Logo E-Commerce Brasil

Tarifaço dos EUA pressiona mercado de luxo europeu e expõe fragilidade do setor

Por: Alice Lopes

Jornalista no E-Commerce Brasil

Jornalista no E-commerce Brasil, graduada pela Universidade Nove de Julho e apaixonada por comunicação.

Ver página do autor

Comprar uma bolsa da Louis Vuitton ou uma roupa da Gucci pode estar fora do alcance da maioria, mas o mercado de luxo continua sendo motor de consumo global. Em 2024, o setor movimentou cerca de 1,48 trilhão de euros no mundo, segundo a Bain & Company. Agora, o tarifaço de 15% imposto pelos Estados Unidos sobre produtos da União Europeia, origem dos principais artigos de luxo, coloca em xeque parte dessa engrenagem comercial.

Bolsas birkin- Congresso ECBR de Luxo
(Imagem: reprodução)

Impacto das tarifas no consumo de alto luxo

Especialistas avaliam que as tarifas dificilmente vão afastar os consumidores habituais das marcas de prestígio. Esse público, mais imune a variações de preço, tende a absorver aumentos sem alterar substancialmente seus hábitos de compra. Além disso, a ampla margem de lucro dessas grifes permite que muitas optem por não repassar integralmente o custo extra ao consumidor.

No entanto, o impacto pode ser maior em marcas menos consolidadas ou em itens de maior rotatividade, como bolsas, calçados, perfumes e cosméticos, em que a sensibilidade de preço é mais perceptível. A preocupação cresce porque os Estados Unidos representam um dos maiores mercados para o luxo europeu: a relação comercial entre o país e a União Europeia respondeu por 30% das trocas globais em 2024, movimentando cerca de US$ 2 trilhões, segundo o Conselho Europeu.

O setor de bebidas também sente o efeito direto das tarifas. A Federação de Exportadores de Vinhos e Licores Franceses (FEVS) alertou que as medidas podem reduzir as vendas em até 25% nos EUA, o que equivale a perdas de 1 bilhão de euros e ameaça 600 mil empregos ligados à cadeia produtiva.

A crise silenciosa da moda de luxo

Mesmo antes do tarifaço, o mercado de luxo já vinha enfrentando turbulências. Em 2024, o setor de moda italiano, que inclui roupas, joias, óculos e beleza, faturou 96 bilhões de euros, queda de 5,3% em relação ao ano anterior, segundo a Câmara Nacional da Moda.

Grupos gigantes também sofrem. A francesa Kering, controladora da Gucci, registrou queda de 62% no lucro líquido em 2024, para 1,13 bilhão de euros. A receita caiu 12%, para 17,19 bilhões de euros, impactada principalmente pela queda de 23% nas vendas da Gucci, que enfrenta dificuldades persistentes.

Mudança de gerações e novos hábitos

Parte da crise se explica pela transformação do perfil do consumidor. Enquanto o público acima dos 40 anos segue sendo o principal cliente das grifes, os mais jovens demonstram menor apego a bens de alto valor. Experiências, tecnologia e estilo de vida pesam mais do que itens como bolsas icônicas ou carros de luxo.

Além disso, fatores como insegurança urbana e instabilidade econômica global influenciam na decisão de compra. Em tempos de guerras e inflação, cresce a tendência de austeridade mesmo entre os consumidores mais ricos.

O que esperar daqui para frente

Se o tarifaço de 15% vai ou não redesenhar o futuro do mercado de luxo europeu, só o médio e longo prazo dirão. Por ora, o cenário mostra um setor que já vinha em retração e que agora enfrenta um desafio extra em um de seus maiores mercados consumidores. A combinação de tarifas, instabilidade econômica e mudança de hábitos das novas gerações pode acelerar um processo de transformação estrutural para as grifes globais.

Congresso E-Commerce de Luxo 2025

O futuro do luxo no digital está em pauta. Participe do Congresso E-Commerce de Luxo, do E-commerce Brasil, que acontece no dia 02 de setembro de 2025, no Tivoli Mofarrej, em São Paulo (SP). O encontro reunirá marcas, especialistas e cases inspiradores para discutir estratégias e inovações no segmento de alto padrão. Uma experiência exclusiva para quem quer elevar sua atuação no varejo digital. Nos vemos lá?