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E-commerce que escala não depende de tráfego, depende de previsibilidade

Por: Eduarda Camargo

Chief Growth Officer da Portão 3 (P3)

Com mais de 10 anos de experiência na área de marketing, atuando como Chief Growth Officer e responsável pela Aquisição e receita de novos clientes na Portão 3, esta executiva é especializada em gestão de crise, crescimento e posicionamento de marca. Sua carreira inclui passagens por empresas como Zoop, Hurb (anteriormente conhecido como Hotel Urbano), Ancar Ivanhoe, HSBC, Bradesco e Losango. Além disso, ela também é habilidosa em fornecer treinamentos de media training para executivos de alto escalão, tendo trabalhado com a liderança sênior da Elgin. Seu amplo escopo de atuação abrange diversos setores, incluindo tecnologia, serviços financeiros B2C e B2B, e-commerce, turismo, indústria e varejo, demonstrando um conhecimento abrangente em projetos de comunicação integrada.

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No ecossistema do comércio digital, persiste um erro estratégico entre founders e gestores: tratar o aumento de tráfego como sinônimo de crescimento sustentável. O tráfego pago é relevante, claro, mas está longe de ser garantia de rentabilidade. O que determina a solidez de um e-commerce não é a quantidade de visitantes que entram pela porta, é a capacidade de prever resultados, compreender profundamente suas métricas e otimizar cada unidade econômica do negócio.

Laptop exibindo um gráfico de crescimento de tráfego em e-commerce e linha laranja ascendente na tela.
Imagem gerada por IA.

A chamada vaidade digital, alimentada por picos de visitantes, seguidores ou números artificiais de “crescimento”, costuma distorcer a percepção de sucesso. Muitos gestores despejam recursos em aquisição de tráfego sem saber se cada real aplicado retorna como margem positiva. Criam a ilusão de expansão, mas apenas sustentada por capital externo, e não por um modelo operacional capaz de se manter em pé sozinho.

Unit economics como base da verdade financeira

É nesse ponto que a lógica das unit economics se torna inescapável. Essa métrica revela quanto cada cliente ou transação realmente contribui para o lucro líquido, considerando aquisição, operação, logística e retenção. Ignorá-la é operar às cegas. Um e-commerce pode celebrar milhões de acessos e milhares de pedidos e, mesmo assim, acumular prejuízo se cada venda consumir mais recursos do que devolve.

A previsibilidade, virtude cada vez mais rara no digital, nasce exatamente desse domínio numérico. Ela permite planejar crescimento com responsabilidade, projetar receitas com mais precisão, ajustar margens e tomar decisões estratégicas baseadas em fatos, não em expectativas infladas. Escalar sem previsibilidade é apostar na sorte; escalar com previsibilidade é construir longevidade.

Por que métricas de vaidade criam empresas frágeis

Há também um componente psicológico que merece atenção: o culto às métricas de vaidade no ambiente de startups. Em muitos casos, founders priorizam visualizações, downloads ou manchetes em detrimento de indicadores estruturais como fluxo de caixa, churn ou margem líquida. Essa inversão de prioridades cria organizações frágeis, facilmente abaladas por mudanças de algoritmo, sazonalidade ou retração de investimentos.

Já as empresas que compreendem a relação entre tráfego, custo de aquisição e unidade econômica conseguem investir com precisão cirúrgica. Sabem exatamente quanto podem gastar para atrair um cliente sem sacrificar rentabilidade e constroem modelos escaláveis, com processos replicáveis e baseados em dados reais. Enquanto isso, negócios guiados por indicadores superficiais vivem ciclos de euforia e queda: crescem rápido e desmoronam com a mesma velocidade.

Previsibilidade como vantagem competitiva real

O mercado digital brasileiro está repleto de exemplos dos dois lados. Startups que priorizaram expansão acelerada sem domínio financeiro enfrentaram colapsos logo após o ciclo de abundância de venture capital. Em contraste, empresas que estruturaram previsibilidade e eficiência interna prosperaram até em cenários competitivos e incertos.

No fim das contas, e-commerce que escala não é o que atrai mais gente, mas o que enxerga o próprio negócio com nitidez e disciplina. Vaidade gera barulho; previsibilidade gera sustentabilidade. Fundadores que ignoram essa distinção se arriscam a trocar crescimento real por uma narrativa vazia, e essa é uma troca que o digital já não tem espaço para permitir.