
O Mercado Livre anunciou recentemente uma mudança significativa em sua política de frete grátis, baixando o valor mínimo de compra exigido para o benefício em diversas categorias.
O que à primeira vista parece um alívio para o consumidor, na prática reorganiza toda a lógica de precificação, margem e expectativa de entrega no e-commerce brasileiro.
E o impacto vai muito além da plataforma.
Essa decisão deve influenciar o comportamento do consumidor em outros canais, inclusive na loja própria. Afinal, uma vez acostumado com o benefício, ele passa a esperá-lo em qualquer checkout.
Mas como competir com isso sem sacrificar a margem? Como adaptar sua operação sem virar refém do frete?
Neste artigo, vamos explorar:
– O que muda com a nova política do Mercado Livre
– O impacto esperado no comportamento de compra
– Estratégias práticas para oferecer frete com inteligência
– Como manter margem e percepção de valor
– E o que aprender com os gigantes
O que muda com a nova política do Mercado Livre?
Antes, o frete grátis no Meli era oferecido em compras a partir de R$ 79,00. Agora, o novo limite pode cair para R$ 19,00 ou menos, dependendo da categoria e da reputação do vendedor.
Além disso, em alguns casos, a plataforma absorve parcialmente o valor do frete, pressionando menos a margem dos lojistas. Mas esse cenário ainda não é a realidade para todos, principalmente fora do Meli.
A consequência imediata? O consumidor passa a ver o frete grátis como padrão, e não mais como um benefício.
O novo comportamento do consumidor: o frete não é mais um bônus — é o mínimo
A decisão do Mercado Livre não impacta apenas a logística. Ela mexe com a régua de percepção de valor do consumidor.
Antes, o cliente tolerava pagar frete se o produto tivesse um bom preço. Agora, ele pensa assim:
“Se no Mercado Livre eu tenho frete grátis a partir de R$ 49,00, por que eu pagaria R$ 22,00 de frete numa loja que me vende o mesmo produto por R$ 59,00?”.
A sensação de perda é imediata. E o maior risco aqui não é perder uma venda — é perder a recorrência.
Se a loja não entrega uma experiência completa (preço + prazo + frete), o consumidor tende a centralizar suas compras onde a jornada já está resolvida.
Como contornar essa mudança sem matar sua margem?
A boa notícia: é possível se adaptar. A má notícia: não dá mais para fazer isso sem estratégia.
Veja exemplos claros que funcionam:
1. Ofereça frete grátis condicionado ao valor mínimo de pedido
Se o Meli dá frete grátis acima de R$ 49,00, use isto como base:
– “Frete grátis nas compras acima de R$ 69,00”.
– “Nas compras acima de R$ 89,00, o frete é por nossa conta + você ainda ganha um brinde”.
Por que funciona?
Estimula o aumento do ticket médio e dá ao cliente a sensação de vantagem por gastar mais.
2. Compense o frete com benefícios claros (sem esconder o custo)
“Frete de R$ 14,90 — mas você ganha um cupom de R$ 20 para usar na próxima compra”.
Ou:
“Frete pago, mas a gente te devolve 100% em cashback”.
Por que funciona?
Tira o peso psicológico do frete e ainda incentiva a recompra.
3. Crie kits com frete embutido (e destaque isso)
Exemplo:
“Combo de 3 unidades com frete grátis incluso no valor”.
Ou:
“Leve mais, pague menos no frete: kits pensados para economizar”.
Por que funciona?
Aumenta o ticket médio e reduz o impacto do frete por unidade.
4. Trabalhe com mais de uma opção de frete: rápido vs. econômico
Exemplo:
“Receba em 2 dias por R$ 19,90 ou em até 10 dias por R$ 9,90”.
Por que funciona?
Dá ao cliente o poder da escolha e evita abandono no checkout por custo elevado.
5. Reforce diferenciais que o Mercado Livre não entrega
Você pode não ganhar no preço ou no frete, mas pode ganhar em:
– Personalização do atendimento
– Brinde exclusivo
– Embalagem especial
– Conteúdo no pós-venda
– Cartinha à mão
– Experiência de unboxing
Por que funciona?
Constrói relação. E relacionamento é o que o marketplace não escala.
O Mercado Livre não está apenas reduzindo o valor do frete grátis. Está reeducando o consumidor. E quem não se adaptar perde não só margem, mas relevância.
O frete deixou de ser um custo logístico. Agora, é um dos gatilhos mais fortes de decisão de compra.
Não ganha o jogo quem oferece mais desconto. Ganha quem oferece mais valor por entrega.