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Como combater o Pinkwashing e apoiar a causa LGBTQIA+ da melhor forma nas empresas

Por: Juliana Bertoni

Juliana Bertoni é headhunter na QiBit, unidade especializada em talentos de tech & digital da Gi Group Holding, multinacional italiana, líder em soluções integradas para capital humano. Possui mais de 10 anos de experiência em recrutamento e seleção, com foco em TI e posições de Executive Search. Fala sobre experiência do candidato e do colaborador; diversidade, equidade e inclusão; e consultoria em recursos humanos.

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Agora que passou o Mês do Orgulho LGBTQIA+, multiplicaram-se campanhas, ações publicitárias e lançamentos “temáticos” promovidos por empresas que, à primeira vista, demonstraram apoio à diversidade. No entanto, cresceu também o debate sobre até que ponto essas ações refletem, de fato, um compromisso genuíno com a inclusão, ou se configuram como Pinkwashing: uma estratégia de marketing que se apropria de causas sociais para promover marcas, sem mudanças estruturais ou políticas internas condizentes.

Cubos de madeira com letras formando a sigla LGBTQIA+ sobre um fundo com as cores do arco-íris.
Imagem: Freepik.

Recentemente, um episódio envolvendo uma criadora de conteúdo trans ilustrou bem esse problema. Ela recebeu um presente de uma empresa que trazia o nome que lhe foi designado no registro civil, e que já não corresponde à sua verdadeira identidade. O erro, além de profundamente ofensivo, expõe o despreparo e a negligência por trás da ação. Situações assim, infelizmente, não são incomuns, mesmo entre empresas que se dizem “aliadas” da causa LGBTQIA+.

Por que o Pinkwashing prejudica a reputação e a cultura empresarial

Do ponto de vista corporativo, o Pinkwashing é especialmente problemático porque esvazia o sentido de responsabilidade social das organizações e expõe incoerências que afetam não apenas a reputação da marca, mas também a confiança dos consumidores, dos talentos e do mercado. Para os profissionais de Recursos Humanos, liderança e governança, é um alerta: o engajamento com a causa LGBTQIA+ não pode ser reativo nem superficial. Precisa ser estruturado, estratégico e integrado à cultura da empresa.

A primeira medida efetiva é o autodiagnóstico. Empresas que desejam atuar de forma ética precisam entender sua realidade interna. Quantos profissionais LGBTQIA+ fazem parte do quadro atual? Estão distribuídos em diferentes níveis hierárquicos? Existem líderes LGBTQIA+? Há políticas de atração, retenção e desenvolvimento específicas para esse público? Sem esse levantamento, toda ação externa corre o risco de parecer e ser meramente simbólica.

Diversidade se constrói com escuta e participação ativa

Além disso, a diversidade precisa estar presente também nos grupos que desenham as iniciativas de inclusão. Programas pensados por equipes homogêneas tendem a repetir vieses e limitações. É indispensável abrir espaço para diferentes vozes, construir ambientes de escuta ativa e investir no letramento de lideranças, gestores e colaboradores. Conhecimento e consciência são fundamentais para reduzir preconceitos e promover mudanças duradouras.

Outro ponto essencial é a criação de políticas claras e mensuráveis: planos de carreira igualitários, protocolos contra discriminação, canais de denúncia seguros e indicadores de diversidade que sejam monitorados com seriedade. Quando a diversidade é tratada como parte da estratégia de negócios, e não como ação isolada de marketing, os resultados se refletem no clima organizacional, na inovação, na reputação da marca e na atração de talentos.

Compromisso com a causa exige coragem para mudar

Empresas que desejam se posicionar de maneira autêntica não devem temer o desconforto que vem com o processo de transformação. Ele é necessário. E é nesse movimento de escuta, revisão de práticas e mudança de cultura que está o verdadeiro compromisso com a equidade.

O mercado já não tolera narrativas inconsistentes. O futuro pertence às organizações que conseguem traduzir seus valores em ações concretas. E, nesse caminho, apoiar a causa LGBTQIA+ vai muito além das cores da bandeira: é uma decisão de gestão, de ética e de responsabilidade com o mundo que queremos construir.