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Remessa Conforme: após dois anos, o que mudou? Especialista comenta

Por: Amanda Lucio

Jornalista e Repórter do E-Commerce Brasil

As recentes mudanças no regime de importação e a criação do Programa Remessa Conforme, em 2023, representaram um marco para o comércio eletrônico brasileiro. Segundo a Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX), as medidas trouxeram avanços em arrecadação, empregos e competitividade, mas ainda não foram suficientes para garantir isonomia tributária entre o varejo nacional e as plataformas estrangeiras.

Mulher etiquetando caixa de papelão para entrega
(Imagem: Reprodução)

Vendas e geração de empregos

De acordo com dados do IBGE, os 11 meses seguintes à retomada da cobrança de impostos sobre sites internacionais mostraram recuperação do varejo nacional, com destaque para tecidos, vestuário e calçados, que cresceram 5,47%, após queda de 0,60% no mesmo período anterior.

Outros segmentos também apresentaram melhora:

  • Móveis e eletrodomésticos: +4,63%
  • Materiais de construção: +4,44%
  • Artigos de uso pessoal e doméstico: +3,49%

O impacto foi sentido também no mercado de trabalho. Dados do CAGED mostram que o setor gerou 194 mil empregos formais e cerca de 1 milhão de postos indiretos desde 2023, reforçando o papel das medidas no fortalecimento da economia interna.

“As medidas adotadas desde 2023 trouxeram resultados concretos em arrecadação, geração de empregos e investimentos no mercado interno. Mas ainda convivemos com uma disparidade gritante: enquanto produtos vendidos por lojas brasileiras chegam a arcar com carga tributária próxima de 90%, as plataformas estrangeiras seguem com a metade deste peso”, afirma Edmundo Lima, diretor-executivo da ABVTEX.

Arrecadação e equilíbrio fiscal

O fim da isenção de imposto para plataformas internacionais também contribuiu para o equilíbrio das contas públicas. Segundo a Receita Federal, o comércio — incluindo varejo e atacado — recolheu R$ 246 bilhões em tributos federais em 2024, um aumento de R$ 36,9 bilhões em relação a 2023.

Nos primeiros 12 meses de vigência das novas regras (ago/24 a jul/25), a arrecadação com o Remessa Conforme somou R$ 3 bilhões, ante R$ 371 milhões no mesmo período anterior — crescimento de mais de 700%.

Investimentos e competitividade

O setor varejista nacional também voltou a investir. Cinco grandes redes de moda planejam R$ 2,8 bilhões em aportes em 2025, enquanto o comércio como um todo projeta R$ 100 bilhões até 2026.

No mesmo período, as plataformas estrangeiras anunciaram apenas R$ 750 milhões em investimentos para cinco anos, valor considerado irrisório diante da relevância do varejo nacional.

Desafios e riscos

Apesar dos avanços, a ABVTEX ressalta que o Remessa Conforme ainda não eliminou práticas irregulares como o subfaturamento para enquadramento no limite de US$ 50, pirataria e falsificação de produtos.

Além disso, os produtos importados por marketplaces internacionais não passam pelos mesmos controles aplicados à indústria e ao varejo brasileiros, como os de ANVISA, ANATEL e INMETRO — o que pode representar riscos à saúde, segurança e ao meio ambiente.

Cenário internacional e tendência global

O movimento de defesa dos mercados internos também tem se intensificado no exterior.

  • Estados Unidos aplicaram tarifa de 54% sobre remessas simplificadas de plataformas asiáticas.
  • Chile, Equador e Uruguai elevaram as taxas de importação sobre pacotes enviados por e-commerce estrangeiro.
  • Na União Europeia, estão em discussão tarifas de fiscalização e sanções ambientais a produtos que não atendam normas locais.

“O Brasil deu um passo importante, mas ainda há muito a ser feito para assegurar concorrência justa, qualidade dos produtos e proteção do consumidor”, conclui Lima.