Logo E-Commerce Brasil

Tarifas nos EUA: empresas e consumidores assumem custos crescentes

Por: Alice Lopes

Jornalista no E-Commerce Brasil

Jornalista no E-commerce Brasil, graduada pela Universidade Nove de Julho e apaixonada por comunicação.

Ver página do autor

Apesar das declarações do Presidente norte-americano Donald Trump de que as tarifas impostas pelos Estados Unidos seriam absorvidas por países e empresas estrangeiras, indicadores econômicos e pesquisas acadêmicas apontam em outra direção. Empresas locais, grandes varejistas e consumidores americanos estão arcando com aumentos graduais de preços, tendência que deve se intensificar nos próximos meses.

Bandeira dos Estados Unidos tremulando entre arranha-céus no centro da cidade.
(Imagem: Freepik)

Trump afirmou em publicação no Truth Social que as tarifas não causaram inflação significativa e que o dinheiro arrecadado reforçou o Tesouro. Contudo, análises de economistas, pesquisas acadêmicas e indicadores de importação apontam o contrário: os custos têm se espalhado pelas cadeias de suprimentos e pressionado preços domésticos.

Dados de importação mostram estabilidade nos preços, sem redução que indicasse absorção pelos exportadores estrangeiros. Para o economista Olu Sonola, da Fitch Ratings, o cenário evidencia que quem paga a conta são importadores, varejistas e, em última instância, os consumidores.

Estimativas indicam aumento do repasse aos consumidores

Levantamento do Goldman Sachs projeta que a participação dos consumidores no pagamento dos custos tarifários suba de 22% em junho para 67% em outubro, podendo chegar a 100% ao considerar os efeitos indiretos de reajustes de preços domésticos.

O professor Alberto Cavallo, da Harvard Business School, calcula que os bens importados já custam 5% mais que o esperado sem tarifas, enquanto produtos fabricados internamente subiram 3%. Para ele, o repasse tende a se intensificar de forma gradual ao longo de até dois anos.

Pesquisas do Federal Reserve de Atlanta confirmam essa tendência: empresas de diferentes setores planejam aumentos de preços maiores em 2025, com estimativas que passaram de 2,5% no fim de 2024 para 3,5% em maio deste ano.

Impactos diretos no varejo e no consumo

Grandes varejistas já admitem os efeitos. O CEO do Walmart, Doug McMillon, afirmou que a companhia enfrenta aumentos semanais de custos, embora tente manter preços acessíveis pelo maior tempo possível.

Para consumidores de baixa renda, os reajustes graduais podem ser sentidos de forma mais dura. Estudos mostram que famílias com orçamentos apertados têm feito escolhas difíceis, como reduzir alimentação ou atrasar contas para acomodar gastos adicionais.

Economistas descrevem esse movimento como “sneakflation”, repasses discretos e frequentes que tornam a alta de preços menos perceptível, mas constante.

A expectativa é que os custos tarifários continuem a se espalhar pela economia americana nos próximos meses, reforçando o peso sobre o consumo interno e exigindo ajustes cada vez mais complexos do varejo.