Não seria próprio chamar esse post de inovação psíquica. Divagação de um autor (se me permitem a pretensão) talvez seja mais apropriado. Ultimamente, tenho me dedicado a desbravar a questão originária que levou esse blog a existir: o que acontece na cabeça da gente quando falamos e tentamos inovar? Essa nova onda das empresas e da sociedade, impulsionada pela necessidade de se construir alternativas sustentáveis e em escala para problemas tão básicos como acesso à água e saneamento ou para a complexidade do transporte público em megalópoles.
A inovação, a meu ver, se distingue da mudança imposta. Em meio a crises e situações insustentáveis, resta-nos a mudança como única alternativa de sobrevivermos. Lutamos contra, resistimos, mas mudamos para continuar. A inovação é um ato original. Ela é alegre e ingênua em sua essência. É algo propositiva, buscando trazer à luz um modo de ver e viver as coisas que ainda não foi experimentado. Inovar é assumir o novo apenas pelo desejo, sem que a necessidade tenha se imposto sobre nós.
Daí chegamos ao problema do desejo. Preciso deixar claro: considero o ser humano um ser desejante, independentemente do nosso sistema sócio-histórico-cultural. Nós desejamos e o sistema que criamos transformou em uma linha de produção e consumo a ordenação de nossos desejos. Temos aí um grande problema da inovação: guiada pelo desejo, nem sempre ela atende às demandas do sistema de consumo.
Inovações são sempre sustentadas por emoções e valores. Tudo o que compõe o homem de forma fundamental. Você precisa ter muita clareza de propósito e força emocional para sustentar seu ímpeto inovador porque, em geral, o sistema é conservador e não o estimulará a inovar. A quem estamos enganando? Nós também somos conservadores e não vamos estimulá-lo a inovar.
Inove mesmo assim. Assuma a rebeldia contida na inovação. Saiba que, dificlmente, grandes companhias terão a capacidade de fazê-lo. E assim que o fazem, envelhecem, perdendo a capacidade de fazer da inovação um ato contínuo. E por que a inovação deveria ser contínua? Guiada pelo desejo, ela também é cheia de contradições.
Vemos hoje uma tentativa desesperada da cultura em assimilar a inovação. É como tentar guardar a liberdade humana em potes herméticos de maionese. Você não vai conseguir. Mas podemos fazer outra coisa, o que é completamente aterrador: criar seres humanos em direção à própria liberdade, para que se encontrem e, ao se depararem com seu espelho, possam resgatar ali aquela inovação que sempre esteve latente. Porque inovar é isso: revelar em si, no outro e no mundo tudo o que é ou já foi, mas ainda precisará ser.
Se nós queremos de fato inovar, precisamos criar um mundo em que as pessoas possam se reencontrar com a própria liberdade. Isso implicará autoconhecimento, práticas de sustentabilidade social e ecológica e respeito aos valores que exploremos e reconheçamos como legítimos. Impossível, né? Bom, essa é a base da inovação. Quem inova, sempre começa pelo impossível.