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Como a IA está remodelando a recuperação de crédito e modernizando cobranças

Por: Bruno Marinho

Bruno Marinho é Vice-Presidente de Operações em Cobranças da Concentrix Brasil, liderando a área como um dos pilares estratégicos da companhia. Com vasta experiência no setor, é responsável por impulsionar a transformação da operação por meio de inovação, inteligência artificial e estratégias omnichannel que equilibram automação e atendimento humano. À frente de projetos de alto impacto, conduz iniciativas que aumentam a eficiência, preservam a reputação das marcas e elevam a experiência do cliente, posicionando a Concentrix como referência em cobrança humanizada e resultados sustentáveis.

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Cobrança não precisa soar como cobrança no sentido clássico do termo. Cada vez mais, os bastidores do setor se parecem com laboratórios de dados e menos com centrais de ligações em série. O que antes era feito com régua única e pressão, hoje é ajustado com algoritmos, perfis comportamentais e, por que não, com empatia. A inteligência artificial já virou peça-chave dessa virada de chave.

Mulher com headset em escritório analisando hologramas de inteligência artificial com gráficos financeiros.
Imagem gerada por IA.

O envio massivo de mensagens repetitivas, com o mesmo tom e por canais aleatórios, tem se mostrado ineficiente e caro, além de irritar, desgastar e aumentar o custo por recuperação (CAC). Em contraponto, estratégias baseadas em dados vêm reduzindo o tempo médio de recuperação em mais de 10% em grandes operações. Esse é o resultado direto de fluxos adaptativos e segmentados por perfil, canal e comportamento de pagamento.

Com modelos preditivos e algoritmos bem treinados, é possível entender o comportamento de diferentes perfis e prever a propensão ao pagamento, risco de churn e até o melhor canal e momento para abordagem. Em vez de dez tentativas em vão, duas são disparadas com chance real de retorno. Essa inteligência evita desgaste com o consumidor e melhora a performance. Em uma operação no setor de telecomunicações, a taxa de recuperação subiu 6% com menos esforço e maior eficiência. O ganho vem da combinação entre tecnologia e empatia.

Essa transformação já é sentida em larga escala. De acordo com o Gitnux 2025 Debt Collection Report, empresas que adotam IA e automação nos processos de cobrança registram aumento de até 25% nas taxas de recuperação, com redução de até 40% nos custos operacionais. O estudo ainda aponta crescimento de até quatro vezes na produtividade dos agentes em operações assistidas por IA. Os dados confirmam que performance e experiência podem e devem andar juntas.

As abordagens também evoluíram. Em vez de metas agressivas com contatos frios, há investimento no treinamento de agentes para escuta ativa e linguagem ajustada ao perfil do devedor. A pressão cede espaço para compreensão. O cliente deixa de ser apenas um número e passa a ser tratado a partir do seu histórico, contexto e necessidade específica. Esse ajuste no tom da conversa impacta diretamente a taxa de resolução.

Ao mesmo tempo, a inteligência artificial ajuda a delimitar o papel de cada recurso. Processos automatizados funcionam bem para lembretes simples, acordos diretos e comunicações de baixo risco. Já interações mais sensíveis, como objeções complexas ou risco de cancelamento, exigem atendimento humano treinado, preparado para lidar com nuances emocionais e negociar com empatia.

Na operação mencionada no setor de telecomunicações, essa divisão de papéis ficou clara. Para uma mesma faixa de atraso (aging), 56,5% das dívidas foram recuperadas via canal digital, enquanto os agentes humanos responderam por 31%. Em uma carteira mais delicada, voltada para clientes em risco de churn, o cenário se inverteu: 28% de recuperação via atendimento humano contra apenas 7,5% no canal automatizado. A tecnologia é ferramenta, não substituição. A orquestração adequada é o diferencial.

Outro ponto crítico é a integração dos canais. Plataformas omnichannel com sincronização em tempo real garantem que o histórico de interações seja respeitado, independentemente do canal ou agente envolvido. Isso evita repetições, reduz frustrações e assegura uma experiência contínua e sem ruídos, com impacto direto em indicadores como NPS.

No centro da mudança está a virada de chave que transforma cobrança em continuidade da experiência. Já não se trata apenas de recuperar valores, mas de preservar relacionamentos e reputações. Negociações podem abrir espaço para upgrades, fidelização ou reeducação financeira. Quando o diálogo substitui o confronto, a cobrança deixa de ser o fim da jornada e passa a ser parte de uma experiência mais humana e estratégica.

A inteligência artificial está, sim, revolucionando o setor de cobranças. Mas o maior impacto não está apenas na tecnologia em si. Está no que ela permite construir: uma cobrança mais personalizada, eficiente e respeitosa. E isso, no fim do dia, é o que fideliza.