Pouca gente gosta de falar sobre registro de marca. Para muitos empreendedores, parece burocracia, papelada sem impacto imediato, algo que pode ficar para depois. Mas “depois” é tarde demais. E é justamente esse descuido que já custou milhões a negócios que precisaram trocar nome, identidade, embalagens e até perderam o reconhecimento dos próprios clientes porque não tinham a marca registrada.

No e-commerce, onde a disputa é feroz e a concorrência pode copiar sua narrativa em questão de dias, a marca é um dos ativos mais valiosos. Ela concentra confiança, reputação, recorrência e até barreiras contra a competição predatória. Ignorar a proteção desse ativo é arriscar matar a empresa.
A falsa sensação de segurança
Muitos acreditam que ter CNPJ, domínio registrado e redes sociais ativas já garante a posse da marca. Outros confiam na “tradição”: “estou há anos no mercado, ninguém pode me tirar isso”. Mas é tudo ilusão.
O que vale, juridicamente, é o registro junto ao INPI. Se outro player fizer isso antes, você perde o direito de usar o nome pelo qual construiu toda a sua comunicação. Não importa quantos clientes atendidos, quantos seguidores conquistados, quantos anúncios rodados. A lei não reconhece esforço, só reconhece registro.
E as consequências são devastadoras. Já vimos lojistas tendo que recolher estoques inteiros, refazer embalagens às pressas, trocar domínio de site e começar praticamente do zero. Além do custo financeiro, existe a perda de algo ainda mais difícil de recuperar: a confiança do consumidor. Um cliente que conhecia sua marca por um nome e, de repente, encontra outro, pode simplesmente não conectar a relação anterior.
Registro é estratégia, não burocracia
O registro de marca não é apenas um detalhe jurídico. Ele é parte da estratégia de sobrevivência de qualquer negócio digital. Pense na lógica: se você investe em branding, mídia, time, operação e crescimento, está construindo sobre um terreno que pode não ser seu. O registro é o documento que garante que ninguém pode tomar esse terreno de você.
Além disso, no ambiente de marketplaces, ele é fundamental para combater falsificações. Quem tem registro consegue solicitar a derrubada de anúncios irregulares, proteger seu catálogo e preservar sua reputação. Quem não tem fica refém de vendedores oportunistas que usam o mesmo nome para vender cópias mais baratas.
E há um ponto que poucos lembram: valuation. Nenhum investidor sério coloca dinheiro em uma marca cujo principal ativo não está protegido. Em negociações de venda de empresas, o registro é analisado com a mesma seriedade que faturamento e base de clientes. Sem ele, o valor do negócio desmorona.
O custo do descuido
O curioso é que, no Brasil, registrar uma marca ainda tem um custo baixo. Se comparado ao que se gasta em mídia paga diariamente, é irrisório. Mesmo assim, muitos empreendedores hesitam. Preferem investir em campanhas de tráfego ou em embalagens sofisticadas, mas deixam a base do negócio vulnerável.
Esse raciocínio é míope. O que parece “economia” hoje pode se transformar em prejuízo irreversível amanhã. O custo de perder a marca vai muito além do financeiro: é perder o ativo emocional que conecta sua empresa ao cliente.
O jogo das classes e os detalhes invisíveis
Outro erro comum é achar que basta preencher um formulário rápido no site do INPI e pronto. O processo exige estratégia também. O registro é feito por classes, e escolher errado pode deixar brechas que concorrentes exploram. Além disso, existe o risco de oposição: outra empresa pode contestar seu registro e, se você não estiver preparado, pode perder o processo.
Não é burocracia. É jogo. E jogo exige conhecimento, acompanhamento e atenção aos detalhes.
Sobreviver é proteger
Construir marca própria é pensar em longo prazo. E quem pensa em longo prazo não pode ignorar o básico. Registro de marca não é burocracia, é sobrevivência.
No e-commerce, onde a concorrência cresce a cada semana, proteger o que é seu é tão importante quanto conquistar novos clientes. A marca é o estandarte que te identifica no campo de batalha digital. Sem ela, você volta à estaca zero.
A escolha, no fim, é simples: registrar agora e blindar seu maior ativo, ou adiar e correr o risco de entregar de bandeja tudo o que construiu.