Durante muitos anos, construir um e-commerce significava essencialmente escolher um mix de produtos de terceiros, montar um site funcional, investir em mídia paga e esperar que o tráfego convertesse. E, por um bom tempo, esse modelo funcionou, em parte porque o acesso era limitado e a concorrência, baixa. Mas o jogo mudou.

Hoje, a combinação de concorrência intensa, aumento do custo de aquisição de clientes (CAC), margens apertadas e plataformas saturadas exige uma nova lógica de crescimento. E essa nova lógica está sendo moldada por um modelo específico: as DNVBs, Digital Native Vertical Brands, ou marcas nativas digitais verticais.
Mas por que esse modelo está ganhando tanta força? E por que cada vez mais indústrias estão nascendo direto no e-commerce, sem intermediários?
A quebra da lógica tradicional do varejo
No modelo clássico, o varejista era o intermediário entre a indústria e o consumidor. A indústria produzia, o lojista comprava e revendia com margem. Mas, na era digital, essa cadeia começa a fazer menos sentido: ela é lenta, ineficiente e, principalmente, consome a margem de quem opera na ponta.
Com plataformas acessíveis, fornecedores globais e ferramentas de marketing direto ao consumidor, criar uma marca própria deixou de ser algo exclusivo de grandes grupos. Hoje, qualquer lojista com visão estratégica pode desenvolver um produto, criar uma identidade e vender diretamente ao público final sem depender de intermediários e sem repassar valor para marcas que ele não controla.
O que define uma DNVB?
Ao contrário de uma simples loja virtual, a DNVB é um modelo de marca que nasce com o digital no centro da operação. Ela não apenas vende online – ela pensa, se comunica, entrega e se posiciona como uma experiência digital de ponta a ponta.
As principais características de uma DNVB são:
– Controle total da marca, produto e jornada do cliente;
– Comunicação direta com o consumidor final, sem intermediários;
– Foco na construção de comunidade e narrativa em torno do propósito;
– Velocidade de desenvolvimento de produto, com escuta ativa e ajustes rápidos;
– Estrutura enxuta, tecnologia acessível e canais próprios (site, redes, CRM).
Esse modelo permite algo poderoso: o acúmulo de ativos intangíveis. Em vez de vender produtos genéricos e girar estoque, a DNVB constrói marca, base de clientes própria e reconhecimento de mercado, três pilares que geram valor de longo prazo.
A nova indústria nasce direto na tela
Estamos vendo marcas surgirem todos os meses em nichos superespecíficos com uma proposta clara, estética forte e canal direto com o consumidor. E isso não é por acaso.
O consumidor atual valoriza mais do que preço. Ele quer conexão, identidade e propósito. Quer marcas que falem sua linguagem, compartilhem seus valores e ofereçam uma experiência fluida. A DNVB entrega isso com mais agilidade do que uma marca tradicional.
Além disso, esse modelo permite capturar feedbacks rápidos, testar novos produtos com menor risco e criar ofertas mais alinhadas com a realidade do público. É um ciclo virtuoso: escuta, testa, ajusta, escala.
O paradoxo do e-commerce genérico
Enquanto isso, muitos lojistas seguem presos ao modelo tradicional: vendem os mesmos produtos que todo mundo, operam com margens apertadas e vivem reféns da mídia paga. Fazem anúncios, geram tráfego, vendem, mas não constroem nada duradouro.
O problema? Toda vez que param de investir, o faturamento cai. Não há marca, não há base, não há comunidade. Apenas um sistema de venda que exige esforço constante e retorno decrescente.
A marca própria, no modelo DNVB, é a saída para isso. Porque ela transforma o negócio em algo que cresce, mesmo quando o investimento desacelera. Ela cria valor, não só receita.
Não é sobre escala rápida. É sobre construir algo que vale a pena
Claro, lançar uma DNVB não é trivial. Exige clareza de posicionamento, foco em produto, consistência na comunicação e paciência. Mas o retorno é incomparável.
Em vez de girar caixa com produtos dos outros, a DNVB permite que o lojista construa um ativo que é dele. Algo que pode ser escalado, licenciado, vendido ou, simplesmente, carregado como patrimônio.
Em tempos de concorrência alta, mídia cara e consumidores exigentes, essa pode ser a melhor decisão estratégica que um e-commerce pode tomar: parar de vender o que todo mundo vende e começar a construir o que só ele pode entregar.
Porque o futuro do varejo digital não é mais sobre vender rápido. É sobre criar algo que fique independente de tantas mudanças no mercado digital.