A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) enfrenta uma nova onda de críticas devido a falhas recorrentes em seus serviços, em meio ao agravamento de sua crise financeira. Na última terça-feira (20), o site Downdetector, que monitora instabilidades em plataformas digitais, registrou um pico de notificações de usuários relatando problemas no sistema de rastreamento, site e demais funcionalidades da estatal. As primeiras ocorrências começaram a ser reportadas ainda na segunda-feira (19).

O volume de queixas também aumentou significativamente no Reclame Aqui, especialmente por atrasos nas entregas e encomendas não recebidas. A sobreposição dos relatos em diferentes plataformas sugere um colapso pontual na malha logística da estatal.
Em nota, os Correios atribuíram os transtornos a ajustes contratuais com fornecedores estratégicos, o que teria impactado sua operação nos últimos dias. A empresa afirma ter adotado medidas emergenciais para restabelecer os prazos de entrega e minimizar prejuízos aos consumidores, com expectativa de normalização a partir da próxima semana. A companhia também informou que programou operações extras nas principais localidades do país para o final de semana de 24 e 25 de maio.
Segundo os Correios, as rotas que atendem São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Bahia e Espírito Santo já estão operando dentro da normalidade. A estatal reiterou seu compromisso em oferecer soluções logísticas de abrangência nacional e declarou que mantém monitoramento contínuo da malha.
Déficit bilionário e pressão política
A crise operacional coincide com um cenário financeiro adverso. Em 2024, os Correios registraram um prejuízo de R$ 2,6 bilhões, o maior da história recente da estatal. Os gastos elevados com patrocínios também têm gerado questionamentos no Congresso. Uma comissão no Senado prepara uma investigação informal, apelidada de “mini CPI”, para apurar os investimentos da empresa.
Entre os principais gastos em 2024 estão R$ 6 milhões em patrocínio ao festival Lollapalooza e R$ 4 milhões à turnê “Tempo Rei”, de Gilberto Gil. O total desembolsado em patrocínios neste ano chega a R$ 34 milhões, salto expressivo em relação à média de R$ 430 mil anuais entre 2019 e 2022. Para 2025, a empresa confirmou apenas um repasse de R$ 1,3 milhão ao Encontro de Novos Prefeitos e Prefeitas, evento com presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Além da deterioração financeira, os Correios também enfrentaram, em abril, uma paralisação de fornecedores logísticos por atrasos em pagamentos. Há ainda denúncias de que os repasses ao plano de saúde dos servidores foram suspensos, afetando atendimentos médicos.
Medidas de contenção
A gestão da estatal, liderada por Fabiano Silva dos Santos, afirma que R$ 1,6 bilhão foi investido nos últimos dois anos em tecnologia, infraestrutura e renovação da frota. Como medida de contenção de gastos, os Correios anunciaram recentemente um plano para reduzir a jornada de trabalho para seis horas diárias e suspender temporariamente as férias dos funcionários, com ajustes proporcionais de remuneração.