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Da nuvem para a parede: por que a geração digital está trazendo o impresso de volta

Por: Jonathas Guerra

Jonathas Guerra é programador desde os 13 anos e sempre teve uma relação direta com tecnologia e criação. Ainda jovem, desenvolveu sua primeira startup: um aplicativo de streaming de música dentro do Facebook que alcançou 2 milhões de usuários e ganhou destaque na imprensa. Depois integrou o time do WebDiet ao lado de Valentim Magalhães, em uma fase que ajudou o aplicativo a se tornar uma das maiores referências de nutrição digital do mundo. Em 2019, Jonathas começou a trabalhar no projeto que viraria seu propósito de vida: a construção da Banlek, uma plataforma criada para organizar, transformar e profissionalizar a relação entre fotógrafos, clientes e eventos. O primeiro protótipo foi desenvolvido por ele sozinho, e esse MVP sustentou a operação até 2024. Hoje, o resultado dessa visão se traduz em números expressivos: a Banlek está entre os 200 sites mais acessados do Brasil e 4.000 do mundo, reúne mais de 200 mil fotógrafos cadastrados, atua em mais de 20 países e 5.300 cidades no Brasil, ultrapassou 7 milhões de clientes e superou R$ 400 milhões em vendas. Uma trajetória que combina tecnologia, visão e execução consistente.

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Quem trabalha com tecnologia sabe: estamos vivendo a era do excesso. Fazemos milhares de fotos, guardamos tudo na nuvem, mas quase não vemos nada depois. A vida está toda no celular, mas pouco do que importa realmente ganha espaço na nossa rotina. E é justamente aí que começa um movimento interessante, especialmente entre os mais jovens.

Jovem monta uma colagem de fotos impressas sobre a mesa.
Imagem gerada por IA.

A geração Z, que cresceu conectada 24 horas por dia, está percebendo o peso desse estilo de vida. Pesquisas recentes mostram que muitos deles já associam o excesso de telas a ansiedade, cansaço mental e falta de presença real. Um estudo da Harris Poll, por exemplo, aponta que uma parte expressiva desses jovens tem buscado referências e hábitos de épocas pré-digitais como forma de equilibrar a vida. Isso vale para música, moda, rotina e, claro, fotografia.

E não é sobre “nostalgia barata”. É sobre saturação. As pessoas querem respirar um pouco fora da tela. Querem algo que não desapareça em um rolo de câmera com 40 mil fotos.

Por que a foto impressa voltou?

A fotografia impressa virou uma resposta simples a um problema moderno: guardar memórias de um jeito que realmente dure. Álbuns, murais e quadros voltaram a ocupar espaço físico. A lógica é quase um antídoto: se tudo é descartável, o impresso vira um ponto de parada. Um jeito de dar importância ao que importa.

E tem mais: imprimir uma foto exige escolha. É um processo que obriga a desacelerar, olhar para a própria história e decidir o que vale virar memória física. É o oposto da rapidez do digital, e justamente por isso faz sentido agora.

A geração digital não quer voltar no tempo. Ela quer adaptar o que funcionava lá atrás para a realidade de hoje. Em vez do álbum tradicional da família, surgem versões personalizadas, quadros sob medida, coleções temáticas. Gente que imprime uma série específica de viagens. Outros criam um mural com amigos. Tem até quem use quadros fotográficos como parte da estética da casa.

O ponto é: não é só foto. É identidade.

O que isso significa para o e-commerce

Quem trabalha no varejo digital precisa prestar atenção. Esse comportamento está mexendo diretamente com o que o consumidor espera de um produto físico.

Três movimentos ficam claros:

1. Personalização virou padrão

    O impulso de “tirar a memória da nuvem” abre espaço para novos modelos de negócio e para uma vertical que cresce rapidamente: o impresso sob demanda. O consumidor quer produto sob medida, no tamanho, no acabamento, no estilo. Ele quer participar da criação.

    2. Objetos afetivos têm mais valor

      Assim como roupas e acessórios, produtos fotográficos passam a comunicar valores e emoções. São objetos que participam da decoração e representam momentos importantes. Uma foto impressa não é só um item de decoração. É memória. E produtos com carga emocional tendem a gerar recorrência e ticket médio mais alto.

      3. A experiência importa tanto quanto o produto

        Imprimir virou um ritual. Quem imprime uma foto está registrando algo que importa. Isso fortalece a fidelização e aumenta o ticket médio, fatores estratégicos para qualquer operação de e-commerce. E quem entrega uma jornada bem-feita, simples, rápida e bonita sai na frente.

        Muita gente acha que o impresso está desaparecendo. Na prática, está acontecendo o contrário. Ele está ganhando novo significado. A geração que nasceu no digital está descobrindo que o físico tem força, justamente porque tudo virou digital demais.

        O impresso não é um retorno ao passado. É um ajuste de rota.

        É o consumidor dizendo: “minhas memórias merecem mais do que ficar perdidas na nuvem”. E esse movimento, que parecia pequeno, está virando tendência global.

        O digital trouxe escala. O físico devolve a presença. E é nessa interseção que surgem as melhores oportunidades.