Logo E-Commerce Brasil

Marcas de luxo entram na mira da Justiça da Itália por possíveis irregularidades na cadeia produtiva

Por: Alice Lopes

Jornalista no E-Commerce Brasil

Jornalista no E-commerce Brasil, graduada pela Universidade Nove de Julho e apaixonada por comunicação.

Ver página do autor

A promotoria de Milão ampliou o alcance de uma investigação que vem pressionando algumas das principais casas de moda do mundo. Documentos emitidos nesta quinta-feira mostram que 13 novas marcas, entre elas Gucci, Versace e Yves Saint Laurent, passaram a ser consideradas suspeitas de recorrer a subcontratados que exploram trabalhadores chineses em território italiano. Todas as empresas seguem amparadas pela presunção de inocência.

Bolsas de luxo
(Imagem: reprodução)

Segundo o pedido de informações ao qual a AFP teve acesso, promotores encontraram bolsas, carteiras e peças de roupas dessas marcas em oficinas italianas onde havia, de acordo com a investigação, mão de obra chinesa submetida a condições graves de exploração. Os itens estavam em fábricas de pequeno porte que operavam de forma clandestina.

O procedimento envolve marcas do grupo francês Kering, como Gucci, Yves Saint Laurent e Alexander McQueen, além de Givenchy, do grupo LVMH. Também estão citadas as italianas Prada e Versace, Ferragamo, Pinko, Dolce & Gabbana, Missoni, Off-White, a fabricante de artigos de couro Coccinelle e até a Adidas.

Diante do material apreendido, a promotoria solicitou que as empresas enviem rapidamente documentos relativos às suas cadeias de fornecimento, como auditorias internas e contratos com fornecedores.

Setor já acumulava outros casos sob investigação

A Justiça italiana vinha monitorando práticas semelhantes envolvendo outras marcas de peso. Dior, Tod’s, Alviero Martini, uma subsidiária da Armani e o especialista em cashmere Loro Piana já haviam sido mencionados em apurações anteriores conduzidas pelos promotores de Milão.

As investigações apontam falhas estruturais na supervisão das cadeias produtivas. Em alguns casos, trabalhadores recebiam salários muito baixos e dormiam nas próprias oficinas para atender à demanda por produtos vendidos depois por valores elevados no varejo internacional.

Pelas leis italianas, empresas podem ser responsabilizadas por infrações cometidas por fornecedores autorizados, mesmo que indiretamente. Organizações que atuam na defesa de trabalhadores da moda afirmam que denúncias desse tipo ocorrem há décadas no país.

A repercussão levou o governo italiano a se manifestar. O ministro da Indústria e do Made in Italy, Adolfo Urso, declarou que a reputação do país estava “sendo atacada”, defendendo o setor e afirmando que eventuais irregularidades precisam ser apuradas sem comprometer a imagem geral da indústria de moda italiana.

A apuração reacendeu questionamentos sobre a autenticidade do selo “Made in Italy” como garantia de ética e transparência. Especialistas afirmam que o modelo de terceirização em múltiplas camadas cria brechas difíceis de monitorar, permitindo que oficinas clandestinas se escondam ao longo da cadeia produtiva.

Kering no centro da pressão

Embora a investigação não tenha formalizado acusações até o momento, a Kering está no centro da atenção. A maior parte das marcas que aparecem na lista pertence ao grupo, que inclui Gucci, Saint Laurent, Bottega Veneta, Balenciaga, Alexander McQueen e Brioni. O volume de itens apreendidos coloca pressão adicional sobre suas práticas de compliance e controle de fornecedores.

Promotores buscam entender se as empresas tinham conhecimento das irregularidades ou se a falta de fiscalização permitiu que oficinas clandestinas se mantivessem ativas para reduzir custos operacionais.

O caso deve ganhar novos desdobramentos nos próximos meses. A depender dos resultados, o setor de luxo poderá enfrentar uma revisão profunda de seus processos produtivos para atender a padrões mais rígidos de rastreabilidade e responsabilidade social.