O varejo brasileiro encerrou outubro com desempenho acima do esperado e mostrou a maior alta mensal desde março, mesmo em um cenário de crédito restrito e juros elevados. Os dados divulgados pelo IBGE indicam que o setor conseguiu romper a sequência de resultados próximos de zero que vinha marcando o ano.

As vendas do comércio varejista avançaram 0,5% em outubro na comparação com setembro, contrariando a projeção da Reuters, que estimava recuo de 0,1%. É a variação positiva mais intensa desde março, quando havia sido registrado aumento de 0,7%.
Na comparação anual, o volume vendido cresceu 1,1%, também superando as expectativas de queda de 0,2%. Segundo Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE, o resultado rompe o padrão recente de variações pequenas ou negativas e mostra um avanço disseminado, já que sete dos oito segmentos analisados tiveram crescimento.
Setor reage apesar do crédito caro
O varejo opera sob impacto direto da política monetária restritiva, que dificulta o acesso ao crédito e freia o consumo. Ao mesmo tempo, o mercado de trabalho segue aquecido, com renda em níveis elevados, o que tem ajudado a sustentar alguma demanda. Ainda assim, o setor acumulou retração em cinco dos últimos sete meses.
A decisão do Banco Central de manter a taxa Selic em 15% ao ano reforça a perspectiva de juros altos por um período prolongado. Para analistas, isso limita uma recuperação mais consistente do setor. André Valério, economista sênior do Inter, avalia que o resultado de outubro representa mais uma recomposição das perdas recentes do que uma mudança de tendência.
Desempenho por segmento
Entre os segmentos que registraram avanço em outubro estão Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (3,2%), Combustíveis e lubrificantes (1,4%), Móveis e eletrodomésticos (1,0%) e Livros, jornais, revistas e papelaria (0,6%). Outros artigos de uso pessoal e doméstico (0,4%), Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (0,3%) e Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,1%) também apresentaram alta.
O único recuo ocorreu em Tecidos, vestuário e calçados, com queda de 0,3%. De acordo com Santos, a redução foi puxada principalmente pelo segmento de vestuário e acessórios.
No comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças, além de material de construção e atacado de produtos alimentícios, bebidas e fumo, houve aumento de 1,1% em relação a setembro. As vendas de veículos, motos, partes e peças cresceram 3,0% e o material de construção avançou 0,6% no período.
Com o avanço de outubro, o varejo ensaia uma recuperação pontual, mas ainda sob influência de fatores macroeconômicos que seguem limitando o ritmo de crescimento.