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Sucessão e transformação: o futuro das empresas familiares

Por: Alice Lopes

Jornalista no E-Commerce Brasil

Jornalista no E-commerce Brasil, graduada pela Universidade Nove de Julho e apaixonada por comunicação.

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Durante o Congresso Alimentos & Bebidas do E-Commerce Brasil, Sandro Benelli fez um alerta direto ao setor: as empresas familiares só terão futuro se conseguirem enfrentar dois pontos críticos — sucessão e transformação. Ele é coordenador acadêmico do MBA de Gestão Empresarial na FGV e especialista em governança corporativa e familiar, além disso, atua como professor de governança corporativa e familias, governanca e ESG na FGV.

governança e sucessão familiar nas empresas
(Imagem: Carol Guasti Fotografia/E-commerce Brasil)

“Famílias empreendedoras moldaram o passado e moldarão o futuro dos negócios, mas os desafios de hoje são diferentes dos de ontem”, afirmou. Para ele, o principal erro para quem empreende é postergar decisões fundamentais. No mundo dos negócios, procrastinar significa não ter amanhã.

A urgência da sucessão bem planejada

Benelli destaca que a sucessão de gerações na liderança não deve acontecer apenas quando se torna inevitável. Pelo contrário: o ideal é iniciar o processo com pelo menos cinco anos de antecedência. A ausência de planejamento abre espaço para conflitos geracionais, desinteresse dos herdeiros e resistência à profissionalização — problemas que minam a continuidade do negócio.

Ele reforça que sucessão não é um evento, mas um processo. E esse processo precisa de método, clareza e estrutura. “É preciso preparar o sucessor antes que seja necessário. Não espere o imprevisto”, alertou.

Um dos modelos citados por Benelli para entender as dinâmicas internas das empresas familiares é o dos três círculos: família, propriedade e gestão. Quando esses papéis não estão claramente definidos, cresce o risco de decisões desalinhadas e conflitos internos.

O futuro exige transformação de mentalidade

Além da sucessão, outro desafio urgente é a transformação digital — que, para Benelli, vai além da adoção de tecnologia. “Transformação digital é, antes de tudo, mudar a mentalidade. O cliente mudou, o mercado mudou, e o talento também mudou”, afirmou.

Uma pesquisa da PwC apresentada durante a palestra revelou que 85% das empresas familiares consideram a transformação digital uma prioridade, mas apenas 30% têm um plano claro. Sem ação, o risco é de obsolescência.

Adaptar-se ou desaparecer se tornou uma escolha inevitável para negócios familiares. Isso exige uma mudança de postura em relação à inovação, à gestão de talentos e à estrutura do negócio.

Tradição com inovação: a fórmula das empresas que vão liderar

Benelli afirma que a longevidade das empresas familiares dependerá da capacidade de combinar tradição e inovação. E propõe três caminhos práticos para alinhar sucessão e transformação:

  • Educar a nova geração para que assuma papéis de liderança com mentalidade digital;
  • Valorizar a mistura entre experiência e renovação, sem perder o foco em inovação;
  • Abrir espaço para talentos externos, trazendo novas visões e qualificações à gestão.

Ele também apontou os principais riscos enfrentados por empresas familiares que não se preparam: conflitos internos, falta de meritocracia, dependência excessiva dos dividendos, gestão pouco profissional, dificuldades de acesso ao capital externo e redução do valor de mercado por falta de escala.

Apesar dos desafios, Benelli reconhece as vantagens estruturais desse modelo: visão de longo prazo, flexibilidade, identidade com a marca, lealdade, agilidade e forte cultura empresarial. Mas reforça que esses pontos só serão sustentáveis se acompanhados de profissionalização, governança e planejamento sucessório.

A hora de agir é agora

Benelli encerrou sua participação com um recado direto ao público:

A melhor forma de honrar o passado é preparar o futuro. Comecem hoje a conversa sobre sucessão e transformação. As famílias empresárias que liderarem a mudança agora serão as que deixarão legado amanhã.”