Com mais de 34 mil participantes de 102 países, cerca de 900 startups, 180 parceiros e um impacto estimado de R$ 1,5 bilhão até 2028 na economia do Rio de Janeiro, o Web Summit Rio 2025 consolidou-se como o maior evento de tecnologia e inovação da América Latina. Mas, mais do que números, esta edição marcou o momento em que o Brasil deixou de seguir tendências para exportar inovação – em escala, com identidade e propósito.

Durante os quatro dias de evento, os palcos foram ocupados por discussões que atravessaram setores, fronteiras e narrativas, revelando que o futuro da tecnologia será fluido, descentralizado, orientado por pessoas e, cada vez mais, falado com sotaque brasileiro. Muito além dos números, o Web Summit Rio mostrou que o Brasil não está apenas acompanhando a transformação digital – está moldando seus rumos.
Rio AI City, acordo com a prefeitura e Brasil como potência energética
A cerimônia de abertura, no domingo (27), apresentou o projeto Rio AI City, que transformará o Parque Olímpico em um campus de inteligência artificial movido a energia limpa, com capacidade de até 3 gigawatts até 2032. O anúncio foi acompanhado pela renovação do acordo entre a prefeitura do Rio e os organizadores do Web Summit para mais cinco anos de evento na cidade, sinalizando o compromisso de longo prazo com a inovação tecnológica.
A ministra Luciana Santos (MCTI) destacou os investimentos do governo federal em centros de inovação, startups lideradas por mulheres e inteligência artificial, com um plano nacional que prevê R$ 23 bilhões em aportes. O tom das conversas do evento já foi estabelecido desde o começo: o desenvolvimento do Brasil passa pela tecnologia, pela transição energética e pela inclusão.
O futuro é colaborativo, regulado e com sotaque local
A segunda-feira (28) trouxe debates contundentes sobre o papel social da tecnologia e os desafios regulatórios da IA. Em um painel com representantes do Brasil e da Alemanha, discutiu-se a urgência de uma regulação ética e globalmente coordenada para a inteligência artificial. O Brasil foi apresentado como referência em governança digital, inclusão via Pix e avanço em identidade digital, com destaque para o Gov.br.
O painel da Microsoft reforçou esse posicionamento ao apresentar o programa Conecta A.I., que já formou milhões de brasileiros em competências digitais. Já o Neon, representando as fintechs brasileiras, defendeu que o mercado local já amadureceu a ponto de criar bancos completos, e não apenas alternativos.
Enquanto isso, a criadora Cecilia Mondino e marcas como Globo e Heineken mostraram que comunicar com relevância exige escuta, dados e proximidade cultural. Uma tecnologia com alma e contexto.
Infraestrutura, confiança e fluidez como palavras de ordem
Na terça-feira, os debates giraram em torno da experiência do usuário, fluidez dos sistemas e confiança como diferencial competitivo. A apresentação do Serpro sobre o Gov.br como identidade digital soberana mostrou que o Brasil já tem infraestrutura escalável e segura para democratizar o acesso a serviços, inclusive no setor privado.
No painel sobre o futuro dos bancos, executivos do iFood Pago e PicPay apontaram para uma lógica na qual o banco se torna invisível na jornada, mas visível na proteção. IA generativa e interfaces sem app dominaram as discussões. “O diferencial está em prever o que o cliente precisa, antes mesmo que ele saiba”, afirmou Thomas Barth.
A palestra sobre desinformação mostrou que credibilidade é o novo luxo no ecossistema da informação, enquanto jornalistas reforçaram o papel cívico do jornalismo sério e contextual. Bob Burnquist surpreendeu ao subir ao palco andando de skate para defender ciência descentralizada e colaboração entre coletivos como formas legítimas de inovação.
No campo da atenção e do entretenimento, Christian Rôças defendeu a ideia de que conquistar atenção sem interromper é a estratégia da década. E Fábio Porchat, ao lado de Patrícia Muratori (YouTube Brasil), celebrou o poder de transformação criativa das plataformas digitais, especialmente quando impulsionadas pela liberdade e pela audiência.
Experiência financeira, IA distribuída e pertencimento
Na quarta-feira (30), o evento aprofundou temas como design aplicado à experiência bancária, cultura de dados e IA, e o impacto da tecnologia na economia criativa e no mercado de trabalho.
Na masterclass com Banco do Brasil, Caixa, Cateno e CESAR, discutiu-se como a inovação financeira no Brasil se estrutura sobre pilares como IA aplicada, cibersegurança colaborativa e times multidisciplinares orientados pela jornada do usuário. A Caixa apresentou sua futura agência sustentável com assistente virtual multilíngue, enquanto o BB reafirmou seu papel de pioneirismo em soluções digitais.
Na palestra da Asaas, Piero Contezini reforçou que a melhor experiência de atendimento é aquela que não acontece, porque o produto já resolve tudo. Uma provocação que conversa diretamente com a proposta de plataformas financeiras modulares.
O painel sobre criptoativos também foi destaque, com discussão sobre a legitimidade crescente das stablecoins, o avanço das finanças descentralizadas e o papel do Brasil como observador – e potencial influenciador – de políticas regulatórias globais.
No Center Stage, Luis Bitencourt-Emilio (ex-Netflix, atual Loft) declarou que o Brasil deixou de ser exportador de cérebros para se tornar terra fértil para talentos de tecnologia. Já o iFood apresentou sua arquitetura de IA distribuída, que atravessa todos os setores da empresa com impacto direto em decisões estratégicas, prevenção à fraude e personalização da jornada do consumidor.
Por fim, o debate sobre pertencimento e cultura organizacional trouxe um alerta: empresas que não forem genuínas em sua diversidade e em sua escuta ativa vão perder talentos e relevância. Incluir é inovar.
Um evento que espelha o Brasil que inova
Ao longo dos quatro dias, o Web Summit Rio deixou evidente que o Brasil tem três vantagens difíceis de copiar: infraestrutura pública moderna, ecossistema regulatório aberto à inovação e uma sociedade altamente digitalizada.
O Pix é case internacional. O Drex está sendo estudado na Europa. O Open Finance avança com velocidade e inclusão.
A era dos pagamentos invisíveis, da IA em todas as etapas da jornada e das experiências fluidas já começou. E o Brasil, com seu talento, diversidade e criatividade, está liderando essa transformação com propriedade.
Como se ouviu nos corredores do evento: “O Brasil não está se adaptando ao futuro. Ele está moldando o que vem depois”.