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Pix automático: o novo motor da recorrência

Por: Marcelo Bentivoglio

É cofundador e CFO da QI Tech. Líder empresarial inovador, possui ampla experiência multifuncional em diversos setores, incluindo startups, empresas de médio porte e um renomado banco global. Iniciou sua carreira no Goldman Sachs e, em 2014, fundou a Banfox (posteriormente adquirida), uma das pioneiras no financiamento de faturas para PMEs no Brasil. Após a Banfox, cofundou a QI Tech, a primeira SCD (Sociedade de Crédito Direto) aprovada pelo Banco Central do Brasil. Hoje, a QI Tech atende mais de 1.000 grandes clientes com tecnologia de ponta, transaciona bilhões e emite mensalmente mais de 4 bilhões de reais em novos empréstimos.

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O Pix virou hábito. Está no lanche dividido, na transferência entre amigos, no aluguel, no pagamento da babá, na compra de uma calça, no e-commerce. É parte da nossa rotina, quase como o WhatsApp. Só que, até agora, o Pix se limitava a situações pontuais. A recorrência ainda estava em aberto.

Pessoa segurando um celular que exibe a mensagem "Pix Automático" na tela.
Imagem gerada por IA.

Isso mudou em junho. Com o lançamento oficial do Pix automático pelo Banco Central do Brasil, entramos em uma nova fase. Uma fase que mira diretamente em um território que ainda é dominado por cartões de crédito, boletos e o débito automático tradicional: o dos pagamentos mensais.

Com o Pix automático, o usuário pessoa física dá uma autorização prévia para que uma empresa possa debitar da sua conta valores em uma frequência determinada. Funciona para pagar assinaturas de streaming, parcela de empréstimos, mensalidade da escola, plano da academia. E funciona com a lógica do Pix: sem tarifa para pessoas físicas, com liquidez imediata, e com a segurança que o ecossistema vem construindo desde 2020.

Novas oportunidades para consumidores e empresas

O potencial é imenso. O Pix movimentou R$ 26,4 trilhões em 2024, com mais de 64 bilhões de transações no ano e picos diários de 252 milhões de pagamentos. Agora imagine o que acontece quando se insere nessa equação o pagamento recorrente, que representa uma fatia enorme das finanças pessoais e do fluxo de caixa das empresas.

Mais importante é pensar em quem está de fora. Estima-se que 60 milhões de brasileiros não têm cartão de crédito. Hoje, essas pessoas não conseguem parcelar uma compra em e-commerces, nem assinar streamings, nem contratar cursos online que exigem cobrança mensal. O Pix mudará esse cenário. Com ele, esse público passará a ter acesso a novos produtos e, além disso, empresas poderão explorar uma nova base de clientes, com mais previsibilidade de receita e menor inadimplência.

Na prática, o Bacen estruturou quatro possíveis jornadas para o cliente autorizar uma recorrência. Em uma delas, ele recebe uma notificação no app do banco e aprova a cobrança. Em outra, ele escaneia um QR code e autoriza antes do pagamento. Há também a possibilidade de autorizar junto com o primeiro Pix ou de decidir depois de pagar. O importante aqui é que tudo seja claro, reversível, auditável, transparente e ,claro, automático.

Esse cuidado tem um motivo. Como qualquer Pix, ele carrega, naturalmente, riscos de fraude. Para mitigar isso, o Banco Central definiu uma série de exigências para as empresas que quiserem oferecer o serviço como recebedoras. É preciso ter CNPJ ativo há pelo menos seis meses, compatibilidade entre a atividade econômica e o serviço ofertado, dados cadastrais validados, capital social, número de funcionários e histórico de relacionamento com o banco. Não é para qualquer um. E isso é bom.

Além disso, o Pix está evoluindo na resposta a fraudes. O MED 2.0, previsto para o segundo semestre, vai permitir rastrear operações suspeitas em até cinco níveis de transferência – uma camada a mais de proteção para um sistema que já é referência mundial.

Impacto no modelo de crédito e assinaturas

O Pix automático deve transformar a forma como o crédito é ofertado e cobrado. Sua integração com modelos de Lending as a Service abre caminho para empréstimos com débito recorrente via Pix, com automação, menor inadimplência e sem a necessidade de cartões ou boletos. Trata-se de um avanço relevante não só para fintechs, mas também para grandes e tradicionais instituições que buscam escalar suas ofertas com menos fricção.

O Pix automático não é apenas uma feature, mas sim uma mudança de paradigma. É como se o Pix original tivesse aprendido a pensar no mês seguinte. Quem trabalha com crédito, assinaturas, cobrança ou serviços mensais precisa se preparar. Porque a recorrência nunca mais será como antes. E o futuro dos pagamentos, mais uma vez, começa aqui.