Poucos dias após o lançamento oficial do Mais Correios, seu novo marketplace, os Correios informaram ao governo federal que poderão precisar de um aporte financeiro para melhorar o caixa da estatal. O alerta foi feito ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e posteriormente discutido com integrantes da Casa Civil, Gestão e Comunicações em uma reunião ocorrida em 16 de junho.

Segundo a reportagem da Folha de São Paulo, a equipe econômica já sinalizou que não há espaço no orçamento para socorrer a estatal. No entanto, técnicos do governo reconhecem que o cenário é delicado e admitem que uma injeção de recursos da União, possivelmente entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões, pode se tornar inevitável. Apenas para este ano, a necessidade estimada seria de R$ 2 bilhões.
A situação financeira da empresa se agravou nos últimos meses. O prejuízo saltou de R$ 633,5 milhões em 2023 para R$ 2,6 bilhões no ano passado. No primeiro trimestre de 2025, o rombo foi de R$ 1,7 bilhão, mais que o dobro do mesmo período em 2024.
Medidas de contenção
Entre as medidas adotadas para conter a crise estão a venda de imóveis, a implementação de um programa de demissão voluntária (PDV) e o lançamento do marketplace. A estatal também contratou R$ 1,8 bilhão em empréstimos neste ano junto ao Citibank, BTG Pactual e ABC Brasil. As operações não têm garantia do Tesouro Nacional, mas a União é acionista única da companhia.
Além disso, os Correios negociam um financiamento de R$ 3,8 bilhões com o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o Banco do Brics. Para conseguir a garantia da União exigida para a operação internacional, a empresa precisa demonstrar solidez financeira e atingir uma nota mínima de capacidade de pagamento (Capag). Caso a negociação fracasse, o pedido por aporte direto pode ganhar força.
Governo em alerta
O maior temor dentro do governo é que os Correios, atualmente empresa independente, tornem-se dependentes do Tesouro para despesas correntes, o que forçaria sua inclusão no Orçamento Federal, impondo limites para remuneração e investimentos. Isso adicionaria uma despesa de até R$ 20 bilhões anuais em um cenário já pressionado pelas regras fiscais.
A crise financeira se explica por uma combinação de queda nas receitas e alta nas despesas. Um dos principais fatores negativos foi a perda de participação nas entregas de encomendas internacionais após o início do programa Remessa Conforme, da Receita Federal. Com a nova tributação sobre compras de até US$ 50, os Correios deixaram de ser o principal canal de entrada de pequenos pacotes, perdendo cerca de R$ 2,2 bilhões em receitas.
Custos elevados
Além disso, os custos operacionais da estatal cresceram. Em 2024, os gastos com pessoal aumentaram 8,1% e os custos totais subiram 4,7%. No primeiro trimestre de 2025, a tendência continuou, com avanço de 9,1% nas despesas com pessoal e de 3,2% nos demais custos.
Em meio à crise, o Ministério da Gestão e Inovação já reconheceu o déficit acumulado de R$ 3,2 bilhões em 2024 — uma alta de 780% no prejuízo anual. Para tentar reverter o cenário, a administração da estatal traçou uma estratégia que inclui reforço nas operações de e-commerce, foco em contratos públicos e recuperação de créditos tributários.
* Com informações da Folha de São Paulo