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Registro de marca não é burocracia, é estratégia de sobrevivência

Por: Thiago Garavelo

Fundador e CEO da Vello Ecommerces

Empreendedor com mais de 12 anos de experiência no mercado digital, especializado em e-commerce. Ele é fundador e CEO do Grupo Vello, gerenciando marcas próprias que faturam mais de R$ 30 milhões por ano. Além disso, compartilha conhecimento e estratégias para negócios digitais por meio de sua mentoria.

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Pouca gente gosta de falar sobre registro de marca. Para muitos empreendedores, parece burocracia, papelada sem impacto imediato, algo que pode ficar para depois. Mas “depois” é tarde demais. E é justamente esse descuido que já custou milhões a negócios que precisaram trocar nome, identidade, embalagens e até perderam o reconhecimento dos próprios clientes porque não tinham a marca registrada.

Notebook exibindo “Marca Registrada” com símbolo ® em mesa de trabalho organizada.
Imagem gerada por IA.

No e-commerce, onde a disputa é feroz e a concorrência pode copiar sua narrativa em questão de dias, a marca é um dos ativos mais valiosos. Ela concentra confiança, reputação, recorrência e até barreiras contra a competição predatória. Ignorar a proteção desse ativo é arriscar matar a empresa.

A falsa sensação de segurança

Muitos acreditam que ter CNPJ, domínio registrado e redes sociais ativas já garante a posse da marca. Outros confiam na “tradição”: “estou há anos no mercado, ninguém pode me tirar isso”. Mas é tudo ilusão.

O que vale, juridicamente, é o registro junto ao INPI. Se outro player fizer isso antes, você perde o direito de usar o nome pelo qual construiu toda a sua comunicação. Não importa quantos clientes atendidos, quantos seguidores conquistados, quantos anúncios rodados. A lei não reconhece esforço, só reconhece registro.

E as consequências são devastadoras. Já vimos lojistas tendo que recolher estoques inteiros, refazer embalagens às pressas, trocar domínio de site e começar praticamente do zero. Além do custo financeiro, existe a perda de algo ainda mais difícil de recuperar: a confiança do consumidor. Um cliente que conhecia sua marca por um nome e, de repente, encontra outro, pode simplesmente não conectar a relação anterior.

Registro é estratégia, não burocracia

O registro de marca não é apenas um detalhe jurídico. Ele é parte da estratégia de sobrevivência de qualquer negócio digital. Pense na lógica: se você investe em branding, mídia, time, operação e crescimento, está construindo sobre um terreno que pode não ser seu. O registro é o documento que garante que ninguém pode tomar esse terreno de você.

Além disso, no ambiente de marketplaces, ele é fundamental para combater falsificações. Quem tem registro consegue solicitar a derrubada de anúncios irregulares, proteger seu catálogo e preservar sua reputação. Quem não tem fica refém de vendedores oportunistas que usam o mesmo nome para vender cópias mais baratas.

E há um ponto que poucos lembram: valuation. Nenhum investidor sério coloca dinheiro em uma marca cujo principal ativo não está protegido. Em negociações de venda de empresas, o registro é analisado com a mesma seriedade que faturamento e base de clientes. Sem ele, o valor do negócio desmorona.

O custo do descuido

O curioso é que, no Brasil, registrar uma marca ainda tem um custo baixo. Se comparado ao que se gasta em mídia paga diariamente, é irrisório. Mesmo assim, muitos empreendedores hesitam. Preferem investir em campanhas de tráfego ou em embalagens sofisticadas, mas deixam a base do negócio vulnerável.

Esse raciocínio é míope. O que parece “economia” hoje pode se transformar em prejuízo irreversível amanhã. O custo de perder a marca vai muito além do financeiro: é perder o ativo emocional que conecta sua empresa ao cliente.

O jogo das classes e os detalhes invisíveis

Outro erro comum é achar que basta preencher um formulário rápido no site do INPI e pronto. O processo exige estratégia também. O registro é feito por classes, e escolher errado pode deixar brechas que concorrentes exploram. Além disso, existe o risco de oposição: outra empresa pode contestar seu registro e, se você não estiver preparado, pode perder o processo.

Não é burocracia. É jogo. E jogo exige conhecimento, acompanhamento e atenção aos detalhes.

Sobreviver é proteger

Construir marca própria é pensar em longo prazo. E quem pensa em longo prazo não pode ignorar o básico. Registro de marca não é burocracia, é sobrevivência.

No e-commerce, onde a concorrência cresce a cada semana, proteger o que é seu é tão importante quanto conquistar novos clientes. A marca é o estandarte que te identifica no campo de batalha digital. Sem ela, você volta à estaca zero.

A escolha, no fim, é simples: registrar agora e blindar seu maior ativo, ou adiar e correr o risco de entregar de bandeja tudo o que construiu.