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O custo invisível de um atendimento fragmentado

Por: Oswaldo Garcia

CEO da NeoAssist

Atual CEO da NeoAssist, Oswaldo já passou por cargos de liderança em startups de tecnologia e grandes empresas como Kovi, Garos Capital, BCG, Petrobras e Ambev. Possui MBA pela Harvard Business School, além de graduação em engenharia mecânica pela Universidade de Brasília. É especialista em áreas como Empreendedorismo; Estratégia e operações de negócios; Tecnologia; SaaS; Private Equity / Search Funds.

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Canais isolados criam ilhas de informação: dados do cliente espalhados em chat, e-mail, WhatsApp, telefone e redes sociais, sem histórico unificado. Quando cada contato nasce e morre em um lugar diferente, perde-se o contexto do caso, repetem-se perguntas e alongam-se prazos de resolução. O cliente percebe a quebra de continuidade e a operação sente no retrabalho.

Atendente de suporte com headset, demonstrando preocupação diante do computador.
Imagem gerada por IA.

O que significa integrar, na prática

Integração não é apenas ligar ferramentas. No dia a dia do e-commerce, envolve:

– Registro único do contato: um identificador que una interações de chat, e-mail, WhatsApp e voz.
– Histórico compartilhado: o operador visualiza o que já foi feito, sem solicitar dados repetidos.
– Roteamento por intenção e prioridade: cada demanda entra na fila correta, respeitando as SLAs do negócio.
– Políticas consistentes entre canais: regras iguais para trocas, prazos e devoluções, evitando decisões contraditórias.
– Leitura de dados em janelas curtas: painéis simples para acompanhar SLA, backlog, abandono e reaberturas ao longo do dia.

Como a fragmentação aparece no dia a dia

A fragmentação não é um evento isolado. É um padrão operacional que surge quando o histórico do cliente não acompanha a conversa e cada canal parece começar do zero. Também ocorre quando informações divergentes circulam entre equipes de atendimento, logística, pagamentos e antifraude, gerando respostas diferentes para o mesmo caso.

Exemplos comuns:

– Pós-compra: o cliente reporta atraso no e-mail e, ao migrar para o WhatsApp, precisa repetir CPF e número do pedido.
– Pagamentos: dúvidas sobre boleto ou recusa no cartão viram múltiplos tickets, sem vincular tentativa, antifraude e política comercial.
– Trocas e devoluções: cada canal aplica um procedimento distinto, gerando reaberturas e prazos inconsistentes.
Logística: perguntas frequentes e informações sobre entrega não estão visíveis ao operador; a conversa reinicia a cada contato.

No contato inicial, os bots costumam expor esse problema quando:

– não conseguem responder às perguntas recorrentes ou repetem a mesma instrução;
– dificultam a transferência para um humano quando a situação exige;
– não deixam claro o que já foi tentado, obrigando o cliente a repetir dados.

Pesquisas recentes sobre experiência do cliente mostram um padrão consistente: consumidores aceitam melhor a IA no suporte quando há facilidade de transferência para agente humano em casos complexos, resolução efetiva já no primeiro contato e linguagem clara, objetiva e útil.

Na prática, o desenho do fluxo precisa deixar visível a ‘saída para humano’, priorizar FCR nas intenções críticas e padronizar mensagens para reduzir retrabalho e frustração.

Outro ponto frequente é quando o CRM não reflete o que ocorreu no chat, no e-mail ou na voz. Na prática, significa que status, tags e resumo do caso não são atualizados no registro principal do cliente. O próximo operador não enxerga tentativas anteriores, refaz perguntas e alonga os prazos, elevando reaberturas e custo por contato.

Custos invisíveis que viram prejuízo

O impacto financeiro existe, mesmo quando não é contabilizado linha a linha. Três frentes concentram a maior parte das perdas.

– Tempo do operador: minutos gastos para reler o chamado e solicitar dados já informados, por falta de histórico unificado e de resumo objetivo do caso.
– Primeira resposta que não resolve: reaberturas e recontatos ocorrem quando o cliente não consegue concluir a ação indicada ou recebe informação imprecisa. Exemplo típico: seguir o passo a passo de troca ou devolução, não conseguir finalizar e voltar a contatar pelo mesmo motivo. A métrica-chave aqui é o FCR (First Contact Resolution): quanto maior o FCR, menor a chance de reabrir.
– SLA inflado: filas crescem sem ganho de resolução quando há devolução de casos, transferências sem contexto e políticas inconsistentes entre canais, pressionando escala e horas extras.

Esses custos não aparecem como uma fatura única, mas se acumulam ao longo do mês em backlog, produtividade menor e satisfação mais baixa. O efeito se materializa em Tempo Médio de Atendimento (TMA), reaberturas e custo por contato, impactando diretamente a capacidade e a margem.

O cliente sente a falta de continuidade

A experiência quebra quando a conversa muda de canal ou de equipe e recomeça do zero. Instruções desencontradas, promessas diferentes e ausência de prazos claros deterioram a confiança. O resultado é aumento de esforço do cliente, mais contatos repetidos e risco de churn.

Para evitar essa ruptura, operações de e-commerce adotam fluxos de trabalho que conectam setores e dão visibilidade sobre onde cada caso está. Na prática, o chamado circula com responsável definido, status e prazo por etapa. É possível, por exemplo, estabelecer SLAs por área para manter continuidade: SAC responde em até dez minutos, financeiro em até duas horas, logística em até quatro horas. Em um cenário comum, uma reclamação sobre boleto feita em rede social é registrada, encaminhada ao time correto e acompanhada até a emissão do novo documento. O histórico e as tentativas anteriores ficam visíveis, reduzindo retrabalho, atrasos silenciosos e promessas conflitantes.

Métricas para quantificar o impacto

Mensurar transforma o invisível em priorização clara.

– FCR (First Contact Resolution): percentual de casos resolvidos no primeiro contato, sem reabrir nem transferir.
– Reabertura e recontato: sinalizam que a primeira resposta não resolveu.
– TMA (Tempo Médio de Atendimento) por canal: separa problemas de tempo de leitura/triagem de tempo de execução.
– Abandono por janela de tempo: alerta para filas estranguladas em horários específicos.
– Percentual de contatos evitáveis: revela problemas a montante do atendimento e aponta oportunidades de conteúdo e automação.
– Custo por contato por canal: conecta operação a finanças e orienta investimento onde o impacto é maior.

O que muda na prática

Integração não é um projeto único, é um método de trabalho. Ao substituir ilhas de informação por continuidade de jornada, a operação reduz retrabalho, encurta prazos e melhora resolução. O cliente percebe consistência e o efeito financeiro aparece como menor custo por contato, menos reaberturas e risco menor de churn. Em operações mais maduras, é comum observar estabilização do custo por contato e queda consistente de reaberturas nas intenções cobertas, à medida que o histórico acompanha a conversa e as políticas ficam mais claras.