Logo E-Commerce Brasil

Como a centralização nos grandes bancos virou o grande vilão do mercado financeiro

Por: Eduardo Zucareli

Profissional com larga experiência em Gestão Comercial, Gestão de empreendimentos generalistas, Gestão de Mix de Lojistas, Mercado Varejista nacional e internacional. Participação no desenvolvimento de projetos comerciais voltados para empresas multinacionais ou nacionais, startups, empreendimentos de shopping center ou em concessionárias de aeroportos.

A centralização do poder nos grandes bancos e na indústria do cartão de crédito parece, por fora, uma boa solução para o consumidor. Porém, historicamente, o que tem acontecido é justamente o contrário: clientes pressionados com opções de parcelamento com juros altíssimos e baixa acessibilidade – altas taxas de exclusão na aprovação de emissão de cartão de crédito. Por exemplo, 38% da população brasileira não têm acesso ao cartão de crédito. Essa falta de opções, por muitos anos, abriu espaço para que os incumbentes se sentissem confortáveis em cobrar até 411% a.a. de juros no rotativo.

Reavaliar as opções, manter parcelamentos sem juros e democratizar o acesso a formas de pagamento permitem que o consumidor preserve seu poder de compra, evitando endividamento excessivo.

Recentemente, o Bacen abriu a discussão sobre uma mudança no parcelamento de compras sem juros, o que gerou uma discussão que incluiu (e impacta) atores como varejistas, bancos e fintechs. O tema central dessa conversa promovida pelo Bacen não é ter ou não parcelamento sem juros, mas sim como fomentar o surgimento e o desenvolvimento de iniciativas que garantam condições melhores e mais justas tanto para consumidores quanto para varejistas.

Contexto

Primeiramente, é importante desenhar um pano de fundo e levar em consideração que a forma como o parcelamento foi criado e é feito até hoje tem consequências que trazem juros altos e exclui uma parte da população. Há, atualmente, um emaranhado complexo de interesses conflitantes entre (1) consumidor, (2) emissor do cartão de crédito, (3) credenciador e (4) varejista.

O consumidor quer acesso ao crédito. O emissor do cartão quer lucrar com o crédito, no menor risco possível, e o credenciador quer remuneração pela utilização de sua estrutura. O varejista, que, antes da indústria do cartão de crédito, assumia todo o risco, trocou isso pela certeza do recebimento em troca do pagamento de uma taxa. Com o cenário econômico desfavorável, o consumidor não tem hoje muita escolha, a não ser concordar com os indecentes juros do rotativo (quando o cliente não paga sua fatura em dia), ou então parcelar suas compras com juros. Por outro lado, se o varejo não oferece o parcelamento, vende menos. Tudo isso se torna uma bola de neve.

Parcelamento democrático

O que o mercado precisa é de empresas que desafiam esse status quo, que não concordam com juros estratosféricos e que acreditam que o parcelamento é vital para o varejo e para a população brasileira, mas que precisa ser aplicado de forma democrática. Esse tipo de aplicação – que apoia aplicações de novos modelos de pagamento capazes de melhorar as condições para os consumidores e varejistas – funciona porque não visa apenas ao lucro, mas pensa no mercado e na estrutura do varejo e em como ele precisa evoluir para que todas as partes envolvidas na jornada de compra sejam supridas – tanto o consumidor quanto o varejista. A questão não é acabar com uma forma de pagamentos, mas entender como evoluí-la.

É importante pontuar que proibir o parcelamento sem juros seria também punir o bom pagador, reduzindo assim o acesso de milhares de brasileiros que não podem realizar compras à vista – de acordo com o Banco Central, 40% das vendas do varejo são feitas no cartão de crédito, e 79% das compras no cartão são parceladas. O que deveria ser colocado em discussão não é se deveria ter ou não um parcelamento sem juros, mas sim a importância de não aplicar juros abusivos por parte dos operadores. A agenda evolutiva do Pix pode ser apontada como solução desse emaranhado complexo.

O lançamento do Pix Automático, previsto para abril de 2024, e o início do debate organizado a respeito da concessão de crédito via Pix são cruciais para essa evolução e democratização do poder de compra. Há uma tendência mundial de BNPL, que também está crescendo bastante no Brasil através do Pix Parcelado liderado por fintechs. Sem dúvida alguma, é a solução mais justa para o consumidor, mais segura para o lojista e mais eficiente para o mercado. Dessa forma, tanto o varejista quanto o consumidor conseguem ter acesso a uma forma eficiente e equilibrada de parcelamento, sem o efeito indesejado do superendividamento dos consumidores.

É possível repensar as coisas, manter modalidades de parcelamento sem juros e democratizar o acesso ao parcelamento e pagamentos, possibilitando que o consumidor mantenha seu poder de compra sem entrar em uma bola de neve.