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Brand management na era digital: muito além da identidade visual

Por: Fatima Bana

Com formação internacional na área de marketing pela University of Califórnia (UCLA/USA), MBA em aprendizagem cognitiva e neurociências, Fatima Bana é mestre em comportamento de consumo e soma mais de 15 anos de experiência em estratégias e inteligência de marketing digital e offline no varejo, travel, tecnologia e bens de consumo. Ela que já atuou como diretora executiva na Gafisa, Accenture, Tivit, foi Head de Marketing na LATAM e CMO da Buser, está a frente da Rent a CMO, empresa de consultoria focada em Growth.

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Tradicionalmente, o brand management focava na criação e manutenção de elementos visuais consistentes, como logotipos, paletas de cores, tipografia, guidelines de uso, além do desenvolvimento de mensagens-chave que comunicassem o posicionamento desejado. Embora esses elementos permaneçam importantes, eles agora constituem apenas a fundação sobre a qual experiências de marca mais sofisticadas são construídas.

Mulher trabalhando em computador que exibe diretrizes de identidade visual de uma marca, com paleta de cores e tipografia.
Imagem gerada por IA.

A marca moderna é fundamentalmente experiencial. Cada interação que um cliente tem com a organização – seja navegando no website, interagindo com chatbots, recebendo e-mails personalizados, ou visitando lojas físicas – contribui para a percepção geral da marca. E essa realidade cria tanto oportunidades quanto desafios sem precedentes para os gestores.

Experiências emocionais constroem lealdade profunda

A oportunidade reside na capacidade de criar experiências verdadeiramente diferenciadas, que geram conexões emocionais profundas com clientes. Marcas que conseguem orquestrar vivências consistentes e relevantes através de todos os pontos de contato podem construir níveis de lealdade que eram inimagináveis na era pré-digital. A Amazon exemplifica essa capacidade criando uma experiência de marca tão fluida e conveniente que se tornou sinônimo de e-commerce para milhões de consumidores.

O desafio, contudo, é proporcional à oportunidade. Manter consistência de marca por meio de dezenas ou centenas de pontos de contato, muitos dos quais são digitais e automatizados, requer capacidades organizacionais sofisticadas. Uma única experiência negativa pode se espalhar viralmente nas redes sociais, com potencial para causar danos duradouros à reputação da marca. Simultaneamente, a velocidade da inovação digital significa que novos pontos de contato emergem constantemente, cada um requerendo consideração cuidadosa sobre como a marca deve se manifestar.

A fragmentação da atenção do consumidor adiciona outra camada de complexidade. Onde antes marcas podiam alcançar audiências massivas por meio de alguns canais de mídia dominantes, hoje devem navegar um ecossistema fragmentado de plataformas sociais, aplicativos móveis, dispositivos conectados e experiências físicas. Cada plataforma tem suas próprias normas culturais, limitações técnicas e expectativas de audiência, requerendo uma adaptação cuidadosa, que não comprometa sua consistência fundamental.

Dados e métricas guiam a percepção da marca

Essa realidade tornou a gestão de marca uma disciplina intensamente baseada em dados. Marcas modernas devem monitorar continuamente como são percebidas em seus múltiplos canais, analisando padrões de comportamento do cliente e ajustando estratégias em tempo real, sempre com base em feedback quantitativo e qualitativo. Ferramentas de social listening, análise de sentimento e customer journey mapping se tornaram tão essenciais quanto os guidelines tradicionais.

A personalização emergiu como uma expectativa fundamental dos consumidores, criando tensão interessante entre consistência de marca e relevância individual. Os clientes querem que marcas os reconheçam como indivíduos únicos e adaptem suas experiências às suas preferências específicas, entretanto, eles também esperam que a essência da marca permaneça reconhecível e confiável. Equilibrar essa tensão requer sofisticação estratégica e operacional.

Métricas de brand equity evoluíram para refletir essa nova realidade. Enquanto medidas tradicionais como awareness, consideration e preference permanecem relevantes, elas são complementadas por indicadores mais nuançados como Net Promoter Score, Customer Effort Score, share of voice digital, engagement rate e customer lifetime value. Essas métricas fornecem uma visão melhor sobre como a marca está performando em diferentes dimensões da experiência do cliente.

A velocidade se tornou fator crítico na gestão de marca moderna. Ciclos de feedback que antes levavam meses agora ocorrem em dias ou horas. As marcas devem ser capazes de detectar mudanças na percepção rapidamente e responder de forma apropriada sem comprometer a qualidade ou consistência. Essa necessidade de agilidade requer estruturas organizacionais mais flexíveis e processos de tomada de decisão mais eficientes.

Colaboração interdisciplinar também se tornou essencial. Brand managers modernos devem trabalhar alinhados com equipes de tecnologia, dados, customer experience e operações para criar experiências coesas. A marca não pode mais ser pensada como responsabilidade isolada do departamento de marketing; ela deve ser integrada em todas as funções organizacionais que tocam o cliente.

Sustentabilidade e responsabilidade social emergiram como componentes críticos do brand equity. Consumidores, especialmente gerações mais jovens, esperam que as marcas tomem posições em relação a questões sociais e ambientais. Essa expectativa cria oportunidades para a diferenciação autêntica, mas também pode gerar riscos significativos se os posicionamentos forem percebidos como superficiais ou inconsistentes com as ações organizacionais.

A globalização digital criou a necessidade de pensar a marca em escalas local e global simultaneamente. Elas devem manter a consistência enquanto se adaptam a nuances culturais, regulamentações locais e preferências regionais. Essa complexidade é amplificada pela velocidade com que conteúdo pode se espalhar através de fronteiras geográficas e culturais.