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Por que lançar produto genérico pode matar sua marca antes de nascer?

Por: Thiago Garavelo

Fundador e CEO da Vello Ecommerces

Empreendedor com mais de 12 anos de experiência no mercado digital, especializado em e-commerce. Ele é fundador e CEO do Grupo Vello, gerenciando marcas próprias que faturam mais de R$ 30 milhões por ano. Além disso, compartilha conhecimento e estratégias para negócios digitais por meio de sua mentoria.

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Lançar uma marca própria é, para muitos empreendedores, a grande virada de chave no e-commerce. É o momento em que se deixa de ser apenas mais um vendedor de catálogo e se passa a construir um ativo que pode escalar, fidelizar e até aumentar o valuation do negócio.

Mulher analisa frasco preto à mesa com notebook e caixa de papelão.
Imagem gerada por IA.

Mas existe uma escolha crítica nesse processo: o primeiro produto. É ele que define se a marca começa com impacto ou se nasce fadada à irrelevância. E é aqui que muitos erram feio ao optar pelo caminho mais fácil: lançar um produto genérico, igual a centenas já existentes.

O erro do “mais do mesmo”

Na ânsia de colocar a marca no ar, empreendedores escolhem itens óbvios: shampoos básicos, suplementos comuns, cosméticos sem diferenciação. A lógica é simples, “se tanta gente vende, eu vou conseguir vender também”. Só que o que funciona para gigantes, não funciona para quem está começando.

Ao lançar “mais do mesmo”, a nova marca entra em um campo minado: briga de preço contra players estabelecidos, margens baixas, barreiras enormes de diferenciação e uma comunicação que não desperta curiosidade nenhuma. No fim, o produto até pode vender, mas dificilmente gera tração suficiente para sustentar o crescimento.

O primeiro produto é estratégico

O primeiro produto não é apenas um SKU. Ele é a narrativa inicial, o cartão de visitas que abre portas e dá o tom do posicionamento da marca. Se ele não for memorável, o negócio começa sem impacto (e no digital, onde a atenção é um recurso escasso, começar sem impacto é praticamente decretar a irrelevância).

É por isso que o primeiro produto precisa ser sexy. Ele deve resolver uma dor clara, ter apelo de comunicação e ser capaz de gerar conversa. Não é sobre lançar um portfólio completo desde o início, mas sobre escolher um item que concentre uma promessa irresistível e seja capaz de criar curiosidade no consumidor. Esse é o produto que conquista os primeiros clientes e dá legitimidade para os próximos lançamentos.

O custo invisível do genérico

Produtos genéricos até vendem, mas vendem caro para a marca. O custo de aquisição dispara porque é preciso gastar muito para convencer alguém a escolher o seu produto em vez do concorrente. A taxa de conversão despenca porque o cliente não vê diferencial. E o branding sofre porque a comunicação é mais uma entre centenas iguais.

Além disso, o produto genérico prende a marca em uma armadilha: a de competir por preço. E competir por preço é o jogo mais caro e mais ingrato do e-commerce. Sem diferenciação, não existe narrativa capaz de justificar valor. O empreendedor fica refém de promoções e descontos que corroem a margem até não sobrar lucro nenhum.

Um produto que abre caminhos

O objetivo do primeiro produto não é apenas gerar receita imediata. É abrir caminho. Ele deve funcionar como a ponta de lança que conquista atenção, valida a proposta da marca e cria base para os próximos lançamentos.

Esse produto inicial é o que dá história para ser contada. É ele que vira case, que gera depoimentos, que constrói a comunidade em torno da marca. A partir dele, o portfólio pode crescer de forma orgânica, com clientes que já estão predispostos a confiar em novos lançamentos.

Estratégia acima da pressa

Vale reforçar: não é que categorias tradicionais como shampoo, suplemento ou cosmético não possam dar certo. Elas podem, sim. Mas o sucesso depende de estratégia: uma promessa única, um posicionamento claro e uma narrativa que fuja do lugar-comum.

O problema não está na categoria, mas no impulso de lançar rápido sem pensar no que realmente diferencia a marca. Quem entra no mercado com “mais do mesmo” já começa no jogo mais difícil, enquanto quem pensa de forma estratégica cria vantagem desde o primeiro dia.

Construindo marca de verdade

O e-commerce está cheio de marcas que nasceram e morreram sem deixar rastro porque escolheram o caminho fácil do produto genérico. E está cheio de exemplos de negócios que começaram pequenos, mas com um produto inteligente, sexy e diferenciado, e que cresceram justamente porque tinham uma história para contar desde o início.

A escolha do primeiro produto define não apenas as primeiras vendas, mas a trajetória da marca. Ele pode ser um atalho para a irrelevância ou o alicerce para construir algo grande.

No fim, a mensagem é direta: quem lança produto genérico não cria marca, cria mais uma opção de prateleira. E prateleira é o pior lugar para se estar no e-commerce.