais automação ou mais dados, mas sim mais inteligência humana aplicada ao uso dessas informações e ferramentas. Trata-se, enfim, de inteligência contextual, e é isso que faz, de verdade, com que uma marca seja guiada por pessoas.