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O desconto é a droga do marketing moderno

Por: Denis Strum

Com quase 20 anos de experiência em estratégias digitais e growth para negócios B2B e B2C, Denis Strum construiu uma carreira marcada pela aceleração digital de grandes empresas nos setores de full commerce, varejo e tecnologia. Iniciou sua trajetória como o primeiro profissional de marketing da Westwing, onde foi responsável por estruturar as estratégias de aquisição e retenção de clientes, impulsionando o crescimento da marca no Brasil. Na sequência, atuou como sócio e CMO da Synapcom, pioneira em full commerce no país. Posteriormente, integrou o time da Infracommerce, onde ocupou o cargo de diretor da unidade digital. Atualmente, é diretor de Marketing da Selia Fullcommerce, liderando o posicionamento da empresa como referência em operações digitais integradas para grandes players do e-commerce brasileiro.

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O manifesto para quem quer vender mais sem destruir o próprio negócio

Todo novembro, o mesmo ritual: o board de marketing aprova 60% de desconto, o comercial vibra com o volume, a indústria corre, o financeiro recalcula a margem pela terceira vez na semana.

Parece sucesso, mas é ruído disfarçado de resultado.

“Black Friday” em letras metálicas sobre fundo escuro com detalhes tecnológicos.
Imagem: Freepik.

Quando vender muito vira problema

A Black Friday virou um campo de guerra por atenção e de destruição de margem.

A meta é vender mais que o concorrente, e o custo é alto: lucro, percepção de valor e sanidade do time.

Reduzir preço aumenta volume, sim, mas também reduz lucro, desacostuma o cliente e corrói marca.

A cada promoção, você ensina seu público a esperar a próxima, e o valor real do seu produto é jogado pra escanteio junto com a margem.

Você vende mais, fatura mais, trabalha mais. Mas, no fim do mês, tem menos: menos caixa, menos fôlego, menos marca.

O mito do “desconto mágico”

Pense rápido: qual foi a última grande promoção que você fez?

Agora responda com sinceridade: o cliente voltou a comprar sem desconto? Se a resposta for “não”, você criou um vício.

O seu público virou dependente químico de preço baixo, e a sua marca perdeu o poder de dizer “eu valho o que cobro”.

Todo desconto sem estratégia é uma dose nova dessa droga. Ela dá pico de prazer, traz aplausos momentâneos, mas deixa o negócio mais fraco a cada campanha. E a recaída é sempre mais cara.

Margem de contribuição não aparece no banner

Desconto é sexy, CTR alto faz a sala aplaudir, mas margem líquida, CAC real e custo de frete reverso… essas métricas só aparecem quando o estrago já foi feito.

Case real: o varejista que vendeu R$ 1 milhão… e perdeu dinheiro

Em 2022, uma operação de moda no interior de São Paulo bateu R$ 1 milhão em vendas na Black Friday.

Parecia uma vitória, mas, ao fechar o mês, o financeiro descobriu:

– 28% das vendas foram canceladas.
– O frete subsidiado comprometeu 11% da margem.
– O retorno de peças promocionais gerou custo logístico e operacional acima de R$ 70 mil.

No fim, a operação deu prejuízo. Mais venda, menos dinheiro em caixa.

Desconto é droga, dá pico, vicia e cobra caro

Você investe para atrair clientes que nunca voltariam a pagar o preço cheio – gente sem fidelidade, sem valor, sem recorrência.

O efeito é igual ao de um anabolizante: resultados rápidos, aparência de força, mas destruição interna inevitável.

O problema é que o mercado inteiro age como um corpo dopado: aplaude quem infla o volume, ignora quem constrói consistência e chama de “crescimento” o que, na verdade, é perda disfarçada de performance.

A Black Friday inteligente é silenciosa

Ela não precisa gritar, ela preserva margem, ela fideliza, transforma tráfego em lucro, não em vaidade.

Estes são os cinco princípios da Black Friday inteligente:

1. Valor antes de volume.
Crie kits, experiências e percepções de valor, não apenas descontos.

2. Margem antes de ego.
O concorrente pode dar 60%; você precisa continuar existindo em janeiro.

3. Escassez antes de liquidação.
“Exclusivo” vale mais do que “tudo pela metade”.

4. Recompra antes de alcance.
Quem compra uma vez só enche o relatório, não o caixa.

5. Lucro antes de like.
Métrica que não vira dinheiro é vaidade cara.

    O custo invisível do desconto

    Toda vez que você entra em guerra de preço, você envia uma mensagem silenciosa ao mercado: “Meu produto não vale o que eu digo. Meu valor é negociável.”

    E o cliente entende. Ele aprende que você mesmo não acredita no preço que coloca.

    O resultado é um ciclo de desvalorização que nem tráfego pago salva.

    Desconto é um atalho que te leva ao abismo com mais velocidade, é a falsa sensação de controle em meio à urgência de vender, mas todo atalho tem um preço e, ele é cobrado em autoridade.

    O lucro é o novo marketing

    Black Friday não é sobre vender mais, e sim sobre quem continua vivo depois do pico.

    Desconto vende, margem sustenta, mas margem é mais que número.

    É liberdade. Para escolher o cliente certo, o canal certo, o ritmo certo. Para dizer “não” ao que destrói valor, e “sim” ao que constrói marca.

    Negócios com margem sólida são negócios com propósito. Eles entendem que o verdadeiro poder não está em vender tudo, está em não precisar queimar nada pra vender.

    O próximo estágio do jogo

    A nova era do marketing não será ganha por quem grita mais alto, mas por quem entende melhor o valor do que entrega.

    Quem dominar a margem dominará o mercado. Quem continuar escravo do desconto será esquecido pelo algoritmo e pelo cliente.

    Então, antes de planejar sua próxima Black Friday, sente com o financeiro e pergunte: “Qual é o meu limite antes de virar prejuízo?”. Depois, olhe pro seu time de marketing e diga: “Nosso trabalho não é baixar preço. É aumentar percepção de valor.”

    A partir daí, você não estará mais jogando o jogo da Black Friday. Você estará jogando o jogo dos negócios que duram.