Logo E-Commerce Brasil

Apple, Beats e um novo estado de confusão mental

No final de Maio de 2014, a Apple comprou a Beats. Se você não sabe do que se trata, basta acessar o Huffington Post. Em poucas palavras, trata-se da aquisição de um sistema de streaming de música, para concorrer com o Google e a Spotify nesse tipo de negócio. Mas o que a psicologia tem a ver com streaming de música?

A Beats, a Spotify e a Netflix são máquinas do entretenimento e das artes. Sozinha, a Netflix consome em torno de um terço de todo o tráfego que ocorre na internet. Elas existem porque a internet permitiu que nós publicássemos tudo, todos falássemos de tudo, a qualquer momento. As empresas aprenderam, em sua marcha lenta, a capitalizar o movimento virtual dos indivíduos. Mas hoje, a Netflix e a Beats expressam uma mudança fundamental: a internet tem feito com que nós não mais possuamos as coisas, em vez disso apenas acessando-as. 

Essa transformação de base do capitalismo terá um impacto psíquico tremendo em todos nós, que há séculos temos aprendido como seres humanos de que a propriedade privada é o meio de construção de um patrimônio valoroso que merece ser buscado, conquistado e comemorado. Em 2013, pela primeira vez, como se lê nos artigos, as pessoas fizeram menos download e mais streaming de música no mundo. Ou seja: as pessoas obtiveram menos, mas acessaram mais. Estamos desistindo de possuir em favor de adquirir o direito de acesso. Como será que tudo isso vai ficar na sua cabeça?

Você sempre aprendeu que deveria obter coisas. Mais que isso: uma vez obtidas, eram suas. Você poderia advogar em favor da sua propriedade, defendê-la e usá-la do modo como bem entendesse. A partir de agora, estamos forjando um novo acordo social que deve, aos poucos, ultrapassar a barreira da música e dos filmes: acessamos as coisas, não as temos. Não temos custo de manutenção, não cuidamos daquilo que envelhece, não precisamos correr para obter algo novo. Ao pagar por um serviço de acesso ao conteúdo, você tem tudo a qualquer momento para ver, experimentar, curtir; mas nada é seu.

Você acha que isso é uma tendência restrita à música? Mas veja: na Amazon, já se alugam livros. Em Paris, os indivíduos alugam carros para andar pela cidade. Aliás, você já pegou uma daquelas bicicletas que estão espalhando em São Paulo e teve que devolver depois? Esse parece ser o futuro das coisas. Não conseguimos saber agora as consequências de transformarmos radicalmente a nossa relação com o mundo das coisas, mas é inegável que haverá um tremendo terremoto psíquico aí, sendo ele sentido consciente ou inconscientemente. Essa é uma inovação de impacto psicológico que ainda teremos que compreender. Mas seria bastante recomendável que nós não a ignorássemos.