Por Marcelo Mariaca*
Empresas reclamam com frequência que não conseguem cumprir suas metas, atingir os objetivos estabelecidos e implementar suas estratégias. Também se queixam de que as margens de lucro também estão em queda, independentemente da conjuntura econômica. Muitos executivos indagam para que serviu todo o processo de reestrutura e reengenharia ditado pelos gurus da administração, se as empresas de um modo geral ficaram mais fragilizadas.
Frequentemente ouço executivo lamentarem que estão cansados de enxugar, cortar custos, demitir profissionais, num processo infindável, sem que a empresa atinja o desempenho exigido pelos acionistas. Segundo eles, a cada espirro da economia, a cada crise, a cada avanço da concorrência, são obrigados a fazer mudanças profundas na empresa, o que afeta negativamente o clima organizacional e traz mais prejuízos em longo prazo que avanços reais. De um deles, ouvi que se sente enxugando gelo o tempo todo.
O que, na realidade, está acontecendo com as empresas?
A concorrência torna-se cada vez mais acirrada, em âmbito global, e é natural que uma empresa tenha de conviver com o desafio de oferecer produtos e serviços mais competitivos, ou seja, com mais qualidade e a preços compatíveis. Por isso, em muitos casos, ela terá de espremer suas margens e cortar custos para não ser pisoteada pelos concorrentes. Em outros casos, a organização sofre impactos de eventos externos, como a crise global com a qual convivemos desde 2008, e precisa se estruturar ou redefinir suas metas para não naufragar. Os humores dos investidores nas bolsas também afetam a gestão das empresas.
Mas tudo isso é efeito, e não causa dos verdadeiros desafios.
Um dos maiores desafios das empresas é a inovação. Somente as organizações que colocam a inovação como prioridade, e são capazes de viabilizar as boas ideias, têm condições de gerar valor, superar a concorrência, blindar-se contra crises e ter um crescimento realmente sustentável. Mas, admitamos inovação não é uma coisa fácil, que se encontra na prateleira. Também não é como muitos acreditam uma exclusividade das empresas de alta tecnologia ou apenas o resultado dos investimentos em pesquisa e nos laboratórios das empresas. Inovação, pelo contrário, envolve todos os aspectos do negócio, como novas formas de gestão, novos processos de produção, desenvolvimento de novos mercados, de novos clientes e de novos canais. A inovação também depende de parceiras estratégicas. E, principalmente, do desenvolvimento de novos talentos.
É justamente nesse ponto que boa parte das organizações fracassa, por não conseguir atrair, reter e motivar os talentos e os parceiros estratégicos que são, sem dúvida alguma, os responsáveis pela inovação.
Ainda existem lideranças que acreditam que podem criar valor e melhorar os balanços reduzindo ao máximo o número de profissionais e obrigando os “sobreviventes” a trabalhar o máximo, impondo metas irrealistas e economizando nos prêmios e bônus.
Esses líderes vão continuar enxugando gelo.
*Marcelo Mariaca é presidente do conselho de sócios da Mariaca e professor da Brazilian Business School.